O olhar do homem e da mulher para a natureza permite que aprendam sobre o valor da própria vida e da busca pelo essencial, como ensinado por Cristo no Sermão da Montanha: “Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta… Considerai como crescem os lírios do campo, não trabalham nem fiam… Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6,26.28.33).
Mais do que essa contemplação, que se poderia chamar de “pedagógica sobre a vida”, compete ao ser humano um agir para cuidar da integridade da criação de Deus (cf. Gn 1,26-30; Gn 2,15), uma vez que “o domínio concedido pelo Criador ao homem sobre os seres inanimados e os outros seres vivos não é absoluto, mas regulado pela preocupação da qualidade de vida do próximo, inclusive das gerações futuras” (Catecismo da Igreja Católica 2415).
Discutir as temáticas ambientais de modo a fazer com que todas as pessoas entendam que têm uma origem comum, uma recíproca pertença e um futuro a ser partilhado é “um grande desafio cultural, espiritual e educativo que implicará longos processos de regeneração”, diz o Papa Francisco na encíclica Laudato si’ (LS 202).
Neste processo, é fundamental que se consolide, em âmbito local e global, uma maior consciência sobre a educação ambiental, a qual “pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e de papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias” (LS 211).
Na mesma encíclica, no parágrafo 213, o Papa ressalta que a base da educação ambiental está na família, na qual “cultivam-se os primeiros hábitos de amor e cuidado da vida, como, por exemplo, o uso correto das coisas, a ordem e a limpeza, o respeito pelo ecossistema local e a proteção de todas as criaturas”.
Esse processo também deve ser trilhado da educação básica ao ensino superior, bem como envolver práticas educativas para além da escola voltadas à sensibilização de toda a sociedade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente, conforme postula a Política Nacional de Educação Ambiental (lei 9.795/99).
Não menos importante são as variadas políticas públicas e o agir subsidiário do Estado em projetos educativos que fomentem a cultura da sustentabilidade em todos os níveis de ensino e que podem resultar em estudantes mais interessados em pesquisar a temática e em cidadãos engajados em ações práticas como a criação de miniflorestas em espaços urbanos, reciclagem de descartáveis e a compostagem do lixo orgânico, para citar algumas experiências apresentadas nesta edição do O SÃO PAULO no Caderno Laudato si’ – por uma ecologia integral.
Como aponta Francisco na encíclica sobre o cuidado da casa comum, se há verdadeiro desejo de se conseguir mudanças profundas a respeito da questão ambiental, deve-se considerar que os modelos de pensamento influem nos comportamentos. Assim, nenhuma política local ou global sobre o meio ambiente e a sustentabilidade deve ser feita dissociada da educação ambiental.