O domingo é a nossa Páscoa semanal 

Todos os anos, nós nos preparamos, com fervor, para celebrar a Páscoa do Senhor, centro e ápice do ano litúrgico. É o dia por excelência da vitória da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado, do amor sobre o ódio. A Ressurreição de Jesus é o ato fundante da fé cristã, aquilo que dá sentido à nossa esperança. Como diz a Escritura: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos” (Sl 117,24). 

Mas essa celebração pascal anual não está isolada no tempo. Ela se desdobra, se prolonga e se atualiza a cada domingo, que, para nós cristãos, é a Páscoa semanal. O domingo não é simplesmente um dia de descanso ou de pausa na rotina. Ele é o Dia do Senhor, Dies Domini, como a tradição da Igreja o chama. 

No Antigo Testamento, o sábado era o dia consagrado ao Senhor – o sétimo dia, símbolo do repouso de Deus após a obra da criação (cf. Gn 2,2-3). O sábado recordava a aliança, a libertação do Egito, a dignidade do povo eleito. Era sinal de comunhão e de gratidão. Contudo, com a Ressurreição de Cristo, ocorrida no primeiro dia da semana, a lógica da criação foi superada pela lógica da nova criação. 

Como afirma São Paulo: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. O que era antigo passou, eis que tudo se fez novo” (2Cor 5,17). O domingo é, portanto, o oitavo dia, símbolo da eternidade e da nova vida. No domingo, Deus não apenas repousa da criação, mas recria a humanidade no Cristo ressuscitado. Nele, fomos libertos da antiga culpa e conduzidos à vida eterna. 

O Evangelho segundo João nos mostra a importância desse dia na comunidade cristã primitiva. Jesus ressuscitado aparece aos discípulos no primeiro dia da semana (cf. Jo 20,19-31), reunidos no medo e na dúvida. E aparece novamente, oito dias depois, quando Tomé também está presente. Ali está lançada a semente da Igreja dominical, que reconhece e adora o Ressuscitado, reunida em Seu nome, alimentada por Sua Palavra e pelo pão da Eucaristia. 

Desde então, os discípulos do Senhor se reúnem no domingo para celebrar a Páscoa, fazendo memória viva da Morte e Ressurreição do Senhor. A Liturgia dominical é o coração da semana cristã, fonte da espiritualidade, da missão e da identidade do povo de Deus. Santo Inácio de Antioquia, no início do século II, já dizia que os cristãos “vivem segundo o domingo”, pois é o dia em que “nasceu a nossa vida, por meio de Cristo e de sua morte”. 

Celebrar o domingo é reconhecer que Cristo ressuscitou e está no meio de nós. É proclamar que a morte não tem a última palavra. É antecipar, na fé, o banquete eterno do Reino. É dar graças, celebrar os feitos do Senhor, fortalecer a comunhão e renovar a esperança. 

Por isso, para nós, católicos, o domingo é sagrado. É o dia em que somos chamados à Missa, não como obrigação, mas como resposta de amor Àquele que nos amou primeiro. A Eucaristia dominical é a fonte e o cume da vida cristã (cf. Sacrosanctum Concilium – SC 10), na qual celebramos a vitória de Cristo e recebemos Dele o alimento que sustenta a nossa caminhada. 

Cada domingo é Páscoa. Cada domingo é renovação. Cada domingo é encontro com o Ressuscitado. 

Não se trata apenas de uma tradição, mas de um mandamento de amor: “Fazei isto em memória de mim”. O domingo nos recorda de quem somos, a quem pertencemos e para onde vamos. Ele dá ritmo, sentido e direção à nossa vida. Sem ele, nossa fé se esfria, nossa comunhão se fragiliza e nosso coração se distancia do essencial. 

Domingo é a nossa Páscoa semanal. É o dia que o Senhor fez para nós. Que nunca falte em nós o desejo de celebrá-lo com alegria, gratidão e fidelidade. 

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