Morre, aos 92 anos, Dom Angélico Bernardino, Bispo Emérito de Blumenau (SC) e com atuação em São Paulo

Prelado foi Bispo Auxiliar da Arquidiocese entre 1975 e 2000, diretor do O SÃO PAULO e passou seus últimos anos de vida na capital paulista. Missa de corpo presente será realizada na quarta-feira, 16, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt, na zona Noroeste da cidade

Notícia atualizada às 23:26

Dom Angélico Na comemoração de seus 80 anos de vida em 2013 (Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

A Diocese de Blumenau (SC) informou na noite da terça-feira, 15, o falecimento de seu Bispo Emérito, Dom Angélico Sândalo Bernardino, aos 92 anos de idade.

Após meses de internação e cirurgias no Hospital Santa Catarina, em São Paulo (SP) – desde novembro de 2024 –, Dom Angélico estava sob cuidados domiciliares na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt, Região Brasilândia da Arquidiocese de São Paulo.

“Com profundo pesar, a Diocese de Blumenau comunica o falecimento de Dom Angélico Sândalo Bernardino… Unimo-nos em oração a todos os que partilham deste momento de luto, especialmente aos familiares, amigos e fiéis que caminharam com ele ao longo de sua vida e ministério. Dom Angélico exerceu seu episcopado com dedicação, marcando a história da Igreja no Brasil como bispo auxiliar de São Paulo e como primeiro bispo da Diocese de Blumenau, desde sua criação em 2000”, consta na nota de pesar da Diocese de Blumenau.

Por meio de nota, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, manifestou pesar pelo falecimento, recordando sua trajetória episcopal na Igreja de São Paulo como Bispo Auxiliar.

“Como sucessor dos apóstolos, Dom Angélico dedicou sua vida ao anúncio do Evangelho, à santificação e ao pastoreio do povo de Deus, inspirado pela afirmação de fé do apóstolo São João, que tomou como seu lema episcopal: “Deus é amor” (1Jo 4,8)”, afirmou Dom Odilo, acrescentando que a Arquidiocese de São Paulo oferece suas orações e súplicas por Dom Angélico, “pedindo a Deus que conceda o prêmio da vida eterna a esse seu servidor”.

FUNERAL

Atendendo à vontade manifestada por Dom Angélico, seu velório ocorrerá na Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Praça Vinte e Cinco de Novembro, 53, Vila Zat), na Região Episcopal Brasilândia, na quarta-feira, 16, a partir das 8h. Dom Odilo presidirá uma missa de corpo presente às 15h e, em seguida, o corpo será levado para Blumenau, onde será sepultado. 

A chegada à Catedral de Blumenau está prevista para às 10h da quinta-feira, 17. Será celebrada a missa de exéquias às 14h, seguida do sepultamento na cripta da própria Catedral.

‘O DOM DOS POBRES’ TESTEMUNHOU QUE ‘DEUS É AMOR’

Dom Angélico (1º à esquerda) com o Cardeal Arns e os demais bispos auxiliares de São Paulo
Foto: Douglas Mansour

Nascido em Saltinho (SP), em 19 de janeiro de 1933, Dom Angélico foi ordenado sacerdote em 12 de julho de 1959. Em dezembro de 1974, foi nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo pelo Papa Paulo VI, tendo recebido a ordenação episcopal em 25 de janeiro de 1975, na Catedral da Sé, pela imposição das mãos de Dom Paulo Evaristo Arns, adotando como lema episcopal “Deus é amor”.

Na Arquidiocese de São Paulo, foi Vigário Episcopal nas Regiões Leste 1 (atual Região Belém), em 1975, Leste 2 (atual Diocese de São Miguel Paulista), entre 1976 e 1989, e Brasilândia, de 1989 a 2000, tendo atuação evangelizadora especialmente pautada na Doutrina Social da Igreja.

“Aprendi dos pobres o caminho de Jesus, o caminho da Igreja, e nosso caminho é o do Evangelho, é de sermos andarilhos do Reino, irmos ao encontro dos degradados, dos presos, dos famintos, dos drogados, dos prostituídos, e anunciar a eles que vale a pena vivermos em paz, no reino de paz”, disse na missa em que celebrou 80 anos de vida, em janeiro de 2013, na Paróquia Santos Apóstolos, na Região Brasilândia.

Na ocasião, “o Dom dos pobres”, como também era conhecido, comentou sobre a sua disponibilidade ao ministério ordenado: “O que me empolga na vida é esse amor profundo que eu sinto, do fundo do meu coração, por Jesus”, expressou. “A grande alegria da minha vida é conhecê-Lo, amá-Lo, é poder proclamar com entusiasmo na Igreja, minha mãe e mestra, o seu Evangelho de amor e estar a serviço do Reino”, complementou.

Entre 1977 e 2000, Dom Angélico foi diretor do jornal O SÃO PAULO, marcando época com reportagens sobre a ação pastoral da Igreja aos mais pobres e abrindo espaço para artigos e ilustrações referentes às mobilizações da sociedade brasileira contra o regime ditatorial, a luta pela redemocratização e a formulação da Constituição de 1988.

O 1º BISPO DE BLUMENAU

Em 19 de abril de 2000, São João Paulo II transferiu Dom Angélico à recém-criada Diocese de Blumenau (SC), da qual tomou posse como seu primeiro bispo em 24 de junho de 2000, na festa da Natividade de São João Batista.

Na missa de posse, ao se dirigir às autoridades locais dos 13 municípios na área de abrangência da Diocese e a população de 600 mil pessoas à época, Dom Angélico reafirmou a opção preferencial da Igreja pelos mais pobres.

“Queremos colaborar para que haja sociedade justa e fraterna. A desigualdade social é escandalosa. Perversa é a concentração de renda nas mãos de poucos. A Diocese de Blumenau e seu bispo se comprometem neste dia sagrado com o evangélico serviço à causa da justiça”, disse, pedindo a todos, “o amor concreto pelos pobres”.  

“Se esta postura na defesa e promoção dos direitos da pessoa humana, de maneira especial dos pobres, dos que sofrem, custar à Igreja em Blumenau incompreensões, estaremos lembrados que outra não foi a sorte de João Batista e agradecemos ao Pai, humildes e reverentes, a bem-aventurança da perseguição”, disse o Bispo, que deixaria a Diocese de Blumenau em fevereiro de 2009, após o Papa Bento XVI aceitar sua renúncia em razão da idade.

LAÇOS PERMANENTES COM SÃO PAULO

Dom Angélico na missa em ação de graças por seus 90 anos em janeiro de 2023

Após tornar-se emérito em Blumenau, Dom Angélico voltou a viver na capital paulista e manteve-se ativo, celebrando em paróquias e comunidades, bem como orientando retiros para o clero de diferentes dioceses brasileiras.

“Aos 80 anos, digo como São Francisco de Assis: ‘Até agora fiz pouco, hoje recomeço’, com muito entusiasmo e gratidão a Deus por ter me chamado a fazer parte da Igreja Santa, minha mãe e mestra, para ser padre, bispo, servidor deste povo amado de Deus, povo de Deus a caminho”, disse em fevereiro de 2013, em entrevista ao O SÃO PAULO.

Naquele mês, houve a publicação do livro “Dom Angélico Sândalo Bernardino – Bispo Profeta dos Pobres e da Justiça”, coordenado por Waldir Aparecido Augusti. Na obra com 640 páginas, leigos, padres, bispos, políticos e acadêmicos recordam histórias vivenciadas junto ao Bispo e há ainda textos que analisam seu episcopado sob as perspectivas teológica, filosófica, cristológica e eclesiológica.

Um dos fatos relatados é sobre a atuação de Dom Angélico para que o operário Santo Dias da Silva, assassinado em 1979 em uma ação policial na zona Leste da cidade, fosse dignamente sepultado.

Por seus intensos laços com São Paulo, Dom Angélico recebeu em 1991 o título de Cidadão Paulistano pela Câmara Municipal e no mesmo ano de cidadão ribeirão-pretano; Em junho de 2000, foi homenageado em sessão solene da Assembleia Legislativa de São Paulo; e em 2003, recebeu o título de cidadão blumenauense.

DISCÍPULO E MISSIONÁRIO DE JESUS

Uma de suas últimas aparições públicas aconteceu em janeiro de 2023, quando presidiu missa na Paróquia São Judas Tadeu, na Vila Miriam, Região Brasilândia, em ação de graças por seus 90 anos de vida, ocasião em que reafirmou seu amor a Cristo e à Virgem Maria.

“Com 90 anos, eu me considero um garotinho nos braços de Nossa Senhora. E minha grande honra na vida é ser discípulo missionário de Jesus. Ele é o meu caminho, a verdade e a minha vida”, disse Dom Angélico na ocasião.

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DA DIOCESE DE BLUMENAU (SC)

Com profundo pesar, a Diocese de Blumenau comunica o falecimento de Dom Angélico Sândalo Bernardino, ocorrido nesta data, às 18h23, na residência do Padre Antônio Leite Barbosa Júnior.

Unimo-nos em oração a todos os que partilham deste momento de luto, especialmente aos familiares, amigos e fiéis que caminharam com ele ao longo de sua vida e ministério.


Dom Angélico exerceu seu episcopado com dedicação, marcando a história da Igreja no Brasil como bispo auxiliar de São Paulo e como primeiro bispo da Diocese de Blumenau, desde sua criação em 2000.


Neste momento, elevamos nossas preces a Deus, com confiança na Sua misericórdia e na promessa da vida eterna. Que o Senhor acolha Dom Angélico em Sua paz e o recompense por todo o bem que realizou ao longo de sua caminhada.
“Na casa do Pai há muitas moradas…” (Jo 14,2).


Que ele descanse na luz e na paz do Cristo Ressuscitado.

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DE PESAR E SOLIDARIEDADE DE DOM ODILO SCHERER

Em nome da Arquidiocese de São Paulo, manifesto meu pesar pelo falecimento de Dom Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Emérito de Blumenau (SC), ocorrido nesta terça-feira, 15 de abril, em São Paulo. Expresso também minha solidariedade aos seus familiares, amigos e fiéis da Diocese de Blumenau, na pessoa de seu Bispo diocesano, Dom Rafael Biernaski.

Natural de Saltinho (SP), Dom Angélico foi ordenado sacerdote em 12 de julho de 1959. Em dezembro de 1974, foi nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo por São Paulo VI, tendo recebido a ordenação episcopal em 25 de janeiro de 1975, na Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção.

Na Arquidiocese de São Paulo, entre diversos encargos, foi Vigário Episcopal nas regiões Leste 1 (atual Região Belém), em 1975, Leste 2 (atual Diocese de São Miguel Paulista), entre 1976 e 1989, e Brasilândia, de 1989 até o ano 2000, quando foi nomeado por São João Paulo II como primeiro Bispo da recém-criada Diocese de Blumenau (SC).
Como sucessor dos apóstolos, Dom Angélico dedicou sua vida ao anúncio do Evangelho, à santificação e ao pastoreio do povo de Deus, inspirado pela afirmação de fé do apóstolo São João, que tomou como seu lema episcopal: “Deus é amor” (1Jo 4,8).

A Arquidiocese de São Paulo oferece suas orações e súplicas por Dom Angélico, pedindo a Deus que conceda o prêmio da vida eterna a esse seu servidor.

São Paulo, 15.04.2025

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo

Comentários

  1. Morreu mais um Irmão , um profeta que viveu no meio de nós.
    Obrigado Don Angélico pelo testemunho de vida e compromisso com o evangelho.
    Durma o sono dos justos !

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  2. Eu morei na Vila Zatt por 50 anos do lado da paróquia trabalhei por 44 anos na amada paróquia Réu o conheci afora conversar com ele que Deus O tenha em sua gloria

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