14º DOMINGO DO TEMPO COMUM 5 DE JULHO DE 2020
Antes de sua conversão, Santo Agostinho – homem erudito e com enorme talento literário – não dava importância aos Evangelhos, pois os considerava simples demais. Mais tarde, perceberia que a simplicidade é uma de suas notas mais belas e que somente uma obra tão simples poderia conter palavras de Deus. Com reverência e desejo de santidade, é possível descobrir, por trás da simplicidade do texto sagrado, uma mensagem profundíssima.
Deus é transcendente, misterioso, e poucos O conhecem a fundo. Ele, contudo, é acessível a todos, fala ao coração de todos, quer ser conhecido e amado por todos. Todos podemos encontrá-lo: basta que o busquemos de todo o coração! Por outro lado, poucos homens poderão um dia ser ricos, inteligentes, belos ou famosos… E, no entanto, infelizmente há mais ricos, belos, inteligentes e famosos do que santos.
Isso acontece porque somente podemos compreender e colocar em prática as palavras do Senhor se Ele no-las der a conhecer: “Escondeste essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25). A primeira coisa a fazer é desejar conhecer o Senhor, pedindo instantemente a Ele esta graça. Afinal, “a Sabedoria se deixa encontrar por aqueles que a amam. Ela mesma se dá a conhecer aos que a desejam” (Sb 6,12s).
Além do desejo sincero de conhecer a Deus e sua vontade, é preciso que sejamos humildes, pois “Deus resiste aos soberbos, mas dá a graça aos humildes” (Tg 4,6). Sem humildade, não há fé. Sem simplicidade e esquecimento de si mesmo, é impossível saborear os mistérios do Senhor e viver pacificamente na sua amizade. Por essa razão, Jesus diz: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). A humildade retira-nos um grande peso das costas! Todo pecado é fruto da soberba de preferirmos nossa vontade à de Deus. O pecado se apresenta como um “conforto” para a alma e para os sentidos, mas depois traz apenas aridez e peso.
A humildade, ao contrário, leva-nos à obediência a Deus. Esta, por vezes, parece algo “pesado”, “cansativo”, mas sempre nos traz conforto, leveza de consciência e conduz à salvação.
A humildade traz grande “leveza” também nas relações com os demais. O humilde não guarda rancores, não se irrita facilmente com o próximo, não se sente injustiçado por qualquer motivo e, mesmo em meio a ambientes adversos, consegue guardar a mansidão e a paz. Com humildade, libertamo-nos de um grande peso, pois não somos aprisionados num constante conflito ou num emaranhado de complicações; aceitamos a realidade e os outros tal como são, com o que há de bom e de mau.
Enfim, a humildade serve até mesmo para nos ajudar a gerenciar o cansaço físico e mental. Quando sentimos “não posso mais”, então é que devemos seguir adiante com humildade e confiança redobradas. O Senhor nos diz: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28)! O pecado e a soberba são um peso, mas Jesus assegura: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,30).