E a educação religiosa?

Avistamos o fim de ano chegando rapidamente. Os pais se preocupam com praticamente um ano “perdido” na escola das crianças. O esforço on-line não dá o resultado de sucesso aos filhos, e traz muito mais trabalho para os pais. Ainda é uma incógnita como chegarão a 2021! Para os pais, o aprendizado escolar é um dos pilares da educação. Desta dependem a formação cultural, o conhecimento de metodologias de estudo, as luzes para a futura escolha profissional, a autonomia de pesquisa, sem esquecer o relacionamento social, amizades e um vasto campo de conhecimento que ajuda a promover o desenvolvimento pessoal. Portanto, é bastante razoável a preocupação dos pais com a “perda do ano escolar de 2020”.

A pergunta que coloco em pauta é: será que os pais estão igualmente (pelo menos) preocupados com a formação religiosa de seus filhos? Não vamos nos restringir ao fato de eles terem sido batizados (o que é fundamental). Não vamos dizer que compareceram às formações na paróquia, fizeram a primeira Comunhão; e até participam da missa, alguns domingos. Quem sabe poderemos dizer que já se preparam para a Crisma! Vamos ampliar a nossa questão: estamos procurando formar nossos filhos na fé cristã e colaborando para que possam crescer cada vez mais nesta vida com a santidade que se espera de um filho de Deus? O que fazemos para isso? Será que, ao longo do tempo, levamos a educação religiosa dos filhos como “anos 2020”, que se repetem?

O dever da educação religiosa para pais cristãos – católicos – pertence, antes de tudo, a eles próprios. São João Paulo II afirmava que os pais não podem delegar a educação religiosa a terceiros. Estes serão colaboradores, como a escola é colaboradora, mas não a responsável direta. E, no amplo universo da educação, a formação religiosa não pode ser vista como algo menor ou ficar na dependência de algumas aulas de Religião que serão dadas nas escolas (ainda que católicas). Ela deve se iniciar desde o berço e ser acompanhada até que os filhos caminhem com as próprias pernas, que por vezes podem bambear e precisar de ajuda.

Hábitos da infância devem ser acompanhados de participação religiosa. A imagem do Anjo da Guarda, da Mãe do Céu, e a água benta são acolhidas naturalmente e com alegria pelas crianças. Alguém poderá dizer: “Mas elas não entendem…”. Elas também não entendem por que comem ou se vestem, e nós não as deixamos passando fome e frio. E quando crescem, gostam de ouvir histórias. A Bíblia, à qual nos dedicamos de modo especial neste mês de setembro, tem inúmeras histórias, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, que fazem com que a criança vá se familiarizando com Jesus, Nossa Senhora e São José, além dos profetas e reis… Não há diferença para elas em relação aos demais contos infantis, e isso alimenta o espírito de boa formação.

Crescidos, é importante que a preparação para o sacramento da Eucaristia não seja um curso para receber um “diploma” na primeira Comunhão e guardá-lo. A Eucaristia é uma “etapa de mudança” no comportamento diário, que, juntamente com o sacramento da Reconciliação, favorece a renovação da luta por agradar a Deus. E as virtudes serão os motores nessa batalha cotidiana. Comentar alguma passagem do Evangelho que se ouviu na missa, com fatos do cotidiano familiar, ajuda a perceber o quanto a vida de Cristo se insere na nossa própria vida, passados 2 mil anos! A formação religiosa não é uma aula que se estudou para a prova e se esquece porque “não vou precisar disto”. Se essa visão já é enganosa para temas escolares, na formação religiosa mais ainda. A religião não se limita a saber, mas é alimento para a alma poder crescer e se desenvolver.

Passam os anos e a Igreja apresenta o sacramento da Crisma para que possam tomar uma decisão consciente na perseverança da fé. Agora andam com seus próprios pés. Os retiros espirituais e a direção com o sacerdote fortalecem a intimidade com Deus. O caminho está aberto a uma vida cristã, que poderá escolher pelo sacramento do Matrimônio ou, quem sabe… por uma vida de dedicação completa ao Senhor, como religioso. Não temam os pais esta opção! Pelo contrário, alegrem-se! Não deixemos a formação religiosa de nossos filhos como o ano “2020”, e, para tanto, esforcemo-nos por dar bom exemplo por meio do nosso empenho pessoal.

Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com.

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