Sal da terra e luz do mundo na internet

Em meu último artigo (Vida real, mundo virtual e a realidade paralela), abordei sobre nossa relação com os nossos mundos “real e virtual”. Lembrei que as aplicações que nos dão acesso a esse mundo são controladas por empresas, focadas no lucro, na expansão e na ideologia.

Apontei, também, para os riscos da ilusão de nos sentirmos atraídos por nosso perfil social, que possui mais amigos e melhores relações do que nós mesmos aqui no mundo real. Além de fazer uma provocação sobre a solução para esta questão e outras, que seria sermos “sal da terra e luz do mundo na internet”.

Convenhamos, essa frase em si parece desconexa. Ao falar sobre “sal da terra e luz do mundo”, é certo que Jesus não se referia à internet? A resposta mais adequada me parece ser: por que não?

Falamos do risco de termos duas personalidades distintas, uma aqui e outra no mundo virtual, mas é preciso lembrar que esse risco não é novo. Em nossas vidas cotidianas, muitas vezes vagamos entre mundos distintos, com relações e comportamentos muito específicos, como é o caso do trabalho, da família, dos amigos, da escola ou até mesmo da Igreja.

Se é fato que não podemos nos comportar igualmente no trabalho e em casa, o que dizer a respeito de nossas condutas? É possível ser cristão na Igreja e não o ser no trabalho? Ou na família?

Trazendo para o nosso tema, seria possível ser cristão no mundo real, e não o ser no mundo virtual?

Se o mundo anda ruim, seremos nós, então, a torná-lo melhor, sendo tempero e luz. Não se espera que utilizemos as redes sociais para compartilhar o Evangelho (isso também pode), mas o cristão não pode ser como um “agente secreto”. Uma pessoa que ninguém nunca percebeu, morreu e nunca se soube de sua fé. É nas nossas ações e nas nossas opiniões que a voz de Cristo, a Verdade, deverá ser ouvida.

O mundo virtual, ao contrário do que dizem, não nos dá uma carta de alforria da vida real, ou como que uma “licença poética” para o livre pecado. Como se desejar quem não existe, ou roubar o que é virtual, não fossem também desvios de nossas virtudes.

É certo que, ao final das nossas vidas, receberemos um sonoro “game over” e não há vidas sobressalentes. Céu e inferno não são virtuais, não há “restarts” nem “reloads”.

Se no campo psicológico, o mundo virtual nos apresenta riscos; no campo espiritual então estamos em grande perigo. E o que está em jogo aqui é algo muito mais importante do que a nossa sanidade, é a nossa eternidade.

Somos chamados a ser um só em todos os ambientes em que vivemos. Coerentes com nossos valores e com nossas crenças. Nossa defesa é pela verdade: Cristo.

Como na “vida real”, quando confessamos nossos pecados por “atos e omissões”, assim deve ser nosso comportamento no “mundo virtual”. Devemos ser reconhecidos pelo nosso DNA de “imagem e semelhança” com que fomos criados.

Como luz, não podemos compactuar com o mal, ser parte dele. Não podemos ser também nós os semeadores da discórdi

Como luz, não podemos compactuar com o mal, ser parte dele. Não podemos ser também nós os semeadores da discórdia, do pecado e da mentira. Como sal, não podemos nos omitir e deixar de dar o nosso tempero, defendendo a Verdade e os valores do Cristo.

Se assim somos chamados na vida real, em nosso pequeno número de amigos, quanto mais na internet, onde seremos vistos por milhares de pessoas.

Sim, Jesus nos pediu que fôssemos “sal da terra e luz do mundo” em todos os lugares onde estivéssemos. Não estamos também nas redes sociais e na internet?

Encerro este artigo lembrando o que nos disse Jesus, e que deve valer também para nós na internet:

Não oro para que os tires do mundo, mas, sim, para que os protejas do príncipe deste mundo. Eles não são do mundo, como também Eu não sou. Santifica-os pela tua verdade; a tua Palavra é a verdade (João 17,15-17).

A saída então é realmente sermos “sal da terra e luz do mundo na internet”. Não importa se nos sintamos como uma minoria. Não importa se seremos criticados ou, quem sabe, até mesmo cancelados.

Se o mundo vos odeia, sabei que, antes de vós, odiou a mim. Se fôsseis do mundo, ele vos amaria como se pertencêsseis a ele. Entretanto, não sois propriedade do mundo; mas Eu vos escolhi e vos libertei do mundo; por essa razão, o mundo vos odeia (João 15,18-19).

O que não podemos é deixar de ser aquilo que Deus nos enviou a ser: sal da terra e luz do mundo.

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