Estima-se que ao menos 1 milhão de uigures tenham sido internados pelo governo chinês em campos de concentração na Província de Xinjiang
Uma mulher uigur que trabalhou a maior parte de sua carreira como médica na China, a serviço do governo do País, disse à ITV, uma agência de notícias britânica, que ela participou de abortos forçados e esterilizações a pedido do governo chinês, em um plano de controle populacional cujo objetivo é conter o crescimento da população uigur.
A mulher, que foi mostrada pelas costas durante a entrevista, mas não identificada, disse à ITV que estava compartilhando sua história como parte de um esforço por redimir-se de seu passado. A entrevista foi transmitida no último dia 2 e a mulher hoje se encontra na Turquia, onde estão muitos refugiados uigures.
“A intenção era claramente de limpeza étnica. Nos pediram que acreditássemos que isso era parte do plano de controle populacional do Partido Comunista”, disse ela. “Na época, eu pensava que esse era meu trabalho”.
Acredita-se que ao menos 1 milhão de uigures tenham sido internados em campos de concentração na província chinesa de Xinjiang. Grupos de direitos humanos documentaram a existência de um “lento genocídio” contra os uigures, por meio de esterilizações forçadas e abortos, retirada de órgãos, doutrinação política e tortura.
A mulher destacou os vários esforços de “controle populacional” que ela realizou durante seu trabalho na China: “Em 20 anos, eu participei de, ao menos, 500 a 600 operações, incluindo contracepção forçada, aborto e esterilização forçados e remoção forçada de úteros”.
“Nós íamos de vila em vila, reuníamos todas as mulheres […] em mulheres jovens eram introduzidos dispositivos contraceptivos. Mulheres grávidas tinham que ter um aborto e serem esterilizadas. Nós até inseríamos implantes de controle de natalidade no braço das mulheres, para evitar a gravidez. Era assim que o governo perseguia as mulheres uigures”, recordou.
Segundo ela, os bebês sobreviventes à tentativa de aborto eram assassinados logo após o nascimento, por uma injeção letal ou simplesmente jogados no lixo enquanto ainda vivos.
“Hoje, sinto tanto arrependimento”, disse ela. Agora na Turquia, essa médica trabalha com mulheres uigures, muitas das quais não falam turco. Parte de seu trabalho é tentar desfazer as medidas de controle de natalidade às quais essas mulheres foram submetidas.
Em outubro de 2018, o governo chinês admitiu que havia criado “campos de reeducação” para membros da população Uigur, e disse que se tratava de uma estratégia para prevenir a difusão do terrorismo entre eles. As estimativas mais altas são de 3 milhões de uigures morando nesses campos, mais cerca de 500 mil crianças pequenas em escolas especiais de “reeducação”. Os uigures, minoria étnica e religiosa na China, são em sua maioria muçulmanos.
Desde a confirmação da existência desses campos, houve vários vazamentos de documentos oficiais mostrando as práticas realizadas e os critérios que levam à detenção dos uigures. Entre os atos que resultam em detenção, por exemplo, está o uso de roupas religiosas tradicionais e a celebração de feriados islâmicos.
A íntegra da reportagem, com o respectivo vídeo mencionado, pode ser vista no site ITV
Fonte: Catholic News Agency