As coisas andam muito complicadas no campo da educação dos filhos. Sabemos que educar sempre foi um desafio e a cada época as dificuldades são diferentes. Não creio que seja um bom caminho valorizarmos demasiadamente épocas que se passaram, negando as dificuldades e os erros cometidos. Seria leviano dizer que “antigamente, sim, se sabia educar”. Claro que houve muitos erros, muitos excessos e faltas em diferentes aspectos, e isso trouxe consequências.
Havia um conhecimento menor sobre o desenvolvimento infantil em todos os aspectos, não se conhecia tão bem as etapas e processos envolvidos na aprendizagem e nem sempre se oferecia a estimulação mais adequada. Outro aspecto importante a ser considerado é que muitos pais eram autoritários e usavam de estratégias agressivas no processo educativo. Certamente, os frutos de um manejo agressivo, rude, violento não podem ser saudáveis. Muitos foram tratados com tanto rigor e dureza que acabaram encontrando dificuldades em formar uma personalidade equilibrada. Acabaram não se percebendo amados, não conseguiram apreender os valores que levavam seus pais a determinar os limites e, por fim, não viam sentido transcendente em tais limites. Soaram simplesmente como um mando arbitrário (e, em alguns casos pode, de fato, ter sido). Arrisco dizer que esse autoritarismo demasiado foi um dos fatores que contribuíram para que a atual geração de pais entre com tanta facilidade em “atalhos” educativos propostos aos montes nesta nossa sociedade moderna, fluida e desestruturada.
O problema que encontramos nesta atual geração de pais, longe de ser uma postura autoritária, violenta, agressiva, é a insegurança e o medo. Eles não têm certezas nem convicções; ao contrário, buscam fora da família referencias para sua parentalidade. O que vem de fora parece sempre mais atrativo e convincente. O medo de traumatizar os filhos é algo assustador e, por isso, as teorias que levam em conta as emoções e sentimentos ganham tanto peso para eles. Existe no mercado uma série de propostas teóricas que se nomeiam respeitosas, gentis, positivas, enfim, que oferecem técnicas bem estruturadas de manejo com o objetivo de acolher e validar sentimentos.
O que quero trazer à luz neste artigo é o seguinte: claro que não há mal em compreender os sentimentos dos filhos, em ajudar para que eles mesmos os nomeiem e compreendam. Esse processo é inclusive muito importante. No entanto, não pode parar aí. Parar neste ponto significa olharmos para as crianças como incapazes de elaborar e sublimar seus afetos e as condenamos a uma vida sentimentalista, autocentrada e apequenada. O próprio do humano, aquilo que nos diferencia dos animais, é a inteligência, a racionalidade e a capacidade de determinarmos a vontade para aquilo que consideramos o melhor. Tal melhor precisa necessariamente transcender o mundo dos apetites e afetos, senão o homem em nada se diferenciará dos demais animais. Nessa perspectiva, os afetos, embora fundamentais, precisam ser mapeados pela razão e não cultivados como centro da personalidade humana.
Ser acolhido e validado em seus sentimentos não faz do homem alguém capaz de julgar e definir o bem, o mal, a verdade e a mentira. Não dá a ele o necessário juízo moral que o capacita a escolher o bem e a verdade. Para alcançar esse objetivo, é necessário educarmos os afetos, ou seja, além de identificá-los e compreendê-los, moderá-los; tornar os filhos fortes, resilientes, para não sucumbir a eles. A educação da afetividade, associada à educação da inteligência e da vontade, formará, a longo prazo, pessoas capazes de julgar e decidir bem. Formará o juízo moral, a capacidade do agir ético de viver movido por valores sólidos.
Abram os olhos, queridos pais: sem formar o juízo moral, de nada adianta que seus filhos sintam-se somente validados e respeitados em suas manifestações sentimentais. O resultado a longo prazo será desastroso e, infelizmente, já estamos vendo tais resultados em nosso entorno: pessoas fracas, incapazes de enfrentar as adversidades próprias da vida, pequenos déspotas que querem o que querem, quando querem e não se adaptam à vida em sociedade. Eles podem mais e têm direito a mais. Têm direito a uma boa formação em todas as dimensões humanas, têm direito a viver uma vida verdadeiramente humana, livre e feliz.