‘Somos as pedras vivas da Igreja que tem como fundamento Jesus Cristo’

Afirmou o Cardeal Odilo Scherer, na missa pelo 67º aniversário de dedicação da Catedral da Sé

Dom Odilo Scherer preside missa na Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, presidiu, no domingo, 5, a missa solene pelos 67 anos da dedicação da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção e São Paulo (Sé). A data é comemorada como solenidade litúrgica na própria Catedral e como festa em toda a Arquidiocese.

Igreja-mãe da Arquidiocese, a catedral é o templo onde está a cátedra do Arcebispo, ou a sede (sé), de onde ele ensina e pastoreia a porção do povo de Deus a ele confiada em uma Igreja particular.

“A dedicação de um templo nos recorda aquilo que somos: a Igreja de Cristo […]. Nossa Catedral é também um sinal visível de nossa comunhão e unidade em torno de Cristo e congregada em torno do bispo e seus padres”, salientou Dom Odilo, no início da celebração.

“Rezemos por todos aqueles que contribuíram e pelos que hoje colaboram para edificação do Corpo de Cristo e para a sustentação deste templo dedicado à honra e à glória de Deus e da Virgem Maria, Assunta ao céu”, completou o Cardeal.

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Morada de Deus

Na homilia, o Arcebispo meditou a partir das leituras bíblicas que ressaltam a presença de Deus no meio da humanidade e do significado das igrejas e templos construídos nas as comunidades.

Na primeira leitura (1Rs 8,22-23.27-30), após a construção do Templo de Jerusalém, Salomão faz a seguinte oração, na qual reconhece a grandeza de Deus e indaga: “Será que Deus pode realmente morar sobre a terra?”.  

O Cardeal enfatizou que, ao construir casas dedicadas a Deus no meio de suas casas, o povo manifesta: “Deus tem lugar no meio de nós… Queremos que ele habite de maneira estável esta cidade.  Que sua presença ilumine, oriente, conforte a nossa vida e nos mostre sempre o caminho a seguir, as escolhas a fazer”, disse.

“Deus quis ter morada entre nós. Sim, Ele quis estar no meio dos filhos dos homens… Isso não significa que Deus não seja infinitamente grande. Mas, de tão grande que é, também se faz pequeno, próximo, para escutar nossas orações, súplicas, louvores, pedidos de perdão”, afirmou Dom Odilo, destacando, ainda, que Jesus, ao se encarnar e se fazer homem, tornou-se templo de Deus no meio da humanidade.

Vela acesa junto a uma das 12 cruzes ungidas no rito de dedicação da Catedral (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Ir à igreja

Mencionando o salmo responsorial (Sl 83), que, em um dos versículos, diz “Minha alma desfalece de saudades e anseia pelos átrios do Senhor!”, Dom Odilo recordou quantas pessoas ficaram impossibilitadas de ir à Igreja no período mais restritivo da pandemia e que, aos poucos, retornam à vida eclesial presencial.

“É com ir à igreja, saciarmo-nos de da presença de Deus, de matar a saudade do encontro com ele, alegrarmo-nos ao ouvir a sua Palavra, receber o pão da vida e viva, com o encontro fraterno sem distinção de pessoas”, sublinhou o Purpurado, completando que ir à igreja é um testemunho de fé e de esperança daqueles que olham para além desta vida”.

Jerusalém celeste

Já a segunda leitura (Ap 21, 1-5a) traz um anúncio profético da “nova Jerusalém”, morada de Deus, imagem da Igreja na realização plena da salvação. 

“Quando nos reunimos no templo, como agora, anunciamos profeticamente que caminhamos para a Igreja celeste”, frisou o Arcebispo, lamentando que as igrejas, muitas vezes, são identificadas como lugares onde se buscam benefícios imediatos e não como lugares onde se buscam os bens eternos.

Pedras vivas

No Evangelho (Mt 16,13-19), Jesus afirma que edifica a sua igreja sobre a fé professada por Pedro, de que Jesus é o Filho de Deus. Dom Odilo ressaltou que o fundamento da Igreja é o próprio Cristo, enquanto os apóstolos são as colunas que a sustentam.

“A Igreja viva, de fato, somos nós, dedicados, consagrados a Deus no nosso Batismo”, reforçou o Arcebispo, recordando que, como afirmou São Paulo, os cristãos são as “pedras vivas” que edificam o templo espiritual que tem como base sólida Jesus Cristo.

Nesse sentido, o Cardeal Scherer exortou os fiéis a permanecerem unidos ao sucessor de Pedro, o Papa Francisco, e aos sucessores dos apóstolos, os bispos, para, assim, estarem unidos a Cristo.

“Cuidemos de não seguir os falsos profetas, que não são colunas verdadeiras, que edificam sobre si mesmos, sobre interesses particulares, que dividem a Igreja”, alertou Dom Odilo, lembrando que quem não está em comunhão com o Papa não está unido à Igreja Católica.  

Antiga Sé de São Paulo, demolida em 1911

História

A história da Sé de São Paulo começou em 1589, quando o cacique Tibiriçá, em acordo com os missionários jesuítas, escolheu o terreno onde seria erguido o primeiro templo da cidade, construído em taipa de pilão. Tratava-se da Igreja Matriz da pequena Vila de São Paulo de Piratininga. Essa igreja era situada onde hoje está o monumento de Anchieta [na Praça da Sé], concluída em torno de 1616.

Com a transformação da vila em cidade, em 1745, a Capitania de São Paulo tornou-se sede episcopal e com isso a “antiga Sé”, como era conhecida, foi elevada à dignidade de catedral. Por isso, nesse mesmo ano, iniciou-se a edificação da segunda matriz, no mesmo local da anterior. Ao lado dela, em meados do século XIII, foi construída a Igreja de São Pedro.

Em 1911, os dois templos foram demolidos para as obras de ampliação da praça da Sé e para dar lugar a uma nova catedral, idealizada pelo primeiro Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva.

Nova catedral

Catedral em construção

Inaugurada em 25 de janeiro de 1954, por ocasião das comemorações do IV centenário de fundação da cidade de São Paulo, a Catedral da Sé foi dedicada somente em setembro, durante o I Congresso Nacional da Padroeira do Brasil, realizado entre São Paulo e Aparecida. A dedicação foi feita pelo Cardeal Adeodato Givanni Piazza, que veio como enviado pontifício para o Congresso da Padroeira.

Projeto

Com 111 metros de cumprimento, 46 metros de largura e 65 metros de altura (com exceção das torres), a Catedral da Sé passou pelas mãos de muitos engenheiros e arquitetos, mas o principal foi Maximiliano Hehl, que acompanhou a construção por apenas três anos, pois morreu em 1916. A construção passaria por outros arquitetos e também por algumas modificações no projeto original, tais como o mobiliário, os vitrais, a capela do Santíssimo.

O estilo neogótico da Catedral é considerado peculiar, com seu aspecto eclético em estilos arquitetônicos. Nas colunas alçadas a 70 metros de altura, encontram-se elementos típicos da fauna e da flora brasileiras, como ramos de café, o tamanduá-bandeira, o tatu-bola, a coruja contrastando com grandes personagens do século XX, da história da Catedral e da história universal.

Carrilhão de sinos da Catedral da Sé (Foto: Luciney Martins)

Órgão e sinos

O órgão foi fabricado em Milão e é o maior da América Latina, com 10.200 tubos. Está desativado desde 1999 e existe projeto em andamento para a sua reconstrução. Já o carrilhão de sinos, localizado nas torres é um dos maiores do País, com 61 sinos sendo 35 acionados eletronicamente. Passou recentemente por uma reforma geral e está em pleno funcionamento.

Restauro

Fechada durante três anos (1999-2002), a Catedral passou por um restauro, no qual foram concluídos os 14 torreões, previstos no projeto original.

No restauro, também foram feitos os reparos de trincas, descupinização, sistema de águas, limpezas, restauração dos vitrais, elementos artísticos, mobiliário e portas, novas instalações elétricas, prevenção de combate a incêndio, recuperação da escadaria e construção de novos banheiros, reservatórios, elevador para deficientes físicos entre outras melhorias.

Vida pastoral

O Cura da Catedral, Padre Luiz Eduardo Pinheiro Baronto, manifestou em seu nome e do seu auxiliar, Padre Helmo Cesar Faccioli, a gratidão a todos os colaboradores e benfeitores que ajudam a manter a missão evangelizadora da Sé de São Paulo.

Catedral da Sé (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Ao falar da vida pastoral da igreja-mãe da Arquidiocese, o Cura destacou mensalmente, circulam na Catedral cerca de 35 mil pessoas. Dessas, 10 mil participam das missas e 900 são atendidas em confissão. Além disso, uma média de 1,9 mil acompanham as liturgias pelas mídias digitais. O templo conta com 150 dizimistas e também é responsável pela distribuição mensal de 150 kg de alimentos e 800 peças de roupas para os pobres.

“A Catedral tem uma vida intensa de pastoral, de anúncio do Evangelho, de acolhida das pessoas. Tudo isso é possível porque muitas pessoas colaboram, às quais agradecemos a generosidade”, afirmou Padre Baronto.  

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