Os mitos educativos: a arte de aprisionar os pais e impedir o crescimento saudável dos filhos

A cada dia que passa, fico mais impressionada com a paralisia que acomete os pais em relação ao processo educativo dos filhos. 

Sem dúvida nenhuma, houve tempos complicados no que diz respeito às relações familiares, em que pais exerciam o mando por meio de atitudes autoritárias e pouco afetivas. Se olharmos para a história, veremos que isso fazia parte de toda uma condição sociocultural específica e de uma visão reduzida do que é a criança e de como se dá seu desenvolvimento. Desde muito cedo, as crianças eram tratadas como pequenos adultos no que diz respeito ao comportamento e responsabilidade. Havia um nível de exigência enorme e pouca afetividade nas relações parentais. 

Com o progresso dos estudos e todas as mudanças socioculturais dos últimos séculos, as relações familiares sofreram alterações importantes – algumas bastante positivas; outras, no entanto, absolutamente nocivas. As crianças ganharam um status diferente, uma vez que se sabe melhor como se dá o processo de aprendizagem. A infância foi valorizada e a criança vista como pessoa em processo de formação. A comunicação entre os membros da família se tornou mais aberta, os papéis de cada um foram se adaptando às novas realidades enfrentadas pela família. No entanto, no que diz respeito ao processo educativo das crianças, passou-se de um extremo a outro: se antes eram ensinadas de modo autoritário e, por vezes, agressivo, hoje, com medo de serem autoritários, de perderem o amor dos filhos, de os traumatizarem, os pais acabam sendo absolutamente contemplativos – assistem a comportamentos que precisariam de intervenção educativa sem se sentirem aptos a educar sem causar danos maiores. 

Essa paralisia está intimamente ligada a correntes educativas advindas de filosofias iluministas, marxistas e psicanalíticas, que acabam por opor autoridade à liberdade, identificam liberdade com a possibilidade de se fazer o que se quer a cada momento e identificam a felicidade com o prazer. 

Sem que percebam, os pais tomam hoje em dia o querer imaturo dos filhos como uma realidade diante da qual cabe obedecer e, assim, vemos com preocupação uma inversão de papéis, que ouso dizer, talvez a mais grave da história: pais obedecem aos desejos e quereres infantis sem se darem conta de que tudo que os filhos precisam para se desenvolverem bem é de pais que os liderem e os encaminhem exatamente na direção de dominar os quereres imaturos e aprender a querer o que realmente vale a pena. 

Estamos diante de pais paralisados, enfraquecidos, criando filhos sem direção, sem sentido, sem estrutura psíquica e espiritual para enfrentar a vida e chegar ao máximo de seu potencial. Existe uma preocupação excessiva com o trauma que a frustração provoca, mas não há a percepção de que a omissão também marca negativamente a vida daquele ser que precisa de direção para poder empreender a caminhada de crescimento. 

Educar uma criança, lapidar uma alma, forjar um caráter é trabalho sério e exigente. Não adianta buscarmos um modo fácil ou cômodo de fazer. Essa missão é árdua e é justo que seja, afinal, as grandes batalhas exigem grande empenho. Podemos e devemos encontrar nessa missão um modo alegre, bem-humorado e amoroso de conduzir, no entanto, facilidade não combina com o tamanho de tal missão. 

Pais, não tenham medo de descontentar seus filhos, de contristá-los quando seus quereres forem inadequados, imaturos – eles não têm a menor condição de escolher, por isso foram confiados a vocês. Não deixem vago esse lugar de honra que pertence a vocês – os primeiros e principais responsáveis por formar essas pessoas preciosas. Dessa formação dependerá a felicidade deles. Não sejam omissos, não obedeçam a seus filhos imaturos, ao contrário, sejam uma autoridade segura na vida deles. 

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site ww.simonefuzaro.com.br. Instagram:@sifuzari 

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