Na segunda-feira, 18, comemoraram-se os 100 anos do nascimento de São João Paulo II. O polonês batizado com o nome de Karol Józef Wojtyla foi o 264º Pontífice romano e morreu em 2 de abril de 2005, sendo proclamado Santo da Igreja Católica em 27 de abril de 2014.
O Papa peregrino, missionário, das famílias, dos jovens, da paz, esportista, do novo milênio, da mídia, de Nossa Senhora. Esses e muitos outros títulos eram atribuídos ao Pontífice eslavo, que teve o terceiro pontificado mais longo da história: 26 anos e seis meses.
O mundo o conheceu na noite de 16 de outubro de 1978, quando ele apareceu no balcão da Basílica de São Pedro, após ter sido eleito o primeiro Pontífice não italiano em 455 anos. “Tive medo ao receber esta nomeação, mas o fiz com espírito de obediência a Nosso Senhor e com a confiança total na sua Mãe, a Virgem Santíssima. Não sei se posso me expressar bem na vossa… na nossa língua italiana. Se eu cometer um erro, por favor, me corrijam”, pediu à multidão reunida na Praça São Pedro.
ORIGEM
No entanto, a história desse Santo começou na pequena Wadowice, cidade próxima de Cracóvia, na Polônia, onde nasceu, em 18 de maio de 1920.
Era o mais novo entre os três filhos de Karol Wojtyla e Emilia Kaczorowska. Ainda na infância, perdeu a mãe. Quando seu pai veio a falecer, ele tinha apenas 20 anos.
Em outubro de 1942, em plena 2a Guerra Mundial, com a Polônia invadida pelos nazistas, Karol ingressou no seminário clandestino de Cracóvia.
PADRE E BISPO
Depois que os alemães deixaram sua cidade, em 1945, os estudantes puderam retomar o seminário. Wojtyla foi ordenado sacerdote em 1º de novembro de 1946 e, logo depois, mudou-se para Roma, onde obteve seu primeiro doutorado em Teologia.
Em 1958, o Papa Pio XII o nomeou Bispo Auxiliar de Cracóvia, de onde se tornou Arcebispo, em 1964.
CONCÍLIO
Com sólida formação em Teologia, Wojtyla participou de todas as sessões do Concílio Vaticano II (1962-1965), contribuiu efetivamente na elaboração de dois documentos conciliares: a declaração Dignitatis humanae, sobre a liberdade religiosa, e a Constituição Pastoral Gaudium et spes, sobre a presença da Igreja no mundo moderno.
PONTIFICADO
O Cardeal Wojtyla participou do conclave que elegeu o Papa João Paulo I, o qual morreu apenas 33 dias depois. O novo conclave, realizado semanas depois, elegeu o Arcebispo de Cracóvia como sucessor de Pedro, aos 58 anos de idade.
“Não, não tenhais medo! Antes, pro- curai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao seu poder salvador, abri os confins dos Estados, os sistemas econô- micos – assim como os políticos –, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem ‘o que é que está dentro do homem’. Somente Ele o sabe!”, afirmou João Paulo II, na homilia de início do pontificado, em 22 de outubro de 1978.
Em seu pontificado, João Paulo II escreveu 14 encíclicas, 15 exortações apos- tólicas, 11 constituições apostólicas, 36 cartas apostólicas e editou 30 documentos sob forma de motu proprio. Proclamou 1.338 beatos e 482 santos. Promulgou os Códigos de Direito Canônico latino e o das Igrejas Orientais e publicou o Catecismo da Igreja Católica (este, em 1983).
DIÁLOGO PELA PAZ
Desde o início de seu ministério petrino, temas como direitos do homem e da liberdade religiosa tornaram-se uma constante no seu magistério, tanto que hoje é reconhecida sua relevante influência para o fim da Guerra Fria, com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o sucessivo colapso do regime soviético.
Um evento emblemático foi o histórico encontro de líderes de diferentes tradições religiosas em Assis, na Itália, em 27 de outubro de 1986.
Por outro lado, também desenvolveu em seu magistério uma leitura crítica do capitalismo, sobretudo em três das suas 14 encíclicas: Laborem exercens (1981), Sollicitudo rei socialis (1987) e Centesimus annus (1991).
PROTEGIDO POR MARIA
A devoção de São João Paulo II a Nossa Senhora marcou toda a sua vida, tanto que escolhera como lema episcopal, que também foi adotado em seu pontificado, a expressão mariana Totus tuus (“Todo teu”), de São Luís Maria Grignion de Montfort.
E foi justamente no dia 13 de maio de 1981, memória de Nossa Senhora de Fátima, que Wojtyla foi atingido por três disparos feitos pelo turco Ali Agca, diante de uma multidão na Praça São Pedro.
O Santo Padre sempre afirmou que, naquele dia, Nossa Senhora salvou sua vida e desviou com sua mão a bala que lhe seria fatal.
Esse fato também foi marcado pelo testemunho de perdão do Pontífice, que, em 27 de dezembro de 1983, visitou Agca na prisão para lhe conceder pessoalmente o seu perdão.
FAMÍLIAS
A família era outra realidade para a qual São João Paulo II dedicou seu pontificado. Destaca-se a sua Exortação Apostólica Familiaris consortio, de 1981, fruto do Sínodo dos Bispos realizado sobre esse tema no ano anterior.
“Consciente de que o Matrimônio e a família constituem um dos bens mais pre- ciosos da humanidade, a Igreja quer fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do Matrimônio e da família, procura vivê-lo fielmente, a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade e a quem está impedido de viver livremente o próprio projeto familiar”, disse o Papa, na introdução do documento.
Em 1994, Ano Internacional da Família, instituiu o Encontro Mundial das Fa- mílias, que terá sua 10ª edição em 2022, em Roma, na Itália.
JUVENTUDE
A jovialidade de João Paulo II o tornou muito próximo da juventude, que era presença garantida nas audiências em celebrações. Tanto que, em 20 de dezembro de 1985, ele instituiu a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a ser celebrada todos os anos em Roma, no Domingo de Ramos, e a cada dois ou três anos, como um evento internacional, sediado por um país diferente a cada edição.
ESPIRITUALIDADE
Tanto a esfera privada de São João Paulo II quanto a pública foram marcadas por uma profunda vida de oração. “Para ele, rezar não era só uma necessidade, mas também a coisa mais natural do mundo. Ele alimentava a sua oração com as necessidades dos outros”, testemunhou Joaquin Navarro-Valls, seu amigo pessoal e diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé por 22 anos.
Seu secretário pessoal, o hoje Cardeal Stanisław Dziwisz, também relatou que o Pontífice recebia milhares de cartas do mundo todo, com pedidos de ora- ção, que fazia questão de manter na sua capela privada. “Ele lia cada uma delas e apresentava todas essas intenções ao Senhor, como que a um verdadeiro amigo”, relatou o Cardeal, às vésperas da canonização de Wojtyla.
Na última década de seu pontificado, São João Paulo II dedicou-se a preparar a Igreja para a celebração do grande Jubileu do ano 2000, em comemoração dos dois milênios do nascimento de Jesus Cristo. O evento assumiu um significado altamente simbólico no âmbito da sua missão pastoral e teve uma forte importância peniten- cial, expressa de modo emblemático no Dia do Perdão, 12 de março.
Enquanto isso, Wojtyla via sua condição física se degenerar progressivamente pela doença de Parkinson. O encerramento do Jubileu abriu a fase conclusiva do seu pontificado e, depois de uma longa agonia, morreu na noite de 2 de abril de 2005, véspera do 2º Domingo da Páscoa, Festa da Divina Misericórdia, por ele instituída no calendário litúrgico.
O PAPA PEREGRINO
São João Paulo II é o Pontífice que mais visitou países na história da Igreja.
Ao todo, foram 250 viagens apostólicas sendo:
109 internacionais;
146 na Itália;
129 países visitados nos 5 continentes.
Sua primeira viagem foi em janeiro de 1979 e teve como destino a República Dominicana, Bahamas e México.
Seu último destino foi a França, em agosto de 2004, onde visitou o Santuário de Nossa Senhora do Lourdes.
Esteve 4 vezes no Brasil. A primeira delas foi em 1980, quando visitou 13 cidades em 12 dias. Em 1991, esteve em 10 capitais. Em 1997, participou do II Encontro Mundial das Famílias, no Rio de Janeiro.
Também é contabilizada a escala feita pelo Pontífice no aeroporto do Rio de Janeiro, em 1982, quando estava a caminho da Argentina.