‘Dom Cláudio lançou muitas sementes de Evangelho, esperança e vida nova’

Afirmou o Cardeal Odilo Scherer, na missa exequial do Arcebispo Emérito de São Paulo

Núncio Apostólico no Brasil preside rito de encomendação do corpo do Cardeal Cláudio Hummes (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Na manhã da quarta-feira, 6, centenas de fiéis se reuniram na Catedral da Sé para rezar pelo Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo e Prefeito Emérito da Congregação para o Clero, falecido na segunda-feira, 4, aos 87 anos.

O funeral, iniciado na noite da segunda-feira, foi concluído com uma Santa Missa presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro.

Conforme prevê os ritos fúnebres, o caixão com o corpo de Dom Cláudio foi colocado no chão do presbitério, tendo sobre ele o livro dos Evangelhos aberto. Ao seu redor, diversos arcebispos, bispos e sacerdotes, entre os quais os Cardeais Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo; Sergio da Rocha, Arcebispo de Salvador (BA) e Primaz do Brasil; Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ); e Raimundo Damasceno Assis, Arcebispo Emérito de Aparecida (SP).

VIDA ETERNA

A homilia foi proferida pelo Cardeal Scherer, que partiu da citação do Evangelho segundo São João, no qual Jesus afirma: “Quem vê o Filho e nele crê tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia”.

“Poderia haver palavra mais confortadora para nós, que celebramos a despedida do estimado Cardeal Cláudio Hummes? Ele creu nisso e dedicou sua vida inteira para proclamar que Jesus é o Filho de Deus e para ajudar outras pessoas a se encontrarem com Ele e também crerem Nele”, afirmou Dom Odilo, ressaltando que a morte nem sempre tem explicação racionalmente aceitável. “Mas a fé e a confiança em Deus nos dão motivo de serenidade: É Ele quem vive e é a fonte da vida”, completou.

Ao destacar a “vida longa, operosa e exemplar” de Dom Cláudio, o Cardeal Scherer compartilhou a experiência de trabalhar e conviver com aquele ao qual viria a suceder como Arcebispo de São Paulo. Ele sublinhou que, em sintonia com as experiências vividas pela Igreja na celebração do Jubileu do ano 2000, suas preocupações eram a evangelização renovada e a caridade organizada.

Nessa ocasião, em Roma, São João Paulo II levantava a voz para enviar toda a Igreja novamente em missão e anunciava: “Duc in altum”, algo como: “Levem o barco para águas mais profundas!” (cf. Lc 5,4). “E Dom Cláudio dizia em São Paulo: a missão precisa ser retomada, pois a Igreja é missionária por sua própria natureza! Não se trata de fazer missão por alguns dias e, depois, fazer o encerramento dessa atividade: a Igreja precisa estar em estado permanente de missão!”, recordou o Cardeal Scherer.

Dom Odilo afirmou que o Cardeal Hummes também imprimiu ao encargo na Congregação para o Clero a “marca missionária”, dando instruções para renovar a formação do clero, enfatizando que “a dimensão missionária deveria integrar a formação de todos os sacerdotes, cujo ministério é missionário por sua própria natureza”.

Por fim, Dom Odilo recordou os últimos meses da vida do Cardeal Hummes, ressaltando que nas celebrações da Eucaristia, todas as manhãs, em sua residência, ele encontrava forças para continuar sereno e forte. “Pude testemunhar pessoalmente, em vários momentos, essa sua força interior. Ele dizia, cheio de confiança e serenidade, como quem tem a consciência clara de ter cumprido a sua missão neste mundo: estamos nas mãos de Deus”, disse o Arcebispo de São Paulo.

(foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

“Ao longo de sua vida, Dom Cláudio lançou muitas sementes de Evangelho, esperança e vida nova. Que elas brotem e frutifiquem ao longo do tempo. E que ele agora descanse de suas fadigas,” concluiu.

Como representante do Papa, o Núncio Apostólico ressaltou o conteúdo do telegrama enviado por Francisco a Dom Odilo, no qual manifestou seu pesar pelo falecimento daquele a quem se referiu como “querido irmão” e recordou: “Trago sempre vivas na memória as palavras que Dom Cláudio disse, no dia 13 de março de 2013, pedindo-me que não me esquecesse dos pobres”.

Dom Joel Portella Amado, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro e Secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou que o Cardeal Hummes ensinou a todos o amor aos pobres e à Amazônia, da qual falava com “brilho nos olhos”.

HOMEM BOM

Em nome do clero, o Monsenhor Sergio Tani, Vigário Judicial da Arquidiocese, o primeiro ordenado pelo então Arcebispo de São Paulo, em 1998, expressou o pesar pelo falecimento do Cardeal Hummes, recordando sua biografia e serviços prestados à Igreja.

“Em seu coração de pastor, nunca faltou aquela preocupação especial com a formação do clero. Se via, era notório, que o Seminário era a pupila de seus olhos, também por isso foi chamado pelo Papa Bento XVI para que assumisse como Prefeito da então chamada Congregação para o Clero, hoje Dicastério para o Clero, colaborando muito de perto com o Papa no cuidado e solicitude pelos sacerdotes do mundo inteiro… Em Roma, no Vaticano, era comum ser chamado de ‘Uomo buono e semplice’: ‘homem bom e simples’, que nunca deixou de ser franciscano, no modo de se comportar, de tratar as pessoas e de viver” (leia a íntegra).

O governador Rodrigo Garcia afirmou que o Cardeal Hummes nunca esteve tão atual em suas palavras e ensinamentos. “A sua luta contra a desigualdade social, sua luta em favor dos pobres, a sua luta em defesa do meio ambiente, das minorias, dos povos indígenas,” destacou, concluindo que “nós todos nos despedimos de um grande brasileiro”.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, destacou que fica gravada em sua memória a frase que Dom Cláudio disse ao Papa Francisco, para não se esquecer dos pobres. “Não tenha dúvidas, Dom Cláudio, que o que disse para o Papa ecoará no ouvido de cada um de nós, durante todos os tempos”, ressaltou.

(foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

SEPULTAMENTO

Na conclusão da missa, o Núncio Apostólico presidiu o rito de encomendação do corpo do Cardeal Hummes. Em seguida, carregado por sacerdotes, sob preces e cânticos, o corpo do Arcebispo Emérito foi conduzido até a cripta, no subsolo da Catedral, onde foi sepultado.

Como última homenagem, seus familiares – irmãos, sobrinhos e sobrinhas-netas – vindos do Rio Grande do Sul, depositaram flores no túmulo de Dom Cláudio, as mesmas flores que foram colocadas junto ao seu caixão por pessoas em situade rua, durante o velório.

Enquanto o túmulo era fechado, após a leitura da ata do sepultamento, cardeais, bispos, sacerdotes e familiares, presentes na cripta, entoaram o cântico católico popular: “Com minha Mãe estarei, na santa Glória um dia. Junto à Virgem Maria, no céu triunfarei”.

Por fim, a cripta foi aberta para a visitação dos demais fiéis, o que poderá ser feito também nos próximos dias.

(Colaborou: Fernando Arthur)

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