Mártir coreano é exemplo de fé e fidelidade à vocação

Seminaristas da Arquidiocese peregrinaram à Paróquia Pessoal Coreana São Kim Degun e participaram de missa presidida por Dom Odilo Scherer

(Foto: Luciney Martins/ O SÃO PAULO)

Os seminaristas e formadores da Arquidiocese de São Paulo realizaram, na sexta-feira, 29 de outubro, uma peregrinação à igreja matriz da Paróquia Pessoal Coreana São Kim Degun, no Bom Retiro, por ocasião do jubileu de 200 anos de nascimento do seu santo padroeiro.  

Esse templo, inaugurado em 2004, é uma das igrejas designadas em todo o mundo para a peregrinação dos fiéis por meio das quais são concedidas indulgências plenárias durante o jubileu aberto em 29 de novembro de 2020 e que se estende até o próximo dia 21. 

A iniciativa da peregrinação dos seminaristas partiu do Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, como um convite aos futuros padres para conhecerem a vida e o testemunho de fé desse jovem sacerdote que foi morto no século XIX por aqueles que odiavam a fé cristã.  

“São Kim Degun fez a experiência forte do encontro com Jesus Cristo e passou por muitas perseguições por causa da fé cristã. Por isso, ele é, sem dúvida, um exemplo para nós, para os seminaristas e sacerdotes”, afirmou Dom Odilo, na homilia da missa por ele presidida na Paróquia. 

Exemplo de perseverança 

O Cardeal lembrou, ainda, que, ao contrário dos primeiros cristãos da Coreia e dos muitos fiéis em diversas partes do mundo, no Brasil os jovens vocacionados têm liberdade para praticar a fé e responder ao chamado de Deus. “Quanto São Kim lutou e se sacrificou para chegar à ordenação, quanto isso pode nos inspirar com seu exemplo de perseverança, de amor à vocação, de exemplo missionário”, completou. 

Acompanhados de seus formadores, de Dom Odilo e de Dom Ângelo Ademir Mezzari, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial para as vocações e os seminários, os vocacionados foram acolhidos pelos membros da comunidade católica coreana, que tem como Pároco o Padre Pio Choi. 

O grupo visitou os locais da igreja dedicados ao bicentenário do padroeiro, como a imagem de São Kim Degun, suas relíquias e uma exposição organizada pela comunidade, que reúne reproduções de imagens que contam a história do Santo mártir e do catolicismo na Coreia. 

Padroeiro

São Kim Degun, também conhecido como Santo André Kim Taegon, nasceu em 21 de agosto de 1821. Filho de uma família nobre coreana, converteu-se ao catolicismo e se dedicou à evangelização de sua pátria, onde o Cristianismo era duramente perseguido.

(Foto: Luciney Martins/ O SÃO PAULO)

Em 16 de setembro de 1846, Santo André e mais 102 católicos foram martirizados. O jovem padre tinha 25 anos de idade e um ano de sacerdócio. São João Paulo II os canonizou durante sua visita à Coreia do Sul, em 6 de maio de 1984, na comemoração dos 200 anos do catolicismo nesse país asiático.

Mesmo em sua curta vida, São Kim Degun, além de ser o primeiro padre católico coreano, enfrentou a realidade da época, e se tornou pioneiro no anúncio da Boa-Nova.

Padre Kim também foi um dos primeiros a estudar os conhecimentos ocidentais no exterior, foi o viajante a percorrer a mais longa distância do território de Chosun (atual Coreia), e foi o pioneiro a fazer a rota do Mar Ocidental, navegando da ilha de Yeonpyeong (Chosun) para Xangai, na China.

Catolicismo na Coreia é fruto da fé de leigos

Ao contrário de outros países asiáticos, o catolicismo não chegou à península da Coreia. No século XVI, alguns eruditos tiveram acesso a livros de missionários cristãos da China. A princípio, os coreanos desejavam conhecer o catolicismo como uma filosofia de vida, contudo, logo descobriram a fé e aderiram a ela como uma nova religião.

Entre esses primeiros estudiosos, destaca-se Lee Seung-Hoon, que foi para Pequim com o desejo de praticar efetivamente o catolicismo. Lá, adotando o nome cristão de Pedro, foi batizado pelo missionário francês Padre Grammont, em 1784. Quando retornou à Coreia, fundou a primeira comunidade cristã em seu país.

No entanto, a fé e o estilo de vida católicos entraram em conflito com as ideologias políticas, culturais e religiosas da Coreia em uma época em que predominava o confucionismo. Por esse motivo, a Igreja Católica coreana foi perseguida por mais de um século, tendo mais de 10 mil fiéis martirizados por não renegarem a fé recebida no Batismo, entre esses São Kim Degun e seus companheiros.  

Indulgência

Todos os fiéis que peregrinarem à Igreja São Kim Degun durante o ano jubilar podem alcançar a indulgência plenária aplicável a si mesmos ou em sufrágio dos falecidos.

A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida aos pecados já perdoados quanto à culpa que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja.

Para receber a indulgência plenária nesse jubileu, além de peregrinar até a igreja jubilar, o fiel precisa ter se confessado recentemente, rezar nas intenções do Papa e fazer um ato de caridade. Também é prevista a oração diante de restos mortais ou da relíquia do Santo padroeiro, recitar o Pai-Nosso e o Credo e terminar a oração com súplicas à Bem-Aventurada Virgem Maria e São Kim Degun.

Os idosos, doentes e aqueles que não podem sair de casa por razões graves também poderão obter a indulgência plenária, desde que manifestem o arrependimento dos seus pecados, tenham a intenção de cumprir o mais brevemente possível as três condições habituais e, diante de uma imagem de São Kim Degun, unir-se espiritualmente à solenidade do jubileu e oferecer a oração, os sofrimentos ou dificuldades da própria vida a Deus misericordioso.

Paróquia Pessoal Coreana São Kim Degun

Atividades

Inês Ahn, secretária-executiva do conselho pastoral da Paróquia Pessoal Coreana, explicou ao O SÃO PAULO que, apesar da pandemia, a comunidade se envolveu bastante nas iniciativas do jubileu. Foram muitas as visitas guiadas a grupos de peregrinos: “Promovemos várias atividades voltadas à nossa colônia, como uma série de podcasts nos quais os padres compartilharam informações sobre São Kim Degun, palestras, depoimentos e encontros formativos destinados à conscientização da comunidade, sobretudo das novas gerações sobre a história do nosso padroeiro”.

Também está sendo feita uma campanha para motivar os fiéis a oferecerem as indulgências recebidas na igreja aos fiéis falecidos. A meta é reunir 20 mil indulgências que são simbolizadas por pequenos origamis em forma de pássaros que são depositados em uma urna.  

Embora o encerramento do jubileu esteja previsto para o dia 21, no dia 5 de dezembro haverá uma missa presidida pelo Cardeal Scherer, na qual as comemorações serão oficialmente concluídas. 

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