Papa a jovens do Líbano: ‘Vocês são o presente e, nas suas mãos, já está se construindo o futuro!’

Acolhido pelo Patriarca de Antioquia dos Maronitas, o Cardeal Béchara Boutros Raï, na Praça em frente à sede episcopal do patriarcado da Igreja Maronita do Líbano, em Bkerké, na região nordeste de Beirute, o Papa Leão XIV participou de um encontro com os jovens do país, na noite da segunda-feira, dia 1º.

Fotos: Vatican Media

O Cardeal deu as boas-vindas ao Pontífice ao seu país, “pequeno por superfície, mas grande pela sua missão, uma terra santa onde Deus quis que se encontrassem Oriente e Ocidente”, além de culturas, confissões religiosas e civilizações. Um país que dá as boas-vindas “não com o esplendor dos edifícios, mas com a ternura das suas feridas” e por meio de uma juventude que deseja construir um novo Líbano, “que abrace as diferentes identidades religiosas e culturais e as fecunde em um espírito de fraternidade e concórdia. Querem construir um novo Líbano, onde a fé seja uma força operante e o pluralismo se torne uma riqueza, onde a paz triunfe sobre o medo”.

Na praça, milhares de jovens se reuniram para ouvir do “Papa da paz” uma palavra de “esperança neste momento difícil em que atravessam”, continuou o Patriarca, também agradecendo pela presença de Leão XIV que, ao invés de olhar para os libaneses com dor, o fez com “confiança”, na promessa “de um renascimento muito esperado”.

Após o Cardeal Béchara e uma apresentação cênica em formato 5D, o Pontífice ouviu quatro testemunhos de voluntários e jovens, além de duas perguntas direcionada ao Papa.

O PAPA DA PAZ

“Assalamu lakum. Queridos jovens do Líbano, a paz esteja com vocês! Assalamu lakum!’ (A paz esteja convosco!)”, começou o Papa em discurso com a saudação de Jesus ressuscitado (cf. Jo 20, 19) para sustentar a alegria do encontro, que também “manifesta a amorosa proximidade de Deus”. Depois de agradecer a todos pela acolhida, em modo especial “os jovens vindos da Síria e do Iraque, e os libaneses que regressaram à sua pátria vindos de vários países”, Leão XIV comentou da importância do dom da escuta, uns dos outros, a começar pelo testemunho de Anthony e Maria, Elie e Joelle, histórias que “falam de coragem e sofrimento, de esperança na desilusão, de paz interior na guerra”.

Na dedicação de Anthony e Maria para com os necessitados, na perseverança de Elie e a generosidade de Joelle, disse o Papa, podemos “reconhecer as nossas próprias experiências, para o bem e para o mal. A história do Líbano é feita de páginas gloriosas, mas também está marcada por feridas profundas, que demoram a cicatrizar. Estas feridas têm causas que ultrapassam as fronteiras nacionais e estão interligadas com dinâmicas sociais e políticas muito complexas”:

“Queridos jovens, talvez vocês lamentem ter herdado um mundo dilacerado por guerras e desfigurado por injustiças sociais. Não obstante, há esperança e ela está dentro de vocês! Vocês têm um dom que muitas vezes nós, adultos, parecemos ter perdido. Vocês têm esperança! Vocês têm tempo! Vocês têm mais tempo para sonhar, planejar e fazer o bem. Vocês são o presente e, nas suas mãos, já está se construindo o futuro! Vocês têm o entusiasmo para mudar o curso da história! A verdadeira resistência ao mal não é o mal, mas o amor, o amor capaz de curar as próprias feridas, enquanto se curam as dos outros”, insistiu o Papa.

PERSEVERAR NA PAZ É PERSEVERAR EM CRISTO

Leão XIV complementou: “Queridos jovens, vivam à luz do Evangelho e serão bem-aventurados aos olhos do Senhor!”, com a pátria de vocês que “há de florescer novamente bela e vigorosa”.

Leão XIV deu alguns direcionamentos a tal propósito, respondendo às perguntas dos jovens. Para quem questionou “onde encontrar o ponto de apoio para perseverar no compromisso pela paz”, o Pontífice falou “do perdão, que vem da justiça, que é o fundamento da paz” e não de interesses partidários:

“Caríssimos, esse ponto de apoio não pode ser uma ideia, um contrato ou um princípio moral. O verdadeiro princípio de vida nova é a esperança que vem do alto: é Cristo! Ele morreu e ressuscitou para a salvação de todos. Ele é Aquele que vive, o fundamento da nossa confiança.”

Ao responder à segunda pergunta, sobre como preservar as relações de amizade ou amorosa na dinâmica do mundo atual e de relações pessoais que “parecem frágeis e se consomem como se fossem objetos”, o Papa alertou para o sentimento egoísta do interesse individual em detrimento à dedicação ao outro:

“A amizade é verdadeira quando diz ‘tu’ antes do ‘eu’. Este olhar respeitoso e acolhedor para com o outro nos permite construir um ‘nós’ maior, aberto a toda a sociedade, a toda a humanidade. E o amor é autêntico e pode durar para sempre apenas quando reflete o esplendor eterno de Deus, que é amor. Relacionamentos sólidos e fecundos constroem-se juntos, com base na confiança mútua, neste ‘para sempre’ que palpita em cada vocação à vida familiar ou consagração religiosa.”

A CARIDADE E O OLHAR APENAS PARA DEUS

O Papa, então, ao orientar os jovens a construir um mundo melhor do que foi encontrado, com a força recebida de Cristo, afirmou: “Queridos jovens, o que é que mais do que tudo revela a presença de Deus no mundo? O amor, a caridade! A caridade fala uma linguagem universal, porque fala a cada coração humano”.

E fazer isso por meio de gestos quotidianos, acrescentou Leão XIV, como fizeram muitos santos libaneses, como Santa Rafqa e o Beato Tiago de Ghazir Haddad, pelo “acolhimento do próximo e do distante, da mão estendida ao amigo e ao refugiado, do difícil, mas necessário perdão ao inimigo”: “que luz poderosa emana da penumbra em que São Charbel decidiu retirar-se, tornando-se um dos símbolos do Líbano no mundo”, disse ainda o Papa, encorajando os jovens a compreender a mensagem dos olhos do santo retratados sempre fechados, “fechados para ver melhor Deus”:

“Queridos jovens, que também nos seus olhos brilhe a luz divina e floresça o incenso da oração. Em um mundo de distrações e vaidades, reservem todos os dias um tempo para fechar os olhos e olhar apenas para Deus. Ele, se por vezes parece estar silencioso ou ausente, revela-se àqueles que o procuram no silêncio. Enquanto vocês se empenham em fazer o bem, peço que sejam contemplativos como São Charbel: rezando, lendo a Sagrada Escritura, participando na Santa Missa, permanecendo em adoração.”

Ao final do discurso, Leão XIV também falou da importância de se “olhar para Jesus com os olhos do coração de Maria”, levando consigo o Rosário no bolso, no pulso ou no pescoço: “como é doce erguer o olhar para Nossa Senhora do Líbano, com esperança e confiança!”. E, por meio da Oração de São Francisco, exortou os jovens a continuar perseverando em Cristo para manter viva a alegria do Evangelho, porque “quando o Senhor habita em nós, a esperança que Ele nos dá torna-se profícua para o mundo”.

O Papa confirmou o apoio de toda a Igreja nos desafios cruciais da vida dos jovens e na história do Líbano e confiou a proteção da Mãe de Deus e Nossa Senhora a toda a nação para fazer “florescer o mundo de esperança!”.

“Obrigado a todos! Shukran.” E ainda na praça em frente à sede do Patriarcado de Antioquia dos Maronitas, antes do encerramento do encontro, o Papa conduziu o Rito “Promessa de paz e ação dos jovens”.

Fonte: Vatican News

Deixe um comentário