Saiba como foram os primeiros dias da visita ad limita do episcopado paulista 

Entre os dias 19 e 23, bispos de parte das dioceses paulistas participam de reuniões em organismos da Santa Sé, peregrinação às basílicas romanas e encontro com o Papa Francisco 

Padre Michel dos Santos/Regional Sul 1

Teve início na segunda-feira, 19, e segue até sexta-feira, 23, a visita ad limina Apostolorum dos bispos das dioceses paulistas que compõem as províncias eclesiásticas de São Paulo, Aparecida e Sorocaba. 

Essa visita consiste na peregrinação que os bispos fazem periodicamente “ao limiar dos Apóstolos” – daí vem o nome –, isto é, ao túmulo dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, e para se encontrar com o Sucessor de Pedro, o Papa. 

A peregrinação, organizada pelo Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), começou com uma missa diante do local onde se encontram os restos mortais de São Pedro, no subsolo da Basílica Vaticana. 

A celebração foi presidida pelo Arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, que, na homilia, refletiu sobre a dimensão de doação do ministério episcopal e motivou seus irmãos no episcopado: “Com a fé de Pedro, apascentemos o rebanho, não por coação, mas por convicção!”. 

FÉ APOSTÓLICA 

Na manhã da terça-feira, 20, o grupo celebrou a Eucaristia na Basílica de São João de Latrão, catedral da Diocese de Roma. A missa foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo. A programação ainda conta com missas nas basílicas de Santa Maria Maior, na quinta-feira, 22, e de São Paulo Fora dos Muros, na sexta-feira, 23. 

Em entrevista ao Vatican News, Dom Odilo explicou que as visitas às quatro grandes basílicas romanas são uma ocasião de renovação da fé apostólica e da unidade da Igreja em torno do sucessor de Pedro. 

“A Igreja persevera nos ensinamentos dos Apóstolos, procurando ser fiel ao Evangelho. O Papa é aquele que coloca o selo sobre o ensinamento verdadeiro ao qual todos nós aderimos. Toda a Igreja Católica é chamada a aderir com firmeza à fé apostólica, professada primeiramente pelo Papa, pelos bispos e, é claro, por todos os fiéis na comunhão de fé. Então, é um momento muito significativo em que nós lembramos a nossa missão comum de zeladores da fé”, relatou o Cardeal Scherer. 

DIÁLOGO COM A CÚRIA ROMANA 

Durante a semana, os bispos realizam uma série de visitas aos dicastérios da Cúria Romana nos seus diferentes âmbitos: os leigos, a família e a vida; o desenvolvimento humano integral; o ministério dos bispos, padres e diáconos; a vida consagrada; a doutrina da fé; liturgia; a educação católica; a evangelização e a comunicação. 

Em cada um desses encontros, foi apresentado um relatório sobre os diferentes âmbitos da vida e da ação evangelizadora desse conjunto de dioceses. Também é uma oportunidade de receber orientações e avaliações por parte dos membros dos dicastérios. 

Esse é o primeiro contato dos bispos paulistas com a Cúria Romana após as várias reformas implementadas pela constituição apostólica Praedicate Evangelium. Dom José Negri, Bispo de Santo Amaro, observou que, durante as reuniões, ficou ainda mais evidente a missão dos organismos da Santa Sé na solicitude para com as igrejas particulares. “Em todos os dicastérios, escutamos quase que um refrão: ‘Estamos aqui para ajudar os bispos’. Para nós, isso é um grande consolo e alegria”, manifestou. 

Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André, avaliou positivamente a visita ao Dicastério para a Doutrina da Fé. “Fomos muito bem acolhidos pelo Prefeito, o Cardeal Luís Francisco Ladaria Ferrer, e seus colaboradores, que se mostraram abertos e interessados em nos ouvir. Pudemos esclarecer muitas das dúvidas que apresentamos”, afirmou. 

Sobre a visita ao Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Dom Wilson Luis Angotti Filho, Bispo de Taubaté, enfatizou a oportunidade de compartilhamento das experiências de desafios da vivência litúrgica nas dioceses, com destaque para o cuidado com a formação. “É necessário que nos dediquemos sempre mais à formação, de acordo com o que propõe o Concílio Vaticano II, valorizando a liturgia que temos hoje na Igreja. 

DESENVOLVIMENTO HUMANO 

Na visita ao Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, o relator foi Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar de São Paulo na Região Brasilândia, que considerou as preocupações com relação à realidade da pobreza e do desenvolvimento humano no estado de São Paulo. Entre essas preocupações, destacam-se o crescimento da fome, o agravamento das desigualdades sociais e os impactos da pandemia de COVID-19. Também foram salientadas a preocupação com as crescentes violações de direitos humanos e as ameaças ao meio ambiente. 

O Bispo Auxiliar sublinhou que o permanente ensino atualizado da Doutrina Social da Igreja realizado pelo Papa Francisco reforça elementos centrais da convivência humana em mui- tos espaços da vida da Igreja e da sociedade. “A encíclica Laudato si’ tem sido muito bem recebida nos diferentes âmbitos da sociedade e constitui importante direcionamento da prática eclesial a partir da urgente conversão ecológica integral. A encíclica Fratelli tutti é muito atual e didática, o que contribui para que as ações de caridade social e política sejam mais efetivas no atual contexto”, relatou. 

Os bispos elogiaram as propostas de articulações do Papa Francisco, que geram processos a longo prazo, como a Economia de Francisco e o Pacto Educativo Global. 

VIDA CONSAGRADA 

Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar de São Paulo na Região Ipiranga, foi relator da visita ao Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Ele apresentou a vida religiosa consagrada nas dioceses paulistas, enfatizando que muitas cidades, como a própria capital do estado, nasceram em torno de missões lideradas por religiosos. 

“De modo geral, pode-se dizer que nestas províncias [eclesiásticas] se valoriza, incentiva e sustenta a presença e a missão dos consagrados, com suas comunidades e apostolado. É reconhecida a participação na missão evangelizadora da Igreja, as relações mútuas são fraternas, de cooperação, e, mesmo em situações de conflito, divergências, ou problemáticas que surgem, busca-se o diálogo e as soluções no espírito eclesial. Há uma grande multiplicidade de carismas fundacionais que expressam a riqueza e diversidade de dons concedidos pelo Espírito para o bem da Igreja, a serviço do mundo. O rosto e a missão eclesial nestas províncias são profundamente marcados pela presença da vida consagrada”, destacou Dom Ângelo. 

LEIGOS, FAMÍLIA E VIDA 

Entre os desafios, o relatório apontou a crise vocacional que atinge os diferentes institutos, a necessidade de renovação dos carismas a partir das necessidades evangelizadoras atuais e importância de uma formação contínua dos consagrados. 

Dom João Bosco Barbosa de Sousa, Bispo de Osasco, destacou que, na visita ao Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, abriu-se a perspectiva para estarem em diálogo permanente com esse organismo romano, a fim de aprofundar as reflexões sobre esses temas tão essenciais para a missão da Igreja. 

Nesse sentido, os bispos reforçaram a necessidade de intensificar a formação dos leigos a respeito de sua vocação e missão no mundo, além do acompanhamento das suas diferentes formas de organização e expressão eclesial. 

Quanto aos temas que dizem respeito à família e à vida, Dom João Bosco sublinhou a necessidade de a Igreja sempre se posicionar sobre suas convicções, “mesmo que a sociedade caminhe em outro sentido”. 

ENCONTRO COM O PAPA 

O ponto alto da visita é reservado para a sexta-feira, 23, quando os bispos serão recebidos pelo Papa Francisco, para tratar das questões concernentes à vida das igrejas particulares e solidificar a comunhão dos bispos com o Pontífice, em torno do qual constituem o Colégio Episcopal. 

“Nós estamos muito esperançosos por este momento, que será, certamente, muito espontâneo, em que trataremos com muita liberdade, com muita sinceridade das questões que nos afligem ou que nos alegram, ou para ouvir o que o Papa queira nos dizer ou perguntar”, completou Dom Odilo. 

(Com informações do Regional Sul 1 da CNBB) 

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