A verdadeira música é um convite à transcendência

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Alvaro Siviero falou sobre como a música pode ajudar o ser humano a encontrar a beleza e o sentido da vida.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

“O pianista brasileiro demonstrou eloquente lirismo, unido a uma técnica impecável em sua apresentação…”. Assim o jornal La Mañana, de Córdoba, na Argentina, referiu-se a Alvaro Siviero, um dos maiores pianistas do Brasil. Em entrevista ao O SÃO PAULO, Siviero falou sobre como a música pode ajudar o ser humano a encontrar a beleza e o sentido da vida.

O paulistano Alvaro Siviero é apaixonado pelo piano, acumulando passagens por países como Alemanha, Portugal, Itália, Estados Unidos, República Tcheca, Emirados Árabes, Áustria, Polônia, França, Inglaterra, Suíça, Argentina, Chile, África do Sul, Ilhas Maurício e Reunião, Holanda, Espanha, Uruguai e Peru.

Durante a entrevista, ele falou, sobretudo, sobre o conceito de beleza e a busca humana por uma realidade que o transcenda. “As pessoas, muitas vezes, confundem beleza com seus gostos pessoais, e isso é complicado, pois sabemos que a perda do hábito da leitura e da reflexão, bem como as mudanças culturais, fazem com que se tenha uma percepção do belo sempre mais superficial”, disse Siviero.

Ao fazer essa premissa, o pianista salientou que, em relação à música, não é diferente. “Não faria sentido algum perguntar a uma pessoa por que ela gosta mais de uma música ou de outra, sobretudo porque gosto pessoal nenhum pode ser criticado. É muito importante, porém, não confundir beleza e gosto pessoal”, continuou.

Siviero disse ainda que não existe música boa ou ruim, mas que a verdadeira música fala de amor, morte, dor ou transcendência. “A música verdadeira nos leva a isso. Queremos, com a música, o que não temos, o desejo de beleza e de bem. É justamente a finitude da vida que nos faz buscar a transcendência, ou seja, o desejo de continuar existindo.”

Além da melodia, o pianista comentou que, igualmente, a poesia da letra pode ajudar as pessoas a viverem uma experiência de bem e de belo, e que é preciso sempre ressaltar que nem todos entendem a mesma coisa quando o assunto é música popular. “Em alguns países, a música clássica, por exemplo, é muito mais difundida e se torna, por isso, popular. No Brasil, antes da pandemia, víamos as salas de concerto cheias, o que demonstra um grande interesse também”, continuou.

Canções que tocam a espiritualidade

 “É a beleza artística que nos coloca em comunhão com Deus; as iniciativas comerciais apenas nos colocam em relação com o consumo, ídolo que falsifica o que significa ser humano”, disse, em entrevista, o Cônego Antonio Manzatto, apresentador do programa “Certas canções”, que vai ao ar aos sábados às 14h (reprise aos domingos, às 14h) na rádio 9 de Julho.

Doutor em Teologia e coordenador do Grupo de Pesquisa em Literatura, Religião e Teologia (LERTE), o Cônego afirmou que a música popular é expressão de uma cultura, que está profundamente marcada pela religiosidade, inclusive pela religiosidade cristã.

“Várias são as canções que tocam a espiritualidade, mesmo sem fazê-lo diretamente. Gosto de pensar, por exemplo, que, ao ouvir ‘Luar do sertão’, acabamos nos conectando com a transcendência, tal a beleza daquilo que a canção expressa. Chegamos até mesmo a um momento de oração diante do Criador que nos deu essa casa comum para cuidarmos. A música popular não tem como finalidade primeira a religião ou a espiritualidade, mas, quando a música é bonita, acaba conduzindo a isso porque nos coloca em comunhão com o transcendente”, disse Cônego Manzatto.

O Sacerdote recordou, ainda, que a música já foi utilizada em todas as religiões como forma de conduzir a Deus, na oração e na catequese. “Nós utilizamos muito a música na liturgia, e, quando a música é bonita, nos conduz a uma grande proximidade de Deus, a uma real experiência de Deus. E aquilo que cantamos na liturgia, e aqui falo da música religiosa, acaba sendo elemento de catequese, porque repetimos as palavras do que cantamos nas celebrações.”

Outro aspecto abordado por ele foi a importância de pensar no que se canta, pois, na canção religiosa, se a melodia é bonita, é necessário que a letra seja verdadeira.

“A música é uma arte, e quando ela é bonita, saímos cantarolando, repetindo as palavras. As canções bonitas permanecem apesar do tempo que passa, enquanto aquelas que são apenas comerciais desaparecem rapidamente. O que precisamos é ser críticos e exigentes com aquilo que ouvimos e que repetimos cantarolando”, afirmou o Cônego Manzatto.

Dicas de Álvaro Siviero

1. Rachmaninov – Concerto nº 2
para piano e orquestra em dó
menor, Op. 18
2. Beethoven – Sinfonias nº 5 em
dó menor, Op. 67 e nº 7 em lá
maior, Op. 92
3. Chopin – Polonaise Op. 53 em lá
bemol maior “Heroica”
4. Mozart – Sinfonia nº 40 em sol
menor K. 550
5. Grieg – Amanhecer (Suite Peer
Gynt)
6. Tchaikovsky – Concerto nº 1
para piano e orquestra em si bemol menor, Op. 23
7. Wagner – Coro dos Peregrinos
da Ópera Tannhauser
8. Villa-Lobos – Prelúdio das Bachianas Brasileiras nº 4

Dicas do Cônego Manzatto

Nossa Senhora, Roberto Carlos
Romaria, Renato Teixeira
Balada do Filho Pródigo, Elomar
Figueira de Melo
Luar do sertão, Catulo da Paixão
Cearense

A igrejinha de São Damião

De cada riso e dor
De cada espinho e flor
Construo a casa do meu Senhor
Com o que o mundo abandonou
De cada pedra do chão
Construo o templo do coração
Em cada dia que vem
Em cada dia que vai
Ergo em mim a casa de meu Pai


Marcus Viana

O Doce Mistério de Maria

Cânticos, Preces, Súplicas
à Senhora dos Jardins do Céu

E a rainha olha por todos,
E seu manto azul é escudo da terra,
Protege e perdoa mesmo quem erra,
Mãe, Mater, matéria divina, que
vibra
E esmaga serpentes e dragões, e
resgata o peregrino
De um deserto de aflições
E há de saber um dia, livrar-nos de
toda miséria.
Salve, Maria!
Salve, Rainha!

 
Maria Bethânia
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