“Eis o Cordeiro de Deus!”

Multidões iam a João em busca do batismo. Alguns pensavam que ele fosse o Messias. A atração sobre as massas e a fama de santidade não o fizeram se inchar de orgulho. No auge de seu sucesso, João soube direcionar as atenções a Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29); “eu vi e dou testemunho: este é o Filho de Deus!” (Jo 1,34).  

Afirmando que Cristo é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, João ensinou que Ele é o único que nos salva do pecado. Na Cruz, o Senhor carregaria nossos pecados, oferecendo-se de modo análogo a como então se sacrificavam cordeiros no templo, com a diferença que Ele perdoaria as culpas que estes não podiam apagar. Além disso, João declarou o que os Apóstolos demorariam a compreender: Jesus é Filho de Deus, igual ao Pai (cf. Fl 2,6). Por conta disso, Cristo seria odiado e crucificado: “blasfemas, pois sendo tu um simples homem, te fazes passar por Deus” (Jo 10,33). 

A missão de João no mundo era precisa: abrir caminho para Outro. Para isto, sacrificou o seu corpo pela penitência e a sua honra pela pregação. Os seus conselhos – como acontece a todos os profetas – eram repletos de retidão, verdade e coragem. Isso lhe valeu a admiração e o ódio de muitos. Por advertir Herodes sobre a sua união adúltera e incestuosa, sofreria a morte violenta. Fez um trabalho árido para que Cristo encontrasse almas bem-dispostas. Não guardou para si conforto, honra, nem seguidores. Direcionou tudo a Jesus, tendo como máxima “é necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). Não à toa, os primeiros Apóstolos haviam sido antes discípulos seus.

João praticou a palavra “se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer produzirá muito fruto” (Jo 12,24). Compreendeu que o sentido da vida está em morrer um pouco cada dia para que Cristo tome conta de nossa inteligência e vontade. Não somos senão instrumentos para que Ele alcance quem nos rodeia. Não nascemos para ser protagonistas, rodeados e seguidos por um “fã-clube”. Tampouco viemos ao mundo para seduzir um grupo de admiradores ou de “dependentes”, que necessitem de nós espiritual, intelectual, econômica ou afetivamente. Nascemos para sermos amados por Deus, para amá-Lo e para facilitar aos outros que o amem. 

A paternidade espiritual cristã é desinteressada. Ajuda os demais a conhecer a verdade, a desenvolver suas capacidades, a corrigir seus defeitos, a adquirir virtudes, a orar por conta própria, a receber com fruto os Sacramentos, sem procurar nada em troca, a não ser a felicidade de fazer a vontade de Deus. Pais, professores, padres e todos os que temos função de formação devemos pedir a graça de sermos fecundos, de “gerar” outras pessoas em Cristo (cf. 1Cor 4,15). Essa é nossa herança: que a fé e a caridade sejam transmitidas; que Ele se sobreponha a nós; que os mais novos sejam melhores do que nós e adquiram a “liberdade gloriosa dos filhos de Deus” (Rm 8,21). 

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Pedro Barrios
Pedro Barrios
1 ano atrás

A Deus, pai todo poderoso toda honra e glória, hoje e sempre amém.