A parceria escola-família é indispensável para a boa formação dos estudantes

Assunto esteve em destaque em seminário organizado pela Pastoral da Educação e Ensino Religioso do Regional Sul 1 da CNBB e o Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade da Arquidiocese de São Paulo, com especial enfoque para a missão da escola católica

Arte a partir da divulgação do evento

Dever e direito insubstituíveis dos pais, o processo educativo das novas gerações envolve o bom relacionamento das famílias com as instituições de ensino. “Os pais necessitam também da escola para assegurar uma instrução de base aos seus filhos, mas a formação moral deles nunca a podem delegar totalmente”, aponta o Papa Francisco na exortação apostólica Amoris laetitia (AL 263).

O I Seminário Escola & Família, realizado em 19 de agosto em Aparecida (SP), tratou justamente sobre como o relacionamento harmônico entre essas duas instituições é benéfico à formação dos estudantes.

A atividade foi promovida pela Pastoral da Educação e Ensino Religioso do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade da Arquidiocese de São Paulo.

AS TAREFAS PRÓPRIAS DOS PAIS E A DOS PROFESSORES

Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade, ressaltou que um dos propósitos do seminário foi reafirmar a necessidade de que se estabeleça uma verdadeira parceria entre pais e educadores, com o objetivo de proporcionar um amadurecimento harmônico e profundo dos alunos.

“Os professores, ao assumirem o seu papel de educadores, devem ajudar – sem pretender substituir – os pais na educação integral dos seus filhos. Dessa maneira, o contínuo intercâmbio educativo entre a escola e a família contribuirá para a formação de bons cristãos e cidadãos responsáveis, tão necessários em nossos dias”, disse ao O SÃO PAULO, destacando, ainda, que os educadores devem ser capazes de descobrir os pontos fortes de cada estudante, para que, cativados, desenvolvam seus talentos e qualidades.

Já os pais, como os primeiros responsáveis pela educação integral dos filhos, devem acompanhar suas atividades escolares. “Quanto mais presentes os pais estiverem na escola e mais próximos dos estudos dos seus filhos, melhor será seu rendimento, diminuirão os problemas de disciplina, de adaptação ou de aproveitamento”, observou o Bispo.

A DESAFIADORA VOCAÇÃO DE TECER RELAÇÕES

Docente há 40 anos na área de Comunicação, a professora Cecília Canalle Fornazieri falou sobre os desafios e as oportunidades da relação entre pais e professores.

“O mais desafiador nessa e em todas as relações, sem dúvida alguma, é viver o que São Bento orientou a seus monges há cerca de 1.500 anos. Ele afirma que todos os hóspedes que chegarem deverão ser recebidos como o próprio Cristo, pois Ele próprio irá dizer: ‘Fui hóspede e me recebestes’ (Regra de São Bento, capítulo 53)’. Relacionar-se com os pais em situação tantas vezes de conflito, ou com o marido, a esposa, os filhos, com os clientes dessa forma, muda tudo! É um outro mundo neste mundo! Porque não me relaciono a partir do que me irrita, ou me agrada e, sim, a partir da minha vocação. Naquele dia, naquele momento, naquele lugar, é o Cristo que eu tanto desejo reconhecer que se encontra à minha frente”, destacou.

Cecília enfatizou a centralidade em Jesus – modelo de virtudes do educador – bem como a simpatia, paciência e abertura ao diálogo que os professores devem ter para construir o relacionamento com estudantes e pais: “E isso se faz numa jornada. É muito bom quando as crianças entram pequenas na escola e ficam por lá, junto conosco, por muitos anos. Quando elas chegam, é como se todos nós começássemos o percurso e isso é muito forte para os pais também”.

VER NO PRÓXIMO O PRÓPRIO CRISTO

Uma das conferências do evento foi sobre “Relacionamento interpessoal e socioemocional”, com a professora Sílvia Regina Brandão, psicóloga, mestra e doutora em Educação pela USP.

Silvia recordou que a vivência das habilidades emocionais previstas na Base Nacional Comum Curricular do ensino fundamental – autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável – “são fundamentais para estabelecer relacionamentos interpessoais saudáveis e fecundos. Aprender a considerar com atenção e seriedade quem somos, quem é o outro, apreendendo o que cada um tem de singular e de contribuição para oferecer constitui um passo importante para a formação integral da pessoa”.

Esse processo relacional se torna ainda mais enriquecedor quando cada pessoa do ambiente escolar reconhece a si e ao próximo como uma criatura de Deus: “A outra pessoa é sinal do amor de Deus, é um presente que Ele me dá e, por isso, mesmo que inicialmente ela me cause estranheza, é um convite para uma abertura, para a descoberta de possibilidades novas que me são dadas. Então, essa consciência ajuda a ter disponibilidade para acolher as diferenças e aprender com as dificuldades que surgem na convivência cotidiana na escola”.

O PAPEL DO ENSINO RELIGIOSO

Mestra em Educação pela Florida Christian University e diretora de um grupo educacional confessional, a professora Angélica Pires tratou sobre o “Papel do Ensino Religioso no amadurecimento dos alunos”.

Ela enfatizou que ao mesmo tempo em que as escolas católicas devem se empenhar cada vez mais na busca da excelência acadêmica, precisam oferecer aos estudantes aquilo que as distingue: uma formação cristã sólida, manifestada em todas as atividades escolares.

Em seu entendimento, boa parte dos conflitos que ocorrem no ambiente escolar se dá ou porque não há a efetiva oferta do Ensino Religioso na grade curricular – algo recorrente nas escolas públicas – ou este é apresentado de uma maneira que não desperta a atenção dos alunos, situação verificada em muitos colégios confessionais.

AS MISSÕES DA ESCOLA CATÓLICA

Dom Carlos Lema disse à reportagem que o Ensino Religioso na escola católica “aborda a mensagem cristã, fundamentada nos textos bíblicos dos dois Testamentos e no Magistério da Igreja. Evidentemente, respeitando sempre aqueles que não comungam a fé católica, os educadores das nossas escolas transmitem integralmente o conteúdo dos ensinamentos da Igreja, relativos à fé e à moral cristãs”.

O Bispo enfatizou que o grande diferencial da escola católica está nos aspectos que compõem o clima de formação dos alunos: “a convivência harmoniosa com pessoas diferentes; a formação integral fomentada pelas aulas de Ensino Religioso, que leva à abertura à transcendência e ao encontro do sentido mais profundo da vida; as ações sociais, as atividades de voluntariado etc. Esse diferencial é notório não apenas enquanto os alunos frequentam o colégio, mas especialmente quando ingressam na vida profissional: seu comportamento reflete as virtudes da convivência, assimiladas no clima fraterno e respeitoso que respiraram na vida escolar”.

Por fim, Dom Carlos Lema citou o trecho de uma carta de 5 de maio de 2009 do Dicastério para a Cultura e a Educação aos presidentes das conferências episcopais sobre o ensino da religião nas escolas: “O ensino da religião é diferente e complementar da catequese; por ser ensino escolar, não requer a adesão de fé, mas transmite os conhecimentos sobre a identidade do Cristianismo e da vida cristã. Além disso, ele enriquece a Igreja e a humanidade com laboratórios de cultura e humanidade.” (carta N. 520/2009, n.18).

A íntegra da entrevista de Dom Carlos Lema Garcia a respeito do I Seminário Escola & Família pode ser lida aqui

Abaixo, veja a íntegra das entrevistas dos especialistas ao O SÃO PAULO:

Cecília Canalle Fornazieri – sobre os desafios e as oportunidades da relação entre pais e professores

O que se mostra como mais desafiador nesta relação?
O mais desafiador nessa e em todas as relaçoes, sem dúvida alguma, é viver o que Sao Bento orientou a seus monges há cerca de 1.500 anos. Ele afirma que todos os hóspedes que chegarem deverão ser recebidos como o próprio Cristo, “pois Ele próprio irá dizer: ‘Fui hóspede e me recebestes.’ (Regra de São Bento, capítulo 53)”. Relacionar-se com os pais em situaçao tantas vezes de conflito, ou com o marido, a esposa, os filhos, com os clientes dessa forma, muda tudo! É um outro mundo neste mundo!  Porque não me relaciono a partir do que me irrita, ou me agrada e, sim, a partir da minha vocação. Quer dizer, naquele dia, naquele  momento, naquele lugar, é o Cristo que eu tanto desejo reconhecer quem encontra-se à minha frente. Beira o absurdo, mas é a nossa salvação. A salvação de um cotidiano que parece sempre insuficiente para o meu desejo quando, também, ainda difícil. Mas se é Ele quem me chama, me abro para um diálogo muito mais profundo com aqueles pais, com a esposa, com meu colega de seminário.

Em que sentido, os atendimentos a pais fazem parte também da educacao escolar?
Se, por um lado, aquele encontro faz parte da minha vocação para aquele dia e hora, por outro, eles não são pontuais, mas um caminho. Um caminho que, muitas vezes, leva anos, que é companhia, que ajuda a mim a aprofundar o sentido da realidade e ao outro também. E isso se faz numa jornada. É muito bom quando as crianças entram pequenas na escola e ficam por lá, junto conosco, por muitos anos. Quando elas chegam, é como se todos nós começássemos o percurso e isso é muito forte para os pais também. Às vezes, me pego querendo me livrar de algumas partes do meu dia, mas é um desperdício de um tempo precioso. Se Deus me chama a passar por ali, é porque tem algo para mim ali e para o outro. É melhor obedecer porque o caminho para o céu é a agenda do dia.
Sílvia Regina Brandão – sobre “Relacionamento interpessoal e socioemocional”

Por que a maior vivência das habilidades socioemocionais pode ser benéfica ao ambiente escolar?
No atual contexto sociocultural marcado por muitas mudanças, a vivência das habilidades emocionais, como as previstas na Base Nacional Comum Curricular do ensino fundamental –  autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável – são fundamentais para estabelecer relacionamentos interpessoais saudáveis e fecundos.  Aprender a considerar com atenção e seriedade quem somos, quem é o outro, apreendendo o que cada um tem de singular e de contribuição para oferecer, constitui um passo importante para a formação integral da pessoa.

De que maneira o olhar cristão, de ver no próximo um irmão em Cristo, pode ajudar a melhorar o relacionamento interpessoal no ambiente escolar?
Quando nos damos conta de que cada um de nós é criatura de Deus, geradas por Ele no início da nossa existência e em cada instante de nossa vida, o modo de olhar para o outro colega ou professor se torna diferente. A outra pessoa é sinal do amor de Deus, é um presente que Ele me dá e por isso, mesmo que inicialmente ela me cause estranheza, é um convite para uma abertura, para descoberta de possibilidades novas que me são dadas. Então, essa consciência ajuda a ter disponibilidade para acolher as diferenças  e aprender com as dificuldades que surgem na convivência cotidiana na escola.
Angélica Pires – sobre o “Papel do Ensino Religioso no amadurecimento dos alunos”

Despertar o interesse dos estudantes pelo estudo do Ensino Religioso pode ser desafiador, tanto em colégios católicos quanto em escolas públicas. Alguns dos desafios comuns incluem:

Relevância: Os estudantes podem ter dificuldade em ver a relevância do Ensino Religioso em suas vidas diárias. Eles podem questionar como os ensinamentos religiosos se aplicam aos desafios e questões do dia a dia. É importante mostrar a conexão entre os princípios bíblicos e os aspectos práticos da vida.

Diversidade religiosa: Em escolas públicas, onde há uma diversidade de crenças religiosas, pode ser desafiador abordar o Ensino Religioso de forma inclusiva e respeitosa. É importante garantir que todas as crenças sejam respeitadas e que os estudantes se sintam incluídos, independentemente de sua religião ou falta de religião. Isso pode ser feito por meio da promoção do diálogo inter-religioso. Porém, mesmo na Escola Pública, o educador católico pode transmitir sua fé através das suas atitudes e comportamentos, sendo um exemplo de bondade, alegria e compaixão. Como dizia São Francisco de Assis: “Pregue a todo tempo, se necessário, use palavras”.

Percepção negativa: Alguns estudantes podem ter uma percepção negativa do Ensino Religioso devido a vivências anteriores ou a estereótipos negativos associados à religião. É importante abordar essas preocupações e mostrar que o Ensino Religioso pode ser um espaço de aprendizado e oportunidade de uma experiência com o amor de Jesus.

Abordagem pedagógica: A forma como o Ensino Religioso é ensinado também pode influenciar o interesse dos estudantes. Uma abordagem monótona e baseada apenas em conteúdo teórico pode não ser envolvente para os estudantes. É importante utilizar métodos pedagógicos variados, como discussões em grupo, atividades práticas, dinâmicas, uso de recursos audiovisuais e visitas a locais religiosos, para tornar o aprendizado mais dinâmico e interessante.

Ao enfrentar esses desafios, é fundamental criar um ambiente de aprendizado respeitoso e aberto, no qual os estudantes se sintam encorajados, a fazer perguntas e participar ativamente do processo de aprendizado.
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