O mês de junho é marcado pelos festejos juninos, tradicionais principalmente no Nordeste brasileiro, mas que se espalharam e conquistaram o Brasil. A festa é marcada por comidas e bebidas típicas, fogueiras e uma forte piedade popular a Santo Antônio, São João e São Pedro.
AS ORIGENS
Padre Felipe Cosme Damião Sobrinho, professor de História da Igreja da Faculdade de teologia da PUC-SP, explica que as festas juninas tiveram sua origem pagã, no Hemisfério Norte, com os povos prestando homenagens a vários deuses aos quais eram atribuídas as funções de garantir fertilidade, expulsão de pragas e boas colheitas. Tais ritos aconteciam no solstício – passagem do período extenso do inverno para o verão –, que acontece em junho naquele hemisfério.
Entre os rituais estavam presentes o acendimento de fogueiras, a soltura de balões e as danças. Com a expansão do Cristianismo, os festejos juninos foram ganhando novo significado e nova roupagem, e, inclusive, a transição diluiu o culto aos deuses pagãos pela veneração aos santos.
O Sacerdote detalhou que a origem das festas juninas está relacionada, também, ao sexto mês do ano, e ainda, “joaninas”, uma menção à celebração da natividade de São João Batista, o Precursor, no dia 24; Santo Antônio, grande pregador do Evangelho, no dia 13; e à solenidade do martírio dos apóstolos Pedro e Paulo, dia 29.
SÍMBOLOS
As tradições religiosas ajudaram o povo a desenvolver a chamada piedade popular, também traduzidas em manifestações culturais como a fogueira, as comidas típicas e as danças. “A fogueira na perspectiva cristã representa a luz que é Jesus, anunciada por São João Batista. A fogueira foi um sinal de Santa Isabel, mãe de João Batista, para Maria, Mãe de Jesus. As comidas típicas são tradições regionais advindas da formação cultural do povo brasileiro, a partir dos povos originários que são os indígenas, depois o povo negro, que chega pela escravidão e o povo branco, como colonizador. As danças das quadrilhas são de influência francesa”, explicou Padre Felipe.
A quadrilha é precisamente da região da Normandia e se espalhou pelos salões da Europa. Quando a Família Real Portuguesa se mudou para o Brasil, fugindo dos ataques de Napoleão Bonaparte, trouxe a quadrilha para os salões dos nobres. A senzala via e ouvia o ritmo e o trouxe para festança no terreiro.
A quadrilha geralmente é dançada ao ritmo do xote, do xaxado e do baião. Calças rasgadas, camisas de cores fortes e xadrezes, sardas acentuadas no rosto, dentes pintados para representar que estão estragados, chapéu de palha, tranças estão entre os adereços da quadrilha e das festas juninas. No Brasil, a festividade é celebrada desde o século XVII.
SANTOS JUNINOS
Três santos da Igreja Católica são especialmente recordados nesta época: Santo Antônio, São João Batista e São Pedro.
Santo Antônio, Fernando de Bulhões (1195-1231), é conhecido na devoção popular como o Santo casamenteiro, o Santo do pão dos pobres, das coisas perdidas e o intercessor dos pobres e humildes. Nascido em Portugal, Santo Antônio de Pádua (ou de Lisboa) foi missionário, doutor da Igreja e autor de inúmeros sermões. De família nobre e rica, deixou toda a opulência e viveu em total pobreza. Inicialmente, foi religioso em uma ordem agostiniana e, posteriormente, tornou-se frade franciscano. Sua memória litúrgica é celebrada em 13 de junho.
São João Batista, foi o precursor de Jesus. O Evangelho de Lucas 1,39-43 narra sua alegria com a chegada do Messias. João batizou Jesus no Rio Jordão, proclamando-o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). É considerado o protetor dos casados e enfermos, protetor contra dor de cabeça e de garganta. Sua festa litúrgica é celebrada em 24 de junho, data que marca seu nascimento, inclusive a nomenclatura festa junina faz alusão a este santo.
São Pedro, o primeiro a ser chamado por Jesus, com seu irmão André (cf. Lc 6,14), foi o pioneiro a professar a fé em Cristo e a testemunhou, edificando a Igreja. Ele é considerado o patrono dos pescadores. A festa litúrgica é celebrada em 29 de junho, data em que se recorda também o dia do Papa. No mesmo dia se recorda a solenidade de São Paulo Apóstolo, considerado o apóstolo incansável do Evangelho e testemunha da misericórdia de Deus.
Um ‘arraiá’ mais caro
Com a inflação em alta, nem mesmo os itens da tradicional festa junina escaparam do aumento de preço. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV), os pratos típicos juninos subiram em média 13,12% nos últimos 12 meses. O milho de pipoca, por exemplo, ficou 21% mais caro. Antes era adquirido a R$ 2,49, hoje é encontrado por até R$ 7,49.
O levantamento aponta que pelo menos 12 alimentos dos mais usados para os quitutes da festa subiram 10,08% acima da inflação média.
A batata-doce ficou 16,03% mais cara, e o fubá, 15,63%. A disparada dos preços do açúcar e da maçã vai inflacionar a tradicional maçã do amor. Se antes era possível comprar um saco de milho por R$ 35, agora o gasto é de aproximadamente R$ 70.
Não obstante a alta dos preços, com a retomada do público às festas, a procura por produtos juninos aumentou 30%, em comparação ao mesmo período de 2019 – antes da pandemia.
DÁ PARA ECONOMIZAR
Apesar do aumento, é possível fazer receitas reaproveitando alimentos, organizando as compras e gastando pouco. Gilmara Jerônimo Cavassani, nutricionista, listou à reportagem do O SÃO PAULO algumas dicas para economizar na compra dos itens:
Planeje os gastos: programe-se em família para as compras dos ingredientes juninos;
Compre com antecedência, em maiores quantidades em atacados ou hipermercados. Essa é uma opção para encontrar promoções;
Faça a lista com os itens necessários, para evitar desperdícios;
Una a família: cada um pode levar um prato para ser compartilhado;
Faça uma pesquisa das receitas preferidas que agradem à maioria das pessoas
E a nutricionista também compartilhou duas receitas típicas desta época, fáceis de fazer:
BOLO DE MILHO
3 ovos
1 lata de milho verde
1⁄2 lata (usar a do milho como medida) de óleo
1 lata de açúcar
1 lata de fubá
1 leite de coco
1 colher de fermento
Modo de preparo: Bater tudo no liquidificador. Leve ao forno pré-aquecido em 180ºC por 30 a 40 minutos.
DOCE DE ABÓBORA
1kg de abóbora
1 xícara (chá) de açúcar
15 cravos-da-índia
1 colher (sopa) de água
1 xícara (chá) de coco seco sem açúcar
Modo de preparo: Adicione os ingredientes e leve ao fogo por 15 minutos com a panela tampada. Em seguida, adicione o coco e cozinhe mais uns 10 minutos com a panela fechada. Por fim, cozinhe sem tampa até a calda secar bem.