Igreja em SP rende graças a Deus pela Beata Assunta Marchetti, morta há 75 anos

Na data da memória litúrgica da Bem-Aventurada, no sábado, dia 1º, o Cardeal Scherer presidiu missa na Capela Madre Assunta

Dom Odilo, padres concelebrantes e religiosas Scalabrinianas na missa da memória litúrgica da Beata Assunta Marchetti, no sábado, dia 1º
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Com um hino entoado pelo coral “Madre Assunta Marchetti”, formado por crianças, adolescentes e jovens, teve início, no sábado, dia 1º, a missa da memória litúrgica da Bem-aventurada, que dedicou sua vida a cuidar de órfãos e imigrantes, especialmente no orfanato feminino localizado na Vila Prudente, na zona Leste da capital paulista.

A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, na capela localizada nas dependências do antigo orfanato, onde hoje há atividades voltadas a crianças no contraturno escolar e fica memorial de Madre Assunta.

Entre os membros do coral estava Guilherme Pereira, 17. Ele ingressou no Projeto Conviver em 2016 e frequentou as oficinas oferecidas, uma delas, a de música. Ao seu lado estavam outras crianças e adolescentes, todos educandos desse projeto mantido na Casa Madre Assunta, que é administrada pela Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu (Scalabrinianas), que teve Madre Assunta como cofundadora. “Nós aprendemos os instrumentos aqui e, graças a isso, podemos levar essa alegria a outros lugares”, contou o jovem.

Desde 2008, o Projeto Conviver oferece atividades de formação humana e cristã, música, artesanato, dança, esportes e meio ambiente para cerca de 100 crianças e adolescentes de 6 a 15 anos no período de contraturno escolar.

“Assunta Marchetti viveu aqui e deixou as marcas de sua presença e santidade. Nós nos reunimos para lembrar sua vida, para pedir que Deus continue a derramar sua graça e que, pela intercessão da Bem-aventurada, o trabalho feito por ela permaneça dando frutos”, exortou o Arcebispo no início da Eucaristia.

OPÇÃO PELO REINO DE DEUS

Na homilia, Dom Odilo destacou que a Beata Assunta escolheu viver para Deus e testemunhar seu amor em favor do Reino, por meio da vida consagrada e também sendo a mãe terna de muitos órfãos e a cofundadora da Scalabrinianas.

Ao refletir sobre o Evangelho, extraído do relato de São Mateus, Dom Odilo salientou que quando Jesus explica aos seus discípulos que nem todas as pessoas viveriam o matrimônio, ele faz uma alusão ao que na Igreja se concretiza por meio da vida religiosa consagrada, pois os que recebem esse chamado, como ocorreu com Madre Assunta, refletem inteiramente o amor de Deus ao próximo.

Ainda sobre a vocação de Madre Assunta, o Arcebispo enfatizou que sua obra recorda que o cuidado com os migrantes é uma missão constante da Igreja, sobretudo ainda hoje, pois muitas pessoas são obrigadas a deixar suas casas por causa das guerras, da violência, da fome e de perseguições religiosas.

“Nunca na história da humanidade existiu um número tão grande de pessoas fora de casa, em tantas situações de miséria. Nós queremos colocar esses flagelos nas mãos de Madre Assunta, que já está ao lado de Deus e que a Igreja reconhece como uma pessoa santa, uma pessoa que arregaçou as mangas e que fez a sua parte. A ela, nós entregamos a angústia da humanidade de hoje, de tantas crianças que vivem em situação de fome. Que essas chagas possam ser sanadas mediante o bálsamo da caridade, do amor e do afeto que todos nós podemos oferecer”, exortou o Cardeal.

MÃE DE MUITOS FILHOS

Nascida em Lombrici – Camaiore, na Itália, em 15 de agosto de 1871, Madre Assunta Marchetti chegou ao Brasil no dia 27 de outubro de 1895, então com 24 anos de idade. Veio direto para São Paulo, a pedido de seu irmão, o Padre José Marchetti, para ajudá-lo com a missão de zelar pelas crianças do orfanato feminino no bairro da Vila Prudente.

Além da capital paulista, ao longo dos 53 anos em que viveu no Brasil, ela também foi missionária no interior paulista, nas Santas Casas de Misericórdia de Monte Alto e Mirassol, um asilo em Jundiaí, e em escolas de Nova Bréscia, Bento Gonçalves e Farroupilha, no estado do Rio Grande do Sul.

Segundo a Irmã Leocádia Mezzomo, MSCS, postuladora da causa de canonização da Bem-aventurada Assunta Marchetti, os relatos revelam que a Madre foi uma mulher de extrema generosidade, firmeza, oração e de “uma alma permeada pela caridade de Cristo”. Ao longo de sua vida, Madre Assunta confiou na ação de Deus para o bom funcionamento de suas obras e se dedicou inteiramente ao serviço dos mais pobres, doentes e na perseverança do carisma missionário da congregação Scalabriniana. Para a Irmã Leocádia, essas características são o impulso para o trabalho que as religiosas Scalabrinianas desenvolvem em São Paulo e nos 28 países em que a Congregação está presente.

Para José Henrique Zion, sobrinho-neto de Madre Assunta, “é muito gratificante ver as homenagens a ela, que foi uma pioneira em tudo que fez. A nossa família era muito pobre, chegou aqui como imigrante e Madre Assunta foi vivendo sua vocação como uma verdadeira samaritana”.

BEATIFICAÇÃO

Madre Assunta morreu há 75 anos, em 1º de julho de 1948, na casa onde viveu boa parte dos 53 anos de missão no Brasil. Seus restos mortais estão sepultados na capela do antigo orfanato, que, em 2014, tornou-se um memorial dedicado a ela, onde estão expostos seus objetos pessoais, fotografias e documentos que contam um pouco da história da religiosa.

Em 25 de outubro de 2014, a Madre foi beatificada em uma celebração presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, na Catedral da Sé. A missa contou com a presença do Cardeal Angelo Amato, à época Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, que na oportunidade, leu a carta apostólica do Papa Francisco que proclamou a religiosa como Bem-aventurada.

O milagre reconhecido que a levou à beatificação foi a cura de Heraclides Teixeira Filho, em 1994.

Heraclides sofreu graves paradas cardíacas e precisou ser internado no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre (RS). Uma dessas paradas se prolongou por mais de 15 minutos, fazendo com que a equipe médica considerasse a possibilidade de sequelas, devido à falta de oxigenação no cérebro.

Na época, um grupo de religiosas Scalabrinianas trabalhava no Hospital Mãe de Deus e dirigiu uma prece por intercessão de Madre Assunta pela cura de Heraclides.

Pouco tempo depois, o homem apresentou melhora, recuperando as funções do coração e do cérebro sem qualquer tipo de sequela. Após análise dos médicos do Vaticano, a cura foi considerada um milagre de Deus pela intercessão da então Venerável Assunta Marchetti.

ALGUMAS CURIOSIDADES SOBRE A BEATA ASSUNTA MARCHETTI

  • Era moderada no comer e no beber, não escolhia alimentos, procurando sempre aqueles que menos apreciava;
  • Pouco repousava;
  • Amava a simplicidade e recusava a comodidade;
  • Como superiora da sua congregação, aliava a oração e a adoração eucarística aos mais pesados serviços com as irmãs;
  • Antes de resolver qualquer problema, costumava passar horas diante do sacrário, ponderando os prós e contras, até decidir-se pelo melhor;
  • Costumava dizer: “Tudo o que acontece é bom, porque vem de Deus”.
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