Hoje respondo à seguinte dúvida do Rodrigo Motta: “Qual explicação o senhor daria para o caso dos vocacionados que vão para o seminário e acabam perdendo a vocação?”
Rodrigo, a vocação para nós, cristãos, é coisa séria. É muito mais do que tendência, muito mais do que jeito para alguma coisa. Vocação, para nós, é chamado de Deus. É Deus entrando na vida de uma pessoa e dizendo: “Olha, eu preciso de você”. E é a pessoa dizendo “sim” a Deus.
Entre os muitos chamados que Deus faz aos homens e mulheres, o primeiro é o chamado à vida. Viver é maravilhoso, não é? E viver bem, ser feliz, realizar plenamente suas potencialidade, é dizer “sim” ao Deus da vida que nos tirou do nada para a existência.
Depois, Deus chama homens e mulheres a serem seus filhos na vida cristã. Deus, nosso Pai, quer reunir todos os homens e mulheres e fazer deles a sua família, a sua Igreja. Ele chama para esta vida pelo Batismo, que nos dá uma vida nova, nos insere no Corpo de Cristo que é a Igreja, nos faz filhos adotivos de Deus, irmãos de Jesus, torna-nos templos do Espírito Santo, nos faz cristãos. Viver intensamente a nossa fé, em profunda comunhão com Deus, com os irmãos e com o mundo criado é o nosso sim ao chamado à vida cristã.
Entre os cristãos, Deus também faz alguns chamados especiais. Ele chama para o serviço de santificar os irmãos na fé, para o serviço de anunciar ao mundo a boa notícia de salvação aos que ainda não a conhecem, e ao serviço de ajudar os filhos de Deus a viverem em comunhão em comunidade. Esta é a vocação sacerdotal.
E há, também, aquela vocação que Deus faz a muitos de seus filhos e filhas para serem sinais do seu amor junto aos pequenos e fracos, junto aos excluídos, junto aos pobres que Deus tanto ama. É a vocação à vida religiosa.
Agora, por que muitos vocacionados “perdem a vocação?”. Eu não concordo com isso. Eu não acho que se perdem vocações nos seminários. Eu acho, sim, que o seminário é tempo de discernimento vocacional, por meio do acompanhamento vocacional; pela escuta atenta da Palavra de Deus; pela oração pessoal e comunitária; pelo acompanhamento de homens de Deus que se dedicam à formação.
No tempo de seminário, os vocacionados vão avaliar se sua vocação é real ou se não se trata apenas de um entusiasmo passageiro. E avalia-se, também, se aquele jovem está maduro física e psicologicamente para assumir a missão que Deus e a Igreja estão lhe propondo.
No seminário, então, não se perdem vocações. As vocações se perdem, isso sim, naqueles ambientes onde é difícil se ouvir a voz de Deus e onde no coração do jovem ecoam muitas outras vozes que abafam os apelos de Deus.
Rezemos pelas vocações. A Igreja precisa delas para continuar gritando ao mundo que vale a pena ouvir, acolher, amar, seguir e testemunhar Jesus Cristo.