‘Preparai o caminho do Senhor’

2º Domingo do Advento 5 de dezembro de 2021

Segundo um axioma teológico, “A graça pressupõe a natureza e a aperfeiçoa”. Deus realiza maravilhas! Ele nos instrui, redime, santifica, une-nos a Si, comunica-nos os dons do Espírito Santo e nos salva. Mas, para tanto, não despreza nossa pobre humanidade. Ao contrário, Ele a utiliza como matéria-prima e a eleva. Como um artista que extrai uma criação preciosa do bloco de pedra rústico, assim também o Senhor quer se servir de nossa inteligência, vontade, afetos, corpo, de tudo o que somos e possuímos, para realizar uma obra-prima que perdurará eternamente.

A conversão e a santificação do cristão são obra de Deus, pois a caridade, a esperança e a fé vêm Dele. A nós cumpre que nos abramos, sejamos dóceis e nos deixemos guiar. Como o barro nas mãos do oleiro, somos modelados pela ação da graça; como a pedra, aceitamos os golpes do cinzel. Deste modo, o Senhor nos faz participantes da sua natureza, comunica-nos a graça santificante, apaga nossos pecados, ilumina-nos a inteligência, fortalece-nos a vontade, pacifica-nos as paixões e ordena-nos os sentimentos. Essa obra é Dele, é divina!

No entanto, devido ao pecado original, deixar-se conduzir por Deus e sua graça é algo que exige muita determinação e vontade de ação. Não é um ato “espontâneo” que dispense o esforço pessoal. Afinal, facilmente somos levados pelo caminho mais fácil, pelas paixões mais baixas, pelos maus hábitos adquiridos, pela mediocridade e pelo comodismo. Frequentemente, resistimos à graça e a desperdiçamos! Por isso, Jesus adverte: “Esforçai-vos para entrar pela porta estreita, pois Eu vos asseguro que muitos tentarão entrar, mas não conseguirão” (Lc 13,24).

Não é que a graça de Deus seja insuficiente para nos salvar ou que sejamos “estoicos” que prescindem do auxílio divino. O fato é que, para fazer sua obra, Deus espera que empreguemos o melhor de nossa natureza, como cooperadores! Cumpre a nós esforçar-nos! São imprescindíveis a disciplina, a assiduidade na oração, a busca constante por boa formação cristã, a luta para vencer vícios e defeitos, o sacrifício para renunciar às tentações, o recurso frequente aos sacramentos, o exercício para adquirir a humildade, a fortaleza e todas as virtudes.

Assim, compreendemos estas palavras: “Desde João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e os violentos se apoderam dele” (Mt 11,12). Como o trabalhador que ara a terra com força, temos de “preparar os caminhos do Senhor” (cf. Lc 3,4) com vigor… Como São João Batista! Ele não era a Graça mas, pela penitência e retidão moral, preparou o campo para que a Graça produzisse seus frutos. Fazendo “violência” ao pecado e às más inclinações, viveremos o seu lema neste Advento: “Que Cristo cresça e eu diminua” (Jo 3,30).

Desse modo, valerão para nós as palavras: “Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. E todos verão a salvação de Deus” (Lc 3,5-6).

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