Celam: elaboração da síntese da fase continental do Sínodo entra na fase final

Termina na segunda-feira, 20, na sede do Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (Celam), em Bogotá, na Colômbia, a reunião, iniciada na sexta-feira, 17, com representantes da Igreja no continente que são responsáveis pela redação de uma síntese fase continental do Sínodo 2021-2024, convocado pelo Papa Francisco, com a temática da sinodalidade.

Fotos: Celam

Foram momentos intensos de oração, conversa fraterna e reflexão para se chegar à redação da síntese, que expressa o desejo da Igreja que quer sempre mais converter-se, renovar-se para ser cada vez mais fiel à sua vocação de comunidade de discípulos-missionários de Jesus Cristo.  

A síntese buscará ser fiel aos apontamentos feitos pelo povo de Deus durante as fases de consulta e escuta, agrupando-os em prioridades.

Entre os dias 21 e 23, os secretários gerais e os presidentes das conferências episcopais irão reler colegialmente o relatório, para possíveis apontamentos e complementações, antes do envio à Secretaria Geral do Sínodo, que será feito em 31 de março, para juntar aos relatórios dos demais continentes, os quais serão a base do Instrumentum Laboris da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que ocorrerá em outubro deste ano e em outubro de 2024.

UMA PEREGRINAÇÃO ECLESIAL SINODAL

Em entrevista ao Vatican News, Dom Miguel Cabrejos, Presidente do Celam, reiterou que concluída esta etapa, “o sentimento de todo o povo é que está realmente a viver um kairos, um tempo de graça, guiado pelo Espírito de Deus, porque de outra forma não se compreenderia como este trabalho foi realizado”.

Dom Miguel Cabrejos assinalou que “este processo do Sínodo da Sinodalidade decidimos levá-lo a cabo presencialmente em cada uma das [quatro] regiões do continente”, algo que ele define como “uma peregrinação eclesial sinodal”.

“Eclesial porque o povo de Deus estava representado de uma pequena forma”, sublinha o presidente do Celam, salientando que entre os 406 participantes nas quatro assembleias havia “leigos, leigas, religiosos e religiosas, diáconos, sacerdotes, bispos, eclesialmente”.

Além disso, sublinha que “tem sido sinodal, temos caminhado juntos, temos sentido juntos, temos ouvido juntos as opiniões, as preocupações e também as contribuições, tem sido um verdadeiro caminho sinodal, juntos”.

Dom Miguel Cabrejos sublinha que “tem havido um verdadeiro espírito de comunhão, porque todos nos entendemos apesar das diferenças linguísticas”, dado que nos países que fazem parte do Celam se fala espanhol, português, inglês e francês, “mas no final, apesar das diferentes línguas, todos nos entendemos uns aos outros”.

O presidente do Celam salientou que todas as conferências episcopais tinham participado, o que ele considerou um grande feito. Salientando mais uma vez a orientação do Espírito de Deus no processo, salientou que “o Espírito sopra onde quer, quando quer e como quer”, insistindo que “certamente não seria possível se o Espírito de Deus não estivesse no nosso meio”.

AMBIENTE ESPIRITUAL

Um processo que “se desenvolveu numa atmosfera espiritual, houve oração, houve eucaristia, e também a liturgia foi bem realizada, a riqueza intercultural litúrgica, com as suas próprias expressões”, sublinha.

Dom Miguel Cabrejos salienta que “o método da conversa espiritual, esse método que é particular, especial, mas é o método que nos permite ouvirmo-nos uns aos outros sem preconceitos e de uma forma quase horizontal. Permite-nos ouvir o que Deus quer para a sua Igreja, para todos”. Juntamente com este valioso método, ele recorda que “o discernimento comunitário tem sido praticado, o que, como alguns dizem, tem sido algo perdido na Igreja. Antes de tomar uma decisão, ouvir, discernir comunitariamente e poder agir”.

A partir daí, sublinha que “isto foi praticado, um discernimento comunitário em todos os grupos, em todas as regiões, eclesialmente”.

O Presidente do Celam recorda que tem havido participação das periferias geográficas e existenciais, mencionando a presença de povos originários, afrodescendentes e pessoas vulneráveis.

Em relação aos jovens, salientou a importância do Sínodo Digital, com a participação de dois influencers em cada região “para que possam explicar o que é o Sínodo Digital, como funciona, o que acreditamos ser uma porta para o mundo, para os jovens, uma das portas à parte da presença”. Também destaca como tema recorrente “o papel das mulheres e a sua participação na Igreja, tem sido um tema persistente. Mas não só a participação de forma genérica, mas também a participação na tomada de decisões”.

“Os participantes estão conscientes de que não há regresso no caminho sinodal que foi iniciado”, insiste Dom Miguel Cabrejos. A partir daí, assinala que “uma nova forma de ser uma Igreja sinodal está a ser implementada, está a ser acentuada”, o que ele considera fundamental. Destaca também as conferências de imprensa realizadas em todas as assembleias, “onde foi dada informação de acordo com a região”, tendo em conta as nuances e problemas regionais.

Um processo que deve continuar a ser prolongado, insiste o presidente do Celam, porque “não pode ser considerado como um evento, que foi organizado, foi realizado e morre, deve ser uma continuidade, a tenda deve ser alargada”, o que ele considera extremamente importante como método, como forma. Neste sentido, o prelado peruano sublinhou que “a corresponsabilidade de todos foi acentuada, corresponsáveis pela graça do Batismo, também no aspecto ministerial”.

NA AMÉRICA LATINA, O POVO AMA O PAPA

E juntamente com isto destaca a presença do Papa, afirmando que “na América Latina é muito claro o que a Gaudium et Spes ensina, o Papa é o princípio da unidade, da comunhão na Igreja”, insistindo que “na América Latina o povo ama o Papa”. Por esta razão ele diz acreditar que “fizemos um processo de caminhar juntos, eclesialmente, sinodalmente, em comunhão, mas também em comunhão com o sucessor de Pedro, com Pedro e sob Pedro”.

Não podemos esquecer que a sinodalidade, mais do que uma ideia, é uma forma de ser Igreja, e o Celam pode ser considerado uma escola de sinodalidade, um exemplo disso é a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe ou a Conferência Eclesial da Amazónia (Ceama), algo em que Dom Miguel Cabrejos insiste, dizendo que “o Celam é uma escola de sinodalidade”.

O Presidente da Conferência Episcopal Peruana afirmou que “o Celam quer ser uma escola de sinodalidade, mas esta escola de sinodalidade não é nova, existe desde o Rio de Janeiro, Medellín, Puebla, Santo Domingo, Aparecida. Há um espírito sinodal, de caminhar juntos, sempre foi feito”.

O presidente do Celam destaca como esta sinodalidade “foi expressa muito mais na Assembleia Eclesial, uma questão sem precedentes que o Papa queria e que foi levada a cabo, não perfeitamente, porque de repente houve questões que realmente faltavam, que deveriam ter sido levadas a cabo, mas na sua maioria a projeção existiu”.

Sobre a Assembleia Eclesial, sublinha que “foi uma grande escuta do povo de Deus, um processo de assembleia, alguns textos para reflexão, um processo de pós-apresentação, e juntamente com isso, tudo o que foi organizado com a Conferência Eclesial da Amazónia. A Amazónia é outra das expressões sinodais, mas há também Repam, Remam, REGCHAG, todos são processos que o Celam tem feito e está a fazer agora, ainda mais com esta visita in loco de discernimento comunitário em todas as regiões do Celam”.

(Com informações de Celam e Vatican Media)

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