O tesouro escondido

17º DOMINGO DO TEMPO COMUM 26 DE JULHO DE 2020

Nosso Senhor compara o Reino dos Céus a “um tesouro escondido no campo” (Mt 13,44). Na vida presente, o mundo sobrenatural permanece invisível, perceptível somente à luz da fé. A presença de Cristo na Eucaristia, a ação do Espírito Santo nos sacramentos, o sentido espiritual das Escrituras e – de modo especial – a presença da graça santificante nos fiéis são facilmente reconhecíveis somente por aqueles que, com alegria, “vendem todos os seus bens e compram aquele campo”.

Chamamos de “estado de graça” àquela disposição habitual da alma que se encontra orientada para Deus como seu fim sobrenatural. Recebemos a “graça santificante” no Batismo, quando o Espírito Santo foi derramado em nossos corações. Ela é perdida a cada vez que cometemos um pecado mortal, e deve ser restituída por meio do sacramento da Confissão. Como um tesouro escondido, ou uma semente enterrada na terra profunda, a graça divina se faz presente em silêncio na alma como o seu princípio de vida espiritual e o germe da vida eterna.

Por causa dela, Jesus disse: “Esta é a vida eterna, ó Pai: que Te conheçam a Ti, o único verdadeiro Deus, e Aquele que enviaste, Jesus Cristo!” (Jo 17,3). Possuindo fé, esperança e caridade sobrenaturais, o cristão em estado de graça santificante adquire um conhecimento amoroso de Deus e, de algum modo, já possui o Paraíso no centro do seu ser. Pode, a qualquer momento, fechar os olhos e falar com Deus, pois o seu corpo e a sua alma se tornaram morada da Santíssima Trindade. O Céu, depois das necessárias purificações, será o desdobramento desse estado habitual de amor e santidade!

A graça santificante vale mais do que todos os bens, do que a profecia e os milagres! É o grande tesouro pelo qual abrimos mão de tudo o que nos leva a pecar ou perder intimidade com Deus. Ela nos torna “deiformes”, isto é, semelhantes ao Senhor. Identifica-nos de tal modo com Nosso Senhor Jesus Cristo que Deus Pai, olhando para nós, vê os traços do Seu próprio Filho. Por causa dela, somos chamados, especialmente, de filhos de Deus!

Preservar a alma sempre em estado de graça é tão importante que, segundo Santo Inácio, o primeiro grau de humildade no caminho do amor a Deus consiste em preferir morrer a cometer um único pecado mortal! A vida espiritual começa quando abrimos mão de tudo o que nos leva à perda da graça santificante, nosso grande tesouro. Direcionando-nos ao Senhor, após a morte, a graça habitual dará lugar à visão da Sua glória! O conhecimento que ela propicia neste mundo, por meio da fé e do amor, se converterá na visão de Deus face a face.

Cultivando a graça santificante por meio da oração, da frequência aos sacramentos, da assiduidade às leituras espirituais, da mortificação dos sentidos e do exercício do amor fraterno, cresceremos diariamente na vida interior. Descobriremos as maravilhas novas e antigas do Senhor. Encontraremos a sabedoria de Cristo, maior do que a de Salomão. E viveremos, já neste mundo, com o coração e os olhos postos no Céu.

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