No que talvez tenha sido seu pronunciamento mais forte até aqui sobre a situação dos católicos na Nicarágua, perseguidos pela ditadura de Daniel Ortega e Camila Murillo, o Papa Francisco afirmou que se sente “adolorado”. Após a oração do Angelus do domingo, 12, ele disse que acompanha a Nicarágua com a oração.
“Rezo por todos os que sofrem naquela cara nação e peço a oração de todos”, disse. “Peçamos ao Senhor, pela intercessão da Imaculada Virgem Maria, que abra os corações dos responsáveis políticos e de todos os cidadãos à sincera busca da paz, que nasce da verdade, da justiça, da liberdade e do amor, e se alcança por meio do exercício paciente do diálogo”, prosseguiu.
Francisco vinha evitando pronunciamentos públicos sobre a situação da Nicarágua – possivelmente para que não houvesse uma piora da perseguição contra os católicos –, mas há anos faz gestos de apoio aos bispos do país e usa os canais diplomáticos, quando possível.
O fato que lhe fez romper o silêncio foi a condenação, em um tribunal político, de Dom Rolando Álvarez Lagos, de 56 anos. A decisão da justiça nicaraguense, que praticamente não lhe deu direito de defesa, o considerou um “traidor da pátria” e o condenou a 26 anos de prisão.
Dom Rolando Álvarez, Bispo de Matagalpa, se recusou a deixar o país em exílio nos Estados Unidos, algo que foi oferecido a outros 222 prisioneiros. Ele também perdeu sua cidadania nicaraguense. O Papa Francisco se referiu ao Prelado como “um bispo que amo muito”, e disse que seria impossível não recordá-lo. Dom Rolando Álvarez havia sido preso em agosto de 2022 (foto acima), acusado de “notícias falsas” e “conspiração”.
Bispos de todo o mundo, inclusive do Brasil, manifestaram sua solidariedade a Dom Rolando Álvarez.
CONTEXTO
A relação entre a Igreja e o governo da Nicarágua piorou em 2018, quando uma onda de protestos contra a dita- dura de Ortega foi reprimida violentamente pelo governo. Manifestantes se abrigaram em igrejas e muitos bispos e sacerdotes do país se posicionaram em defesa dos direitos humanos.
Alguns deles, como é o caso de Dom Rolando Álvarez, passaram a criticar o governo por perseguições contra os cristãos e limites à liberdade religiosa. O regime expulsou até mesmo as Irmãs da Caridade, congregação fundada por Santa Teresa de Calcutá. Padres e seminaristas também vêm sendo presos ou silenciados. Templos, inclusive a catedral de Manágua, foram vandalizados diversas vezes.
Em 2019, a pedido do Papa, outro Bispo se exilou no Vaticano, Dom Silvio Báez, Auxiliar de Manágua, que vinha sendo ameaçado pelo regime. Ele hoje está em Miami, nos Estados Unidos. Em 2022, a ditadura Ortega-Murillo expulsou o Núncio Apostólico, encerrando as relações diplomáticas com a Santa Sé.
O presidente Daniel Ortega, de 77 anos, governa a Nicarágua desde 2007, mas esteve no poder em 1990, quando foi um dos líderes guerrilheiros de uma revolução sandinista, de esquerda. Embora, a rigor, o país seja uma democracia, as eleições não são limpas. Em 2021, ele venceu seu quinto mandato após prender e perseguir concorrentes. Sua esposa, Rosario Murillo, é sua atual vice-presidente e praticamente governa com ele, em um plano de sucessão.
Críticos internacionais dizem que Ortega se tornou o mesmo tipo de líder autoritário que, nos anos 1990, combatia.
Papa comenta recente visita ao continente africano
O Papa Francisco recordou, no dia 8, a sua recente viagem apostólica à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, no continente africano.
O Pontífice disse que realizou “dois sonhos”. Nas palavras do Papa, “o Congo é como um diamante, pela sua natureza, pelos seus recursos e sobretudo pelo seu povo; mas este diamante se tornou motivo de disputa, de violências e, paradoxalmente, de empobrecimento do povo”, disse.
“Trata-se de uma dinâmica que se encontra também em outras regiões africanas, e que é válida para aquele continente em geral: um continente colonizado, explorado e saqueado.”
No caso do Sudão do Sul, o Santo Padre destacou o aspecto ecumênico da visita, já que viajou com o Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, principal líder religioso da Igreja Anglicana, e com o Moderador da Igreja Escocesa, de tradição Presbiteriana, o Reverendo Iain Greenshields.
Dor pela Turquia e pela Síria após terremoto
O Papa Francisco expressou sua dor e pediu orações também pela Turquia e pela Síria, após o terremoto que arrasou grandes áreas dos dois países, deixando milhares de mortos. No domingo, 12, ele disse que “continua próximo, com o apoio concreto e com a oração” às populações desses países.
Ele chamou a situação de “catástrofe”. O Santo Padre também exortou a todos que não esqueçam da “martirizada Ucrânia”, cuja guerra contra a invasão da Rússia continua. “Que o Senhor abra caminhos de paz e dê aos responsáveis a coragem de percorrê-los”, declarou.