Especialistas compartilham impressões sobre a Encíclica ‘Fratelli Tutti’

A nova Encíclica Fratelii Tutti, do Papa Francisco, foi destaque da edição especial do programa “Pátio da Cruz”, transmitido pela TV PUC nesta terça-feira, 6.

A iniciativa, promovida pelo Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em parceria com o jornal O SÃO PAULO e a rádio 9 de Julho, reuniu especialistas de diferentes áreas para comentar as primeiras impressões do documento publicado no domingo, 4.

No programa, apresentado pela jornalista Cleide Barbosa, participaram Filipe Domingues, jornalista especializado na cobertura do Vaticano e colaborador do O SÃO PAULO, Rosana Manzini, teóloga e professora da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC-SP, e Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo e biólogo, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

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PANDEMIA

Ao explicar ao contextualizar a nova encíclica, Filipe Domingues destacou que o documento pontifício foi publicado em meio à pandemia, um momento histórico para a atual geração. “Esse texto vem para unificar esse sentimento que estamos vivendo”, afirmou.

“A pandemia não é tema central da Fratelli Tutti, é o contexto”, sublinhou o jornalista, ressaltando que o Papa acentuou alguns problemas que já existiam como a desiguales, as guerras, a cultura do descarte.” A pandemia é o pano de fundo que agravou problemas que a humanidade já vinha vivendo e o Papa tenta nos unir em torno de alguns ideais comuns, pois nós estamos todos no mesmo barco”, disse o vaticanista, recordando as apalavras ditas por Francisco na oração que ele conduziu na Praça São Pedro Vazia, em março.

Borba enfatizou que todos os papas recentes escreveram uma encíclica em momentos de crise, convidando toda a humanidade a viver a paz, a solidariedade, a fraternidade. “A Pacem in Terris de João Paulo XXIII, a Populorum Progressio, de Paulo VI, particularmente a Sollicitudo Rei Socialis, de João Paulo II, a Caritas in veritate, de Bento XVI, e, agora, a Fratelli Tutti. Cada uma dessas encíclicas corresponde a uma crise da sociedade”, observou o sociólogo, acrescentando que quando a sociedade se mostra incapaz de se manter firme e estável, “a Igreja continuamente repropõe a solidariedade e a fraternidade como um caminho necessário”.  

Para a professora Rosana, a nova encíclica reforça aquilo que o Papa Francisco traçou para seu pontificado. Ela recordou a homilia da missa de início do ministério petrino de Bergoglio, em 19 de março de 2013, Solenidade de São José, na qual o Pontífice refletiu sobre a figura de São José como o guardião, aquele que cuida de Jesus e Maria e, assim, da Igreja e da humanidade.

“Toda a trajetória de Francisco, seus documentos, daquele que é cuidador. Ele sabe que tem a responsabilidade de cuidar de seu povo, da humanidade, do planeta e transmite para nós que sejamos cuidadores. Aqueles que cuidam da criação, do planeta e aqueles que cuidam e vão ao encontro dos feridos, dos chagados do mundo”, completou Manzini.

ENCÍCLICA SOCIAL

Quando questionado se Fratelli Tutti pode ser considerado um documento político, Filipe Domingues que sim, desde que não se entenda a política no sentido partidário ou ideológico. “Ele [o Papa] quer promover uma certa visão de como as coisas deveriam funcionar. Neste sentido, nós podemos falar que é um texto político, quando ele fala sobre a fraternidade e a amizade social, que é justamente uma forma de amor na visão do Papa Francisco. É uma manifestação de amor que nós deveríamos praticar no dia a dia, nas pequenas coisas”, observou.

Rosana Manzini complementou, salientando que o Pontífice retoma o tema da política em seu sentido mais puro, pois a maioria da população tem sido levada a desacreditar da política e reforçou que a transformação da sociedade e o resgate da dignidade da pessoa passam necessariamente pela política.

Nesse aspecto, o jornalista destacou que o próprio Pontífice define o texto como uma encíclica social. “Então, nós podemos falar que não é um texto teológico. Há bases teológicas, menções ao Evangelho, mas é uma encíclica social, para falar sobre questões sociais. Nós podemos dizer que é um texto político e social, mas não um texto ideológico como algumas pessoas têm buscado rotular”, reforçou.

ENCONTRO E RECONCILIAÇÃO

Para os entrevistados, outro aspecto bastante destacado na encíclica é a “cultura do encontro”, expressão frequentemente usada por Francisco em seus textos e discursos. “Em vários momentos da Encíclica, o Papa volta nessa ideia de que nós imaginamos o outro como uma ameaça, o outro é perigoso… A Cultura do encontro é exatamente o contrário disso, o Paraíso eu encontro através do outro. Sem o meu irmão eu não sou capaz de encontrar a Deus, não é possível no mundo encontrar a Deus sem o irmão”, afirmou Francisco Borba.

Domingues chamou a atenção para o sétimo capítulo da encíclica, no qual o Santo Padre fala do perdão e da reconciliação. “O Papa diz que a História, os conflitos, aquilo que passamos na vida, nos transformam e nós estamos passando por um momento que vai mudar a vida de todos. Ninguém vai sair igual dessa crise que estamos vivendo. Muitas vezes, durante essa transformação, há conflitos… Perdão, reconciliação e misericórdia são a única resposta para esses conflitos”, enfatizou.

(Colaboraram: Flavio Rogério Lopes e Jenniffer Silva)

ASSISTA AO VÍDEO DA ÍNTEGRA DO PROGRAMA:

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