‘A Imaginária Devocional Paulista’: exposição apresenta a trajetória da arte sacra no estado

Em cartaz na Sala MAS/Metrô Tiradentes, a mostra tem 57 peças que retratam a evolução da produção de esculturas religiosas

Iran Monteiro/Museu de Arte Sacra de São Paulo

Até o dia 20 de outubro, quem passar pela estação Tiradentes do Metrô pode conferir a exposição “A Imaginária Devocional Paulista”, na sala anexa do Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS-SP), com a curadoria de Ramon Vieira Santos, museólogo e coordenador técnico do MAS-SP.

A imaginária religiosa, inicialmente composta de peças importadas de Portugal, está presente na sociedade brasileira desde os primórdios da colonização. Essa presença teve uma crescente nos séculos XVIII e XIX, com o aumento da população na Província de São Paulo e, sobretudo, no Vale do Paraíba, devido às atividades de produção de café.

As esculturas e talhas são do acervo do MAS-SP e de colecionadores particulares. As 57 peças expostas desde 22 de agosto são resultado de um contexto que circunda a beleza e a singularidade de sua produção, assim como seus usos e funções ao longo dos tempos.

PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO

O Museu de Arte Sacra de São Paulo convidou o público a participar da seleção dos objetos que integram essa exposição colaborativa.

Foram pré-selecionadas 80 esculturas, do acervo do MAS-SP, para que, dentre essas, o público, por meio de um formulário on-line, pudesse escolher quais fariam parte da exposição. Com a votação, 57 peças foram escolhidas e um conjunto de esculturas denominadas Paulistinhas deram forma e conteúdo à mostra.

PRODUÇÃO E INFLUÊNCIA

Ramon Vieira Santos afirmou que a exposição “busca apresentar um recorte do universo da produção de esculturas religiosas em nosso estado, e a influência da tradição portuguesa e africana presente no acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo”.

O curador falou ainda sobre a origem da produção de imagens sacras. “A humanidade levou centenas de milhares de anos para progredir da pedra esculpida para a pedra polida. Entretanto, a descoberta e o uso de novos materiais proporcionaram uma maior diferenciação de ferramentas e deu ao artista um campo fértil para experimentação”, afirmou, ressaltando que “o uso do barro para fazer objeto foi um dos primeiros suportes modelados à mão, que após vários métodos intermediários como o de secagem e de queima desses objetos obtinham o resultado final. E no caso da tradição paulista de imaginária, o barro foi escolhido pela abundância da presença da matéria-prima com o qual os indígenas eram familiarizados, devido às técnicas utilizadas para a produção de utensílios domésticos e ritualísticos”.

Ramon destaca, porém, que a produção da imaginária paulista não se deteve somente no barro: “Também utilizou a madeira, a partir da segunda metade do século XVIII, e o gesso, no século XX. Essa presença se acentua nos séculos XVIII e XIX, com o aumento da população na Província de São Paulo e, sobretudo, no Vale do Paraíba. As imagens aqui produzidas se consolidaram nos séculos seguintes, assumiram aspectos característicos da imaginária popular local, sendo reconhecidas nas imagens-amuleto de nó de pinho, nos populares Divinos, nas imagens de culto à Nossa Senhora da Conceição Aparecida e nas singulares Paulistinhas. E no século XX, a escultura também será a linguagem utilizada pelos artistas modernistas e contemporâneos para dar forma e expressividade às obras. Sendo assim, apresentamos na exposição essa produção da imaginária dos últimos 300 anos”, destacou.

DO BARRO AO GESSO

Na exposição, destacam-se as obras do autor Benedito Amaro de Oliveira (Dito Pituba), em barro cozido, em imagens de Nossa Senhora da Piedade, São Sebastião e São Lázaro, do século XIX; a Sagrada Família, de autoria desconhecida, do século XIX, em madeira (caixeta) policromada nanufaurada de origem na cidade de Santa Isabel (SP).

Também há obras da coleção de Eduardo Etzel, como o Divino Espírito Santo, do século XVIII, em madeira (cedro) policromada; São Roque, em barro queimado; Nossa Senhora da Conceição, em barro cozido; entre outras.

De autores desconhecidos, merece destaque Santo Antônio, do século XX, em madeira (nó de pinho); Nossa Senhora Aparecida, do século XX, nos formatos de gesso maciço policromado e outra em chumbo; São Roque, São Brás, São Gonçalo, do século XIX, em madeira manufaturada.

De cidades do interior, chamam a atenção do visitante uma obra sobre Nossa Senhora das Dores, do século XVII, em barro cozido e policromado, feita em Itu (SP); Santa Quitéria, do século XVIII, em barro cozido e policromado, produzida em São Roque (SP); o presépio Paulistinha, do século XX, em barro cozido, feito na cidade de Aparecida (SP).

PAULISTINHAS

Há também a coleção ‘Paulistinhas’ e o presépio Paulistinha, do século XX, de autoria desconhecida, feita em barro cozido e policromado.

Eduardo Etzel (1906-2003) assim definiu a coleção de obras ‘Paulistinhas’, em 1971. “Chamamos de Paulistinhas um tipo de imagens de barro queimado que influíram no mercado da imaginária doméstica de São Paulo, durante mais de um século. Representam um tipo porque pela longa sucessão de santeiros anos afora, a semelhança é forçosamente aproximada, conforme habilidade e o gosto de cada um de seus artífices. São características, porque a imagem propriamente dita está montada sobre uma base ou peanha peculiar, redonda ou facetada, que ocupa um terço da altura total da peça. São todas ocas e o vazio representa um cone ou funil, completo ou truncado que alcança até o alto da imagem, às vezes, até a cabeça”.

ENCANTAMENTO

Lúcia Bueno, 49, decidiu entrar na exposição ao passar pela estação Tiradentes. “Estou encantada! Uma imersão na fé e na história da religiosidade do nosso estado. Como é bonito ver a evolução de nossa experiência de fé por meio das imagens”, mencionou, ressaltando que vai voltar à exposição com a neta, Luíza.

Ramon Silva, 32, desempregado, após uma manhã de entrega de currículos, passando pela estação, aproveitou para conferir a exposição. “Importante resgatar essa história e apresentar ao público a riqueza da nossa religiosidade e fé”, disse.

VISITE A EXPOSIÇÃO

Até 20 de outubro
Sala MAS/Metrô Tiradentes
Entrada gratuita (para os passageiros do Metrô)
Horários: de terça-feira a domingo, das 9h às 17h.

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