Arquidiocese comemora os 70 anos de inauguração da Catedral da Sé

Fotomontagem de Jovenal Pereira sobre foto de Luciney Martins e arquivo O SÃO PAULO

Na quinta-feira, 25, solenidade da Conversão de São Paulo Apóstolo, e aniversário dos 470 anos da capital paulista, também é comemorado os 70 anos da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção, popularmente conhecida como a Catedral da Sé.

Inaugurada em 25 de janeiro de 1954, por ocasião das comemorações do IV centenário de fundação da cidade, a Catedral começou a ser construída em 1912, quando sua pedra fundamental foi abençoada por Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro Arcebispo de São Paulo.

Sua inauguração estava prevista para 1922, durante a comemoração do centenário da Independência do Brasil. Porém, devido à falta de verbas e a ocorrência de duas Grandes Guerras que atrapalharam as importações dos materiais de construção, a Catedral foi inaugurada somente em 1954, pelo Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, ainda que parcialmente concluída.

A construção da Sé desde o seu início foi muito difícil devido a suas proporções, pois tudo nela era grande. O projeto, de autoria do arquiteto Maximiliano Emil Hehl, previa que ela fosse construída em pedras. Para ser fiel ao projeto, foi adquirida uma pedreira a quatro quilômetros da estação de Ribeirão Pires. Além dos alicerces, as pedras foram utilizadas no serviço de cantaria, nas escadas e nas principais partes externas do templo.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

SEDE

A palavra ‘Sé’ significa “sede”, do latim sedis episcopalis, sede episcopal, ou seja, a igreja catedral de uma diocese. A sede ou sédia é a palavra dada para a cadeira do ministro ordenado que preside uma celebração. Assim, para uma igreja ser Catedral, há a presença da cátedra, o polo celebrativo que, além de ser o assento episcopal, simboliza o lugar central de pastoreio de toda uma diocese.

A primeira matriz da cidade data de 1591, quando o cacique Tibiriçá determinou o terreno onde se encontraria o templo. Àquela época a igreja foi edificada em taipa de pilão.

Em 1745, a então conhecida Velha Sé foi elevada à dignidade de Catedral, com a criação da Diocese de São Paulo. Nesse mesmo ano, iniciou-se a edificação da segunda Igreja da Sé, no mesmo local da anterior.

Ao lado dela, anos depois, é construída a Igreja de São Pedro da Pedra, mas é em 1911 que ambos os templos caem e dão espaço para ali ser erguida a atual catedral.

A Padroeira da Catedral é Nossa Senhora da Assunção, em referência ao dogma mariano proclamado pouco antes de sua inauguração, em 1950, que afirma que, após terminar o curso terreno de sua vida, a Virgem Maria foi assunta, isto é, levada de corpo e alma à glória celeste.

Arquivo/O SÃO PAULO

ESTILO

Com 111 metros de comprimento, 46 metros de largura e 65 metros de altura (com exceção das torres), a Sé teve seu projeto original assinado por Maximiliano Hehl, que acompanhou a construção por apenas três anos, pois morreu em 1916. A construção passaria por outros arquitetos e também por algumas modificações no projeto original, tais como o mobiliário, os vitrais, a capela do Santíssimo.

O seu estilo neogótico de planta cruciforme é baseado nas grandes catedrais góticas europeias do final da idade média. Considera-se neogótico justamente por ter sido construída com elementos góticos, porém, fora de sua época e com técnicas mais recentes. Algumas fontes, inclusive, classificam seu estilo como eclético, justamente por possuir traços arquitetônicos de outros estilos, como, por exemplo, a grande cúpula central, que foi muito discutida quando da sua construção.

O arco ogival é também uma das características deste templo e permitiu que as construções pudessem ter vãos grandes e, consequentemente, naves maiores. Esse topo de arco é o responsável por transferir todos os esforços da estrutura da parte central das catedrais para os pilares de perímetro, chamados de contrafortes, que, por sua vez, descarregam esforço verticalmente nas fundações.

Uma característica arquitetônica do estilo gótico é o uso de dragões, gárgulas, em lugares específicos da arquitetura. Nas colunas alçadas a 70 metros de altura da Sé de São Paulo, no entanto, encontram-se elementos típicos da fauna e da flora brasileiras, como ramos de café, maracujá ou o guaraná, o tamanduá-bandeira, o tatu-bola, a coruja contrastando com grandes personagens do século XX, da história da Catedral e da história universal.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

ÓRGÃOS E SINOS

Considerado o maior instrumento musical da cidade de São Paulo, com cerca de 11 mil flautas (tubos), o órgão da Sé foi fabricado especialmente para a Catedral pela empresa italiana Balbiani & Rossi, em Milão, entre os anos de 1953 e 1954. Está desativado desde 1999 e existe projeto em andamento para o seu restauro.

Já o carrilhão de sinos, localizado nas torres, é um dos maiores do País, com 61 sinos, sendo 35 acionados eletronicamente. Passou recentemente por uma reforma geral e está em pleno funcionamento.

VITRAIS

Os primeiros vitrais da Catedral começaram a ser colocados no início da década de 40, concebidos pelo artista José Wasth Rodrigues e executados pela tradicional Casa Conrado, de São Paulo. Nos anos 50, já no término das obras, com um novo plano geral de decoração do templo, outros vitrais foram encomendados na Itália, reunindo trabalhos dos artistas Francesco Bencivenga, Gilda Nagni, Giovanni Hajnal, Lorenzo Micheli-Gigotti, Marcello Avenali, Max Ingrand e executados por Fontana e Quentin, tendo uma linguagem e qualidade diferenciadas daquelas utilizadas pela nacional Casa Conrado.

Os vitrais europeus trazem a história contada quadro a quadro. Cada um de seus pintores manteve a tradição do estilo gótico, no qual o importante não é a rápida compreensão da imagem e sim o efeito luminoso que ela representa. Nos nacionais, a linguagem proposta é mais moderna e clara, com um desenho central detalhado e moldura de figuras geométricas que se repetem, objetivando a total compreensão da mensagem do vitral. Os vidros utilizados possuem qualidade inferior em relação aos italianos, motivada provavelmente pela dificuldade de importação de material existente na época.

DECORAÇÃO E MOBILIÁRIO

No início dos anos 1950, intensificaram-se as campanhas para arrecadação de fundos para o amplo projeto de decoração interna da Catedral de São Paulo, encomendado a profissionais italianos pelo escritório de Giuseppe Saverio Giacomini.

O altar-mor, dedicado à Virgem Maria, utilizou mármore de Carrara na balaustrada, nos pedestais e nas colunas, mármore amarelo de Siena no altar, esculturas e capitéis em bronze e malaquita na cruz, em pequenas colunas e no monograma.

Já o altar novo, pós-conciliar e o ambão ou mesa da Palavra, foram confeccionados pelo artista plástico Cláudio Pastro, em 2008.

Os dois imponentes púlpitos em nogueira, de origem italiana, destacam-se nas laterais do presbitério, assim como as estalas dos cônegos. Já as portas externas em jacarandá-da-Bahia, foram confeccionadas pelo Liceu de Artes e Ofícios, totalizando uma área de 420m e peso de 53 toneladas.

Ao lado, logo na entrada da Catedral localiza-se a Pia Batismal rebaixada para lembrar o batismo de imersão da primitiva Igreja, e confeccionada em mármore de Siena.

Também chamam a atenção os altares laterais, o de Sant’Ana à esquerda de São Paulo à direita. Neles, se encontram os grandes mosaicos confeccionados em 1959 pelos artistas italianos Marcelo Avenalli e Lorenzo Micheli-Gigotti, com matérias-primas vindas de Ravena, na Itália.

CAPELAS

Na lateral esquerda da Catedral está a Capela do Santíssimo Sacramento, onde imensos anjos observam a entrada dos fiéis. Lado a lado estão os Santos Doutores da Eucaristia, acima das bodas de Caná e da cena de Emaús.

A cripta, inaugurada em 1919, contém 30 câmaras mortuárias destinadas a guardar os sarcófagos dos bispos e arcebispos, além de guardar os restos mortais de personalidades da história da cidade, como o cacique Tibiriçá, o primeiro cidadão de Piratininga, e do padre Feijó, Regente do Império.

Os últimos arcebispos sepultados na cripta foram os cardeais Paulo Evaristo Arns (2016) e Cláudio Hummes (2022).

RESTAURAÇÃO

Fechada durante três anos (1999- 2002), a Catedral passou por um restauro, no qual foram concluídos os 14 torreões, previstos no projeto original.

No restauro, também foram feitos os reparos de trincas, descupinização, sistema de águas, limpezas, restauração dos vitrais, elementos artísticos, mobiliário e portas, novas instalações elétricas, prevenção de combate a incêndio, recuperação da escadaria e construção de novos banheiros, reservatórios, elevador para deficientes físicos entre outras melhorias.

Em setembro de 2022, durante a missa do aniversário de dedicação da Catedral, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, ressaltou o valor da Sé de São Paulo. “Aqui nos reunimos para encontrar Deus, nos alegrar em Deus e prestarmos nosso louvor e adoração, e, também, para acolher seus benefícios”, afirmou, exortando os fiéis a rezarem pela Igreja viva que a Catedral representa, povo de Deus na grande metrópole.

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