Com este questionamento central, cerca de 900 pessoas participaram do 8º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação
O Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no interior paulista, se tornou, entre os dias 12 e 14, o centro da comunicação pastoral católica. Os diferentes sotaques indicavam a pluralidade de regiões do País, representadas no 8º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom), realizado no auditório do Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida.
Os cerca de 900 participantes refletiram sobre o tema “Pastoral da Comunicação em uma mudança de época: desafios e perspectivas”.
Renan Dantas, seminarista na cidade mato-grossense de Juína, localizada na divisa do Mato Grosso com Rondônia, levou mais de 20 horas para chegar à “Capital Mariana”, entre viagens de ônibus, carro e até trechos a pé. Já Gleison Correia fez o percurso de Taquaraçu (MG) até o Santuário a pé, por meio do projeto “Caminhos da Fé”, em um itinerário que durou cinco dias.
Uma longa viagem também foi feita por quatro jovens de Salvaterra (PA). Mas as quase cinco horas de avião passaram rapidamente, tão entusiasmados que estavam para participar pela primeira vez do Encontro Nacional da Pascom. A equipe que atua na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Prelazia de Marajó, se preparou por quase um ano para este momento.
“Tivemos aqui a oportunidade de partilhar nossos anseios e dificuldades e encontrar novas perspectivas para melhorar nossa missão na paróquia. Foi um encontro marcante”, relatou David Rogério Silva, coordenador da pastoral.
Na outra ponta do país, um grupo também se preparou com antecedência para viver nesses três dias um “encontro transformador”, como testemunhou Denise Franciely dos Santos, de Campo Mourão (PR). “Momentos formativos como este nos ajudam a crescer muito e nos enchem de conteúdo e motivação para formar os outros”, afirmou a coordenadora, que integrou um grupo de 24 pessoas que foram ao evento.
“Um encontro de comunicadores de todos os cantos, todos os sonhos e do mesmo Mestre Comunicador”, resumiu Padre Rodrigo Antônio da Silva, Vigário Episcopal para a Comunicação da Diocese de Campo Limpo (SP).
TESTEMUNHAR COM CORAGEM E CRIATIVIDADE
Na programação, que compreendeu conferências, rodas de conversa e workshops, diversos nomes da comunicação no Brasil dividiram espaço para formar e responder ao tema do encontro. Já no primeiro dia, o Monsenhor Lucio Adrián Ruiz, Secretário do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, apresentou o tema central.
O Monsenhor pediu aos participantes que se questionem sempre “sobre como transmitir a Mensagem que transforma a história em um momento em que a fé, em todo o mundo, está em discussão e, como se diz, as Igrejas estão se esvaziando”. Além disso, ele exortou os agentes da Pascom a “responder com coragem e criatividade para proclamar, com entusiasmo ainda maior, o que mudou nossas vidas, o que deu sentido à nossa existência, o que mudou a história, porque, como os Apóstolos, ‘não podemos calar o que vimos e ouvimos’”.
Ainda no primeiro dia, houve uma roda de conversa com os professores Everthon de Souza e Aline Amaro sobre inteligência artificial e como essa tecnologia pode ser utilizada para evangelizar.
A programação do sábado começou com Dom Amilton Manoel da Silva, Bispo de Guarapuava (PR) e membro da Comissão Episcopal de Pastoral para a Comunicação, que destacou que os ‘pasconeiros’ devem ser “comunicadores da esperança”.
Moisés Sbardelotto, jornalista, pesquisador, autor e colunista da Pascom Brasil, apresentou o tema “Igreja em saída nas rodovias digitais”. Ele apontou que a presença dos cristãos nas redes digitais requer que compreendam as mudanças culturais e sociais que ocorrem neste ambiente e não apenas que dominem os instrumentos para comunicar.
No restante do dia, o grupo se dividiu em sete workshops que aconteceram simultaneamente, tendo entre os temas “Como articular uma rede de comunicadores?”, “Produção audiovisual em dispositivos móveis” e “Protagonismo feminino e comunicação”.
‘ARTESÃOS DA COMUNHÃO’
O último dia do encontro, no domingo, 14, começou com a missa presidida por Dom Valdir José de Castro, Presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB. Em segui- da, aconteceu a palestra da doutora em Comunicação Irmã Joana Puntel, sobre “Artesãos da comunhão: a comunicação eclesial num ambiente polarizado”.
Ela convocou todos a se dedicarem na arte de construir comunhão. “Ser comunicador é ser artesão de comunhão, é promover encontro e interação que formam o povo de Deus”, enfatizou.
PRÓXIMOS ENCONTROS
“O 9º encontro já é um sonho, estamos na expectativa para que daqui a dois anos estejamos juntos de novo”, disse Marcus Tullius, até então coordenador nacional da Pascom.
Na conclusão do evento, ele agradeceu pelos seis anos à frente da Pascom Brasil, e Janaína Gonçalves, até então vice-coordenadora, foi anunciada como a nova coordenadora nacional.
Os ‘pasconeiros’ de todo o Brasil já têm um próximo encontro agendado: entre 25 e 28 de setembro de 2025, em Manaus (AM), no 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom), com o tema “Comunicação e Ecologia Integral: transformação e sustentabilidade”.
A comunicação católica consagrada à Padroeira do Brasil
“Durante o 5º Mutirão de Comunicação, em Belém (PA), em 2007, os agentes de comunicação pediram a Dom Orani [João Tempesta, atual Arcebispo do Rio de Janeiro], na época Presidente do Setor de Comunicação da CNBB, um encontro de formação. Dom Orani virou para mim e disse: ‘Faça no ano que vem um encontro nacional para a Pascom’”.
É assim que a Irmã Élide Maria Fogolari, religiosa Paulina, recordou ao O SÃO PAULO o surgimento do Encontro Nacional da Pascom, realizado pela primeira vez no ano de 2008.
Presente nesta oitava edição do evento, ela destacou que uma das primeiras inspirações foi a respeito do local e de consagrar a Pascom a Nossa Senhora Aparecida: “Eu senti que devia ser em Aparecida e deu certo. Desse primeiro encontro, participaram 144 pessoas e cada um recebeu uma imagem de 10cm da padroeira e consagramos a Comunicação da Igreja no Brasil à Nossa Senhora Aparecida”, relembrou a Irmã.
Dezesseis anos depois, com a quantidade de participantes quase seis vezes maior, Irmã Élide renovou no palco do encontro essa consagração, num momento que emocionou a todos. A procissão da imagem mariana pelo corredor central do auditório, erguida pelas mãos de Dom Valdir José de Castro, Presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, trouxe uma comoção coletiva e confirmou no coração de todos aquela inspiração para o primeiro encontro.
Sônia Delgado Fernandes, de Catanduva (SP), também participou em 2008 e de todas as edições seguintes: “Cada encontro tinha mais pessoas e isso mostrava o interesse na comunicação que ia crescendo mais e mais. Isso traz muita alegria”, relatou.