Tempo Comum: Deus nos acompanha em nosso cotidiano

Arte: Sergio Ricciuto Conte

Liturgicamente, estamos no Tempo Comum, um tempo que é escola de fé, tempo de um exercício em que a professamos nas cenas cotidianas ordinárias. Por isso, cuidemos todos para que sejam dias intensos, cheios de ardor e de discernimento.

E a Igreja, em sua infinita sabedoria, na condição de Mãe e Mestra da Verdade, oferece-nos significativa passagem do Evangelho segundo São João: a das Bodas de Caná. O que poderia ser mais abençoadamente comum do que o casamento, o nascimento da família, a Igreja doméstica? No relato evangélico, ocorre um problema no casamento: o vinho acaba. O que poderia ser situação muito embaraçosa para os noivos, torna-se sinal do início da vida pública do Senhor. Havia naquele casamento dois convidados muito especiais: Maria e Jesus. Maria intercede pelos noivos e pede a Jesus que faça algo. Jesus inicialmente se recusa, pois ainda não era chegada a sua hora. Maria, contudo, volta-se aos outros e determina-lhes que façam o que Jesus lhes instruiria fazer.

Que cena linda, não? Nem mesmo Deus resiste à determinação de uma mãe. Jesus cede ao desejo de Maria de socorrer os noivos e transforma a água em vinho. As leis da natureza ensinam que a água não se transforma em vinho, sabemos bem, mas a Lei de Deus vai além do plano natural que Ele mesmo criou e faz vinho se converter em água, faz dos diferentes, um. Gosto de pensar que se trata de imagem prefigurada do milagre de transubstanciação, o mais profundo de todos os mistérios da fé. Jesus age segundo a instrução de sua mãe, e isso é de uma densidade teológico-espiritual poderosíssima. A primeira intercessão de Maria registrada na história é a própria Palavra de Deus. Penso que dizer mais é desnecessário, não?

O Tempo Comum nos é aberto por uma cena… comum, abençoadamente comum. Jesus não fez seu primeiro sinal em um monte, dentro de um templo ou de uma biblioteca. Não. Não fez também em um ambiente sofisticado, erudito, especialmente preparado para tanto. Fez em meio a uma festa, bebendo vinho (decerto, moderadamente), dançando, confraternizando, abraçando alegremente os demais convidados. Fez não por vontade própria, ao menos imediatamente, mas pela intercessão piedosa de sua Mãe. Houve um primeiro esvaziamento no milagre da Encarnação. Esse foi o segundo: o da obediência à sua mãe.

Que cenas fantasticamente comuns, poderosas, emblemáticas, catequéticas: festa, formação de família, obediência aos pais, compaixão e solução de adversidade. Em um casamento se deu a inauguração oficial, por assim dizer, da vida pública de Jesus. O cotidiano elevado ao plano da santidade ou a santidade mergulhada no cotidiano. Tanto faz. Jesus está conosco em todos os momentos. Está no casamento, que é Sacramento, está no nosso trabalho, está quando cravamos os joelhos no chão e rezamos, está em nossas casas, está no nosso lazer. Está sempre conosco, como Ele mesmo disse e prometeu. Jesus é a causa nos momentos bons e o amparo nos ruins.

Não há dúvida alguma de que Ele está sempre conosco. A única dúvida nesse contexto reside nesta pergunta: e nós, estamos também com Ele o tempo todo? Que o Tempo Comum nos ajude a meditar sobre como nós retribuímos o Amor de Deus e o que efetivamente fazemos no dia a dia para passarmos a vida a fazer o Bem.

Bom Tempo Comum, escola de fé, caminho também para a Quaresma e a grande celebração do ano litúrgico e de nossas vidas: a Páscoa.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários