Europa, encontre-se! Redescubra seus ideais mais arraigados’

O Papa Francisco, em uma carta ao Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, expressa seu desejo por uma Europa marcada pela fraternidade e solidariedade, amizade e unidade entre as nações

Foto: Vatican Media

Esta semana, o Papa Francisco escreveu ao Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano e representante da Santa Sé em uma cerimônia que destaca o 70º aniversário da Declaração de Schuman, documento que inspirou o processo gradual de reintegração do Velho Continente após as duas guerras mundiais e foi o embrião de criação da União Europeia.

Francisco, em sua carta, destacou que o projeto europeu, nascido da constatação de que “a unidade é maior que o conflito” e a solidariedade pode ser “uma forma de fazer história”, começou a “dar sinais de um certo retrocesso” em nossos dias.

A pandemia de COVID-19 “surgiu como uma espécie de divisor de águas, obrigando-nos a tomar uma posição”, afirmou, pedindo “soluções unilaterais para um problema que transcende as fronteiras do estado”, e redescobrir o caminho da fraternidade que inspirou e guiou os fundadores da Europa moderna.

AS BASES DO DOCUMENTO

“A Declaração Schuman, que lançou as bases da nossa União Europeia, constitui a gênese de um projeto político único e genuíno para garantir a paz e a prosperidade e para melhorar a vida de todos os cidadãos europeus. Há 70 anos, o documento continha a ideia de que ‘a Europa não se fará de uma só vez, nem de acordo com um plano único. Far-se-á por meio de realizações concretas que criarão, antes de tudo, uma solidariedade de fato’”, afirmou o italiano David Sassoli, atual presidente do Parlamento Europeu.

“Jean Monnet, autor da Declaração Schuman, disse que ‘os homens só mudam se se virem obrigados, e apenas reconhecem essa necessidade em tempos de crise’. Cada crise constitui uma oportunidade para dar um passo à frente. Da mesma forma, a atual crise veio acentuar a urgência de a União Europeia começar a trabalhar sobre a forma de se tornar mais eficaz, mais democrática e mais próxima dos cidadãos”, concluiu.

MENÇÃO DIRETA

Preocupado com os rumos que o Velho Continente pode tomar daqui em diante, o Papa Francisco afirmou: “À Europa, então, eu gostaria de dizer: você, que durante séculos foi uma sementeira de grandes ideais e agora parece estar perdendo seu entusiasmo, não se contente em considerar seu passado como um álbum de memórias. Até mesmo as mais belas lembranças se apagam e são gradualmente esquecidas”.

“Sem ideais, encontramo-nos fracos e divididos, mais propensos a reclamar e a ser atraídos por quem faz da reclamação e da divisão um estilo de vida pessoal, social e político”, alertou.

“Europa, encontre-se! Redescubra seus ideais mais arraigados. Seja você mesma!” disse o Papa Francisco.

O QUE ESPERAR DO FUTURO

Refletindo sobre o que imagina para o continente no futuro, o Bispo de Roma disse: “Sonho, então, com uma Europa amiga de todos. Uma terra que respeita a dignidade de todos, onde cada pessoa é valorizada pelo seu valor intrínseco e não é vista apenas do ponto de vista econômico ou de mero consumidor“.

[…]

“Sonho com uma Europa que seja uma família e uma comunidade. Um lugar que respeita as particularidades de cada indivíduo e de cada povo, sempre atento para que estejam unidos por responsabilidades compartilhadas. Ser família implica viver em união, valorizando as diferenças, a começar pela diferença fundamental entre homem e mulher”.

[…]

“Sonho com uma Europa inclusiva e generosa. Um lugar acolhedor e hospitaleiro onde a caridade, a mais alta virtude cristã, supera toda forma de indiferença e egoísmo. A solidariedade, como elemento essencial de toda comunidade autêntica, exige que cuidemos uns dos outros. Com certeza, estamos falando de uma ‘solidariedade inteligente que faz mais do que meramente atender às necessidades básicas à medida que vão surgindo”.

[…]

“Sonho com uma Europa marcada por um secularismo saudável, onde Deus e César sejam distintos, mas não opostos. Uma terra aberta à transcendência, onde os fiéis são livres para professar a sua fé em público e expor o seu ponto de vista na sociedade”, concluiu.

Fontes: La Croix International e Parlamento Europeu

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