Memórias de Dom Cláudio Hummes: ‘Vocês me ajudaram a construir uma comunhão eclesial muito bonita’

Ao se despedir de São Paulo, em outubro de 2006, após ser nomeado Prefeito da Congregação para o Clero, o Cardeal Cláudio Hummes falou ao O SÃO PAULO sobre os oito anos e meio à frente da maior arquidiocese do País. 

Luciney Martins/O SÃO PAULO

O Purpurado destacou as experiências vividas nesse período e agradeceu aos católicos paulistanos, os quais o ajudaram a “construir uma comunhão eclesial muito bonita”. Confira os principais trechos da entrevista: 

O SÃO PAULO – Qual trabalho mais lhe deu alegria e qual mais lhe tirou o sono na Arquidiocese de São Paulo? 

Cardeal Cláudio Hummes – O que mais me deu alegria seria difícil de dizer. Eu destacaria duas coisas que foram muito importantes durante o meu governo aqui em São Paulo. Primeiro, o Seminário da Caridade, que nos ajuda a ter uma presença melhor no âmbito social aqui na cidade. Segundo, a questão missionária, que creio que, de fato, cresceu substancialmente. A gente vê que, mais e mais, os nossos padres e leigos estão entendendo e abraçando a missão como algo fundamental. Algo que está me dando alegria depois de uma verdadeira tempestade é a PUC-SP. De fato, acabei não dormindo algumas noites com medo de que a nossa universidade fechasse. Graças a Deus, recebi a cooperação de tantas pessoas, mesmo da comunidade acadêmica, e agora a PUC-SP já está reerguida, só precisa se consolidar. 

E em relação às pessoas, seus bispos, sacerdotes e agentes de pastoral, que sentimentos o senhor leva no coração? 

É claro que as pessoas são ainda mais importantes do que as instituições da Arquidiocese e minhas ações. As pessoas é que são fundamentais. Eu tive muita alegria com meus bispos auxiliares, tanto os que eu recebi de Dom Paulo [Evaristo Arns], um grupo com quem estive por dois anos. Sinceramente, eles tiveram papel relevante para que eu fosse bem acolhido aqui. Tínhamos, obviamente, em alguns pontos, visões diferentes. E nem poderia ser de outra forma. Cada bispo é um novo tempo e tem que ser muito independente para pastorear. Depois, o novo grupo de auxiliares foi um verdadeiro presente do céu que eu recebi. Trabalharam sempre muito bem comigo. Alguns já foram transferidos, outros permanecem aqui e outros ainda foram acrescentados, mas todos muito bons. O clero em São Paulo é um clero muito valoroso, que tem uma qualidade muito grande, uma história muito importante, um trabalho pastoral muito amplo e profundo, sobretudo na questão dos pobres. Eu aprendi muita coisa. Claro que onde tem 700 e tantos homens trabalhando juntos, sempre há problemas, e isso é natural. Sobre esse aspecto, todos os cleros têm alguma dificuldade. Mas eu fui muito feliz com o clero em São Paulo. Amo este clero e vou levá-lo no meu coração, assim como levo o de Santo André e o de Fortaleza também. Quanto ao povo, nem tenho como agradecer. O povo nos acolhe e nos recebe sempre muito bem, sobretudo quando nós conseguimos dar-lhes um pouco de atenção, e a gente deve dar atenção não só porque quer fazer um agrado, mas porque o povo de fato merece. Às vezes, domingo à noite, eu tenho mais uma missa e já estou cansado, então digo ‘meu Deus do céu, ainda tem mais uma missa’. Mas eu vou e quando chego lá recebo o carinho do povo, celebro com alegria, acabo saindo renovado, satisfeito, pensando ‘que bom, meu Deus, que eu vim celebrar aqui’. O contato com o povo é sempre restaurador.

Que mensagem o senhor deixa para o povo de São Paulo? 

A primeira mensagem seria de agradecimento. Agradeço a todo o povo de São Paulo, de modo muito especial aos católicos das nossas comunidades. Quero agradecer o carinho, a acolhida fraterna com que sempre fui recebido. Vocês me ajudaram a construir uma comunhão eclesial muito bonita. Agradeço aos padres, de coração. Nós fomos, juntos, um corpo de pastores fiéis, a quem foi confiada esta Igreja, e este corpo fez, de fato, um trabalho admirável. Levo a todos no coração. Quero também deixar uma mensagem de esperança, porque um novo arcebispo virá e será um novo tempo para a nossa querida Arquidiocese. Tenham a certeza de que o novo arcebispo será diferente de mim, assim como eu fui diferente de Dom Paulo. Isso é bom. Cada novo bispo, repito, é um novo tempo para a diocese. É assim que ela se renova, cresce, enfim, se desenvolve. Espero, realmente, que vocês possam fazer uma bela história com o novo arcebispo.

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