Em ato inter-religioso, Cremesp homenageia médicos vitimados pela COVID-19

‘Fazemos memória de dezenas e centenas de médicos que, como Jesus nos ensina, deram a sua vida por amor’, expressou Dom Eduardo Vieira dos Santos durante a atividade

Na comemoração do Dia do Médico, no domingo, 18, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) prestou homenagem aos médicos e demais profissionais da área da saúde que morreram em decorrência da COVID-19.

Na ocasião foi realizado um ato inter-religioso na sede do Cremesp, transmitido on-line, com as participações do Rabino Rogério Cukierman, da Congregação Israelita Paulista; Padre Gregório Teodoro, representante da Igreja Ortodoxa Antioquina; Pastor Marcos Jair Ebeling, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana; Sheik Mohamed Al Bukai, da Mesquita Brasil em São Paulo; e de Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, que representou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo.

“Que esse momento que estamos juntos possa, além do nos confortar, honrar as preciosas vidas que se foram”, comentou, no início da atividade, Edoardo Vattimo, conselheiro do Cremesp.

“O mundo não será mais o mesmo após essa pandemia, muito mudará, mas os médicos, como fazem há séculos, continuarão a travar a eterna luta da vida contra a morte, pois essa é a essência daqueles que abraçam essa profissão”, observou Angelo Vattimo, 1o secretário do Conselho, estendendo elogios a todos os enfermeiros, fisioterapeutas, biomédicos, farmacêuticos e outros profissionais da saúde que faleceram na pandemia.

Muitos deles adoeceram, mas se recuperaram, como foi o caso dos pais e do irmão da médica Christina Hajaj Gonzalez, primeira tesoureira do Cremesp. “Nós vimos que grande parte dos colegas não fugiu da luta. A grande maioria se manteve firme e forte”, lembrou. Ela coordenou a Câmara temática COVID-19 criada pelo Conselho, que resultou, em outras iniciativas, na elaboração de um site, aulas, palestras e um livro sobre a atual pandemia .

Dar a vida por amor

Ao falar aos participantes do ato inter-religioso, Dom Eduardo Vieira dos Santos leu a passagem do Evangelho de João sobre o mandamento do amor (Jo 15, 9-17), em que o Cristo fala que “ninguém tem amor maior do que aquele que dá avida pelos amigos. Vós sois os meus amigos se fizerdes o que vos mando”.

Dom Eduardo Vieira dos Santos durante a oração do Pai Nosso

“Neste Dia do Médico, fazemos memória de dezenas e centenas de médicos que como Jesus nos ensina deram a sua vida por amor. Ao longo da história, inúmeros profissionais da saúde, sobretudo, médicos arriscaram suas vidas e muitos perderam sua vida por amor a profissão, aos seus pacientes, o amor à vida. Hoje estamos aqui testemunhando esse grande exemplo de amor de médicos, de profissionais da saúde, enfermeiros, voluntários que neste tempo de pandemia do novo coronavírus foram capazes de grandes renúncias e de morrer por amor por pessoas contaminadas por esse vírus”, ressaltou.

Dom Eduardo lembrou ainda que o Papa Francisco por muitas vezes já manifestou que nesta pandemia os voluntários e profissionais médicos “são verdadeiros mártires, que deram suas vidas para salvar inúmeras vidas, a quem nem sequer conheciam”.

“A todos os profissionais médicos que continuam lutando para que o sofrimento e as dores dos irmãos e irmãs sejam aliviados, a nossa eterna a gratidão. A todos os profissionais da saúde que morreram vítimas da COVID-19 – médicos, enfermeiros, técnicos e voluntários,  pedimos: dai-lhes, Senhor, o repouso eterno e brilhe para eles a vossa luz”, concluiu o Bispo, convidando a todos para a oração do Pai-Nosso.

Desafio e reconhecimentos

Irene Abramovich, Presidente do Cremesp, ressaltou que a pandemia deu mais visibilidade ao trabalho dos médicos.  “Nunca fomos tão vistos antes. Nosso juramento foi conhecido pela população na prática, no dia-a-dia mais tumultuado diante de tantas incertezas e com todos os obstáculos que enfrentamos, antes mesmo de a pandemia chegar, muitas vezes, em condições de trabalho que deixam a desejar, mas que não nos faz desistir da vida em momento algum”, comentou.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Angelo Vattimo, disse que lidar com uma doença desconhecida e com consequências diversas foi algo desafiador aos médicos. “Especialmente no início da pandemia, a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e as condições de trabalho, muitas vezes impróprias, contribuíram muito para uma sobrecarga física e mental deste profissionais que colocaram em risco suas próprias vidas para salvar outras. Além disso, a COVID-19 é uma doença nova e muito do que sabemos hoje sobre ela não era conhecido no início da pandemia. Assim, produzir e difundir o conhecimento necessário para as boas práticas médicas nessa doença também foi um desafio”, afirmou.

O 1o secretário do Cremesp lembrou, ainda, que embora sejam preparados para momentos de estresse e pressão, os médicos também sofreram fortes impactos emocionais ao longo da pandemia. “Lidando com uma doença desconhecida e, muitas vezes fatal, teve de tomar a decisão de arriscar a própria vida e até se afastar da própria família para se manter no combate à doença. A profissão médica já apresenta um grande problema envolvendo a saúde mental, como a maior incidência de suicídio (especialmente em mulheres) e burnout. Os fatores associados à COVID-19 somaram uma carga de estresse adicional”.

Angelo Vattimo observou, também, que pandemia de COVID-19 trouxe desafios e perdas dolorosas e mostrou que ainda há muito a se aprender no campo da ciência. “Ao mesmo tempo, porém, toda essa situação reaproximou o profissional médico da população”, concluiu.

Homenagens

Além do ato inter-religioso realizado na manhã do domingo, que contou com a apresentação do Coral da Cidade de São Paulo, acompanhado por membros da Orquestra Acadêmica de São Paulo, sob a regência do Maestro Rogério Camargo, durante a noite do, no prédio da antiga sede do Cremesp, na rua da Consolação, 753, foram projetadas imagens de médicos falecidos por COVID-19, algo que também ocorreu no ato pela manhã.

As imagens foram obtidas a partir de um chamado do Cremesp pelas redes sociais para que familiares enviassem fotos de médicos falecidos. Em duas semanas, o Cremesp recebeu 41 fotos de médicos falecidos em razão do novo coronavírus.

Com vistas a preservar a memória desses e outros médicos que morreram em razão da COVID-19, o Cremesp irá construir um memorial em sua sede. A pedra fundamental foi lançada no domingo. A inauguração está prevista para o início de 2021.

(Colaborou: Jenniffer Silva)

A íntegra do ato inter-religioso do domingo, dia 18, pode ser vista abaixo

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