Estamos nos aproximando do último mês de 2024, prontos para iniciar um novo ano litúrgico, que começa com o tempo do Advento. É “um tempo de piedosa e alegre expectativa” (Normas sobre o Ano Litúrgico e o Calendário – NALC, n.39), tempo de uma grande riqueza e que nos prepara tanto para a vigilância em relação à segunda vinda de Cristo quanto para a celebração de sua primeira vinda, o Seu Natal, o mistério da Encarnação do Verbo!
Da mesma maneira que fazemos um itinerário espiritual na Quaresma, em preparação para a Páscoa, podemos igualmente aproveitar bem aquilo que a Igreja, na Liturgia da Palavra, propõe à nossa reflexão e meditação nestes dias do Advento.
Nos dias atuais, marcados por notícias de guerras e violência, e, ainda, por tanto sofrimento e dor em tantos irmãos à nossa volta e pelo mundo inteiro, o tempo do Advento vem reacender em nós a esperança! Uma esperança alicerçada em bases sólidas, antes, em uma rocha sólida e inabalável que é Cristo! A sua vinda entre nós abriu-nos à esperança: “Manifestou-se, com efeito, a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens” (Tt 2,11). Essa é a tônica do Advento e do Natal. E em preparação para a celebração da Encarnação, que neste ano se reveste de um caráter especial por ocasião do Jubileu dos 2025 anos da vinda do Senhor ao nosso encontro, devemos procurar vivenciar bem este tempo litúrgico tão rico.
Normalmente, no fim do ano, o mundo empresarial e muitas instituições fazem seus balanços, procurando ver o que de positivo se colheu e o que precisa ser incentivado, e o que de negativo se deu e que precisa ser corrigido em vista dos objetivos que se deseja alcançar. Do mesmo modo, podemos, a partir do que a Liturgia nos propõe neste tempo do Advento, fazer um balanço da nossa caminhada de discípulos missionários de Jesus Cristo, pedindo a graça de detectarmos o que foi bom e contribuiu para nosso crescimento na fé e na comunhão com Deus e com os irmãos, e o que ainda precisa de conversão em nossas vidas e na vida de nossas comunidades.
São quatro os domingos do Advento: os dois primeiros marcados pela chamada à vigilância em relação à segunda vinda de Cristo, e os dois últimos chamando nossa atenção para prepararmos nosso coração para fazer memória e celebrarmos a Sua primeira vinda, na carne, isto é, o Natal. No que diz respeito à liturgia da Palavra, no nosso Lecionário, estamos no Ano C, ano em que o Evangelho é o de São Lucas. Já no Domingo de Cristo Rei se aborda o tema do juízo universal, da segunda vinda do Senhor, assim como se fará também, por outra perspectiva, no primeiro Domingo do Advento.
Embora falemos de duas vindas de Jesus, os Padres da Igreja Antiga falavam de três: a primeira, na carne, a segunda, no fim dos tempos e uma vinda intermediária, no coração dos que O acolhem em todas as épocas da História. No final de cada ano litúrgico e no início do novo, se evoca a vinda permanente de Jesus, ao mesmo tempo em que se recorda a importância da vigilância diante Dele, pois Ele já está no meio de nós: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (cf. Mt 28,20).
Voltando à temática do Advento, no primeiro domingo deste ano se destaca a importância da vigilância, pois trata da última vinda de Jesus para levar o Reino à sua plenitude: “Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36). Diante disso, podemos nos questionar: Como estamos vivendo a vigilância contra o mal, o pecado e a injustiça? Como estamos cultivando o bem, o amor a Deus e ao próximo? Como estamos procurando manter acesa a chama da fé, da esperança e da caridade em nossa vida e na vida de nossa comunidade?
O segundo domingo nos faz contemplar o Precursor, João Batista, aquele que veio preparar os caminhos do Senhor: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’” (Lc 3,4). E podemos nos perguntar: Como estamos preparando o caminho do Senhor em nossa vida? E na vida dos que nos rodeiam? Temos dado bom testemunho de nossa fé?
O terceiro domingo, por sua vez, trata da Conversão pregada por João Batista, necessária para entrar no Reino e acolher com alegria o novo que vem: “As multidões perguntavam a João: ‘Que devemos fazer?’ João respondia: ‘Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!’” (Lc 3,10-11). O Senhor está próximo, e a nossa expectativa do Natal deve ser marcada pela fé que opera pela caridade, pois a bondade dos discípulos deve ser conhecida (cf. Fl 4,5). Temos colocado em prática o amor que Jesus nos ensinou: incondicional, sem fazer acepção de pessoas, na alegria de nos doar?
O quarto domingo aborda a visita de Maria a Isabel e mostra que o Salvador já está entre nós: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45). Maria levou Cristo no seu ventre e no seu coração, e o apresentou ao mundo. Aliás, continua a apresentá-Lo ao mundo para que Nele creiam. Ela, a bem-aventurada porque acreditou, é modelo de fé e de esperança no Deus que “derruba do trono os poderosos e eleva os humildes, sacia de bens os famintos” (cf. Lc 1,52-53), o Deus que socorre seu povo. Cremos verdadeiramente no triunfo da vida sobre a morte, da luz sobre as trevas e da graça sobre o pecado? Se cremos, então, mesmo sofrendo, não podemos desanimar. Nossa Senhora foi fiel até o fim, mesmo em meio aos sofrimentos e nunca deixou de crer no Deus que faz maravilhas por seu povo. Que ela nos ajude a sermos firmes na fé e a nos deixar conduzir pela esperança que nunca decepciona. Nos ajude a levar Cristo e seu Evangelho a todos para podermos celebrar este Natal e o Jubileu que se aproxima com a alegria de sermos portadores da boa semente para o mundo.