Uma catedral à altura da grandiosidade da metrópole

Em 2024, a Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção completa 70 anos de inauguração. O SÃO PAULO apresenta a história do templo, seus detalhes estéticos e sua vitalidade pastoral

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Na quinta-feira, 5, comemoram-se os 70 anos de dedicação da Catedral da Sé, a igreja-mãe da Arquidiocese de São Paulo e patrimônio histórico dos paulistas.   

A palavra ‘Sé’ significa “sede”, do latim sedis episcopalis (sede episcopal), ou seja, a igreja catedral de uma diocese. Na catedral está a cátedra, o assento episcopal, de onde o bispo ou arcebispo preside aquela Igreja particular, simbolizando, portanto, o lugar central do pastoreio de toda uma diocese. Por essa razão, catedral é igreja-mãe de uma diocese. 

A “Velha Sé” por Miguel Arcanjo Benício de Assunção Dutra (Miguelzinho Dutra)

A história da Catedral de São Paulo começa em 1589, quando foi decidido que deveria ser construída uma igreja matriz na pequena vila de São Paulo de Piratininga. O cacique Tibiriçá, figura histórica do início da cidade, determinou o terreno onde seria edificado o templo, próximo de onde está a atual Sé, construído em taipa de pilão e concluído em 1616.

São Paulo pertencia à então Diocese do Rio de Janeiro até 1745, quando o Papa Bento XIV, a elevou à sede de Bispado. Consequentemente, a antiga matriz foi elevada à dignidade de catedral e, no mesmo ato, criou-se o Cabido Metropolitano, colégio de sacerdotes, os cônegos, ao qual compete o zelo pela liturgia da catedral. Porém, via-se a necessidade da construção de uma nova catedral, visto que a antiga estava bastante deteriorada. Então, a antiga matriz foi demolida e substituída por uma nova, construída em estilo barroco e concluída em 1764. 

NOVA SÉ 

No século XIX, começaram as discussões sobre construção de uma nova catedral, que correspondesse o crescimento de São Paulo. No final do Império e início da República, a cidade passava pelo desenvolvimento econômico resultante das exportações do café.

Em 1882, foi proposto que a nova Sé fosse construída na Praça dos Curros, atual Praça da República. Seis anos depois, constituiu-se uma comissão responsável pela construção, sendo seu Presidente o Senador Antônio Prado. Os recursos iniciais da obra teriam origem em uma Loteria Provincial, prática comum no Governo Imperial. Porém, as turbulências políticas do período impediram que o projeto da nova catedral se concretizasse. Com o regime republicano, foi decretada a separação da Igreja e do Estado, acentuando-se um sentimento anticlerical e, por isso, os recursos arrecadados pela Loteria Pró-Catedral foram destinados à construção de uma nova Escola Normal, no local definido para a catedral.

Os planos de uma nova Catedral retornariam com maior intensidade com Dom Duarte Leopoldo e Silva, que tomou posse na Diocese de São Paulo em abril de 1907 e, no ano seguinte, tornou-se o primeiro Arcebispo de São Paulo, com a elevação da então diocese em sede metropolitana. Uma de suas primeiras decisões foi indicar um novo local para construção, com demolição da antiga Sé. Para obtenção dos recursos financeiros, o Arcebispo mobilizou as nobres famílias da cidade, organizando uma Comissão Executiva presidida pelo Conde de Prates. Após longa negociação, os recursos originados pela Loteria Pró-Catedral foram repassados pelo governo e utilizados no início das obras. 

“Se os templos se edificam mais para os homens do que para Deus, que, colocado no santuário da sua inesgotável riqueza, nada reclama da nossa abundância, nós, católicos e paulistas, queremos uma catedral que seja uma escola de arte e um estímulo a pensamentos mais nobres e mais elevados, queremos uma catedral opulenta, que, testemunhando a fartura dos nossos recursos materiais, seja também um hino de ação de graças a Deus Nosso Senhor”, afirmou o então Arcebispo, ao criar a Comissão Executiva.

CONSTRUÇÃO 

Após a morte de Dom Duarte, em 1938, seu sucessor, Dom José Gaspar de Affonseca e Silva, prosseguiu a construção e criou obras de fundos para continuar o ambicioso projeto até 1943, quando um trágico acidente aéreo tirou-lhe a vida. A continuidade do projeto coube ao terceiro Arcebispo de São Paulo, Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta.

A princípio, a inauguração da nova catedral estava prevista para 1922, durante a comemoração do centenário da Independência do Brasil. Porém, devido à falta de verbas e a ocorrência das duas grandes guerras mundiais, que atrapalharam as importações dos materiais de construção, a Catedral foi inaugurada, ainda que parcialmente concluída, em 25 de janeiro de 1954, na comemoração do IV centenário da capital paulista.

No entanto, a Catedral da Sé foi dedicada somente em 5 de setembro daquele ano. O rito solene de dedicação foi presidido por Dom Adeodato Giovanni Piazza, enviado pontifício para o I Congresso Nacional da Padroeira do Brasil, realizado entre São Paulo e Aparecida, evento que também marcou o centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição (1854).

A padroeira da Catedral é Nossa Senhora da Assunção, em referência ao outro dogma mariano proclamado pouco antes de sua inauguração, em 1950, que afirma que, após terminar o curso terreno de sua vida, a Virgem Maria foi assunta, isto é, levada de corpo e alma à glória celeste.

RESTAURO

No final do século XX, esse grande símbolo da arquitetura religiosa de São Paulo já apresentava indícios de comprometimento estrutural. Uma grande intervenção em seu entorno para a construção da estação Sé do Metrô, inaugurada em 1978, praticamente sob suas fundações, o crescente fluxo de veículos ao seu redor e o tipo de solo daquela região provocaram, direta ou indiretamente, interferências em sua estrutura. 

Em julho de 1999, a Prefeitura de São Paulo constatou a necessidade do fechamento da Catedral por falta de segurança aos seus frequentadores. O templo, então, passou por um restauro completo, no qual também foram concluídos os 14 torreões previstos no projeto original. A reabertura da Catedral da Sé ocorreu no ano de 2002.

PROGRAMAÇÃO CULTURAL 

Para marcar as comemorações dos 70 anos da Catedral da Sé, também estão previstas até dezembro uma série de iniciativas culturais e apresentações musicais gratuitas, em parceria com a Secretaria Estadual da Cultura. A primeira atividade será no Festival Revelando SP, entre os dias 12 e 15, no Parque da Água Branca, onde haverá uma exposição que incluirá objetos que pertenceram à antiga Sé, pertencentes ao acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo. 

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