‘A responsabilidade é vossa!’

No Domingo de Ramos e da Paixão, celebramos a entrada de Cristo em Jerusalém rumo à sua morte de Cruz. Ao lado da Sexta-Feira Santa, esta é uma das ocasiões em que a Igreja lê a narrativa completa da Paixão. Montado sobre um burrinho, Jesus é recebido festivamente como verdadeiro Rei de Israel. Pouco depois, no entanto, será este mesmo o motivo de sua condenação, tal como inscrito no Madeiro: “este é Jesus, o Rei dos Judeus” (Mt 27,37). 

São Mateus descreve certas particularidades do encontro de Jesus com Pilatos, o governador da Judeia que tinha poder para condenar ou soltar o Senhor. A Providência divina deu a tal homem o encargo de julgar sobre a terra Aquele que julgará o mundo inteiro. Pilatos, porém, decidiu mal e contra a própria consciência. Não quis assumir o ônus implicado pelo poder que Deus lhe conferira. No momento de pôr em jogo a reputação pessoal, preferiu “passar” o poder ao povo. Não o fez por ser um “democrata”, mas por ser fraco. Não compreendera que todo ‘poder’ comporta muito mais exigências morais do que benesses. No momento de assumi-las, disse cinicamente: “estou inocente deste sangue. A responsabilidade é vossa” (Mt 27,24).

Antes, havia perguntado: “Mas que mal Ele fez?” (Mt 27,23). Pilatos tentava a todo custo libertar Jesus, pois sua esposa lhe avisara: “Não te envolvas com esse Justo, pois muito sofri hoje em sonho por causa Dele” (Mt 27,19). Intuía que estava diante de um homem de Deus. Tanto que, ao ver o silêncio de Cristo diante de tantas acusações infundadas, “ficou muito impressionado” (Mt 27,14). Mas Pilatos falhou. O amor por si mesmo foi maior do que o amor pela verdade. Condenou Aquele que é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6) por meio de uma pergunta cínica – “mas, o que é a verdade?” (Jo 18,38) – e lavou as mãos. 

Ademais, Pilatos sabia que haviam entregue Jesus “por inveja” (Mt 27,18). Não se tratava apenas de discordâncias “teológicas” ou “morais”. Estas eram uma fachada para a inveja que, no fundo, os fariseus, sacerdotes e escribas tinham de Nosso Senhor. Esse sentimento mesquinho pode se manifestar camuflado de muitos modos: como antipatias, maledicências, ironias e críticas aguçadas. É um vício sutil e perigoso. A inveja cegou os olhos de muitos para os milagres e ensinamentos de Cristo e os levou a retribuir com ódio e com homicídio o bem que Jesus sempre praticou.

Depois da última tentativa infrutuosa de libertar o Senhor, a multidão, enfim, comandou a Pilatos: “Que o Sangue Dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos” (Mt 27,25). Eis a escolha da ‘maioria’, o homicídio, o Deicídio. Trocou-se Deus por um bandido! Quanto mal uma escolha superficial pode comportar! Mas, por bondade de Deus, esse Sangue tornar-se-ia instrumento de salvação, não de castigo. Em meio às covardias e injustiças dos homens, Deus realiza – apesar de nós – a sua obra de Salvação. Acreditemos em Cristo! Ele é a única salvação, Nele está a única esperança!

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários