Frade Franciscano viveu no século XVI, dando testemunho de caridade, fidelidade ao evangelho e amor à Eucaristia.
Para celebrar os 500 anos de nascimento de São Benedito, está em peregrinação no Brasil uma relíquia ‘ex-corpore’ do Santo: um fragmento de seu músculo, com cerca de 7 centímetros. Os guardiões da relíquia, os Freis Fernando Truppia e Marcelo Badalamenti, da Província do Santíssimo Nome de Jesus, na Sicília, Itália, estão visitando as Irmandades do Rosário e de São Benedito em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre os dias 8 e 23 deste mês.
Na sexta-feira, 9, representantes da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (OFM), do Conselho Nacional das Irmandades de São Benedito do Brasil (Conisb) e das Irmandades da capital paulista e de Mogi das Cruzes (SP) participaram de uma missa na Igreja São Francisco, no Largo São Francisco, presidida pelo Padre Luiz Fernando de Oliveira e concelebrada pelos frades italianos e demais sacerdotes, com a exposição pública da relíquia.
EM PEREGRINAÇÃO
Os frades sicilianos já estiveram na Venezuela e no Peru, países que, assim como o Brasil, têm grande devoção popular ao santo negro franciscano.
Fazem parte da programação visitas às fraternidades da Província, como o Convento e Santuário São Francisco, em São Paulo (SP); a Paróquia Bom Jesus dos Aflitos, em Sorocaba (SP); o Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP); e o Convento Santo Antônio, no Rio de Janeiro (RJ).
Frei Fernando Truppia ressaltou que São Benedito era um homem simples, de oração e humilde. “Nosso Santo era analfabeto, não sabia ler nem escrever, mas era cheio da sabedoria de Deus. Ele teve uma vida de oração, em profundo diálogo com Deus. O Evangelho, a Eucaristia e o amor ao próximo moveram sua vida e consagração”, disse.
“São Benedito era um apaixonado por Cristo. Ele buscou, em sua vida, configurar-se a Jesus por meio das atividades simples do dia a dia. Nos pequenos gestos, seguiu e serviu a Cristo na pessoa do irmão”, prosseguiu o Frade.
Frei Fernando lembrou que a peregrinação da relíquia é uma forma de encontrar os devotos do Santo pelo mundo: “São Benedito é um santo muito atual. Ele nos ensina que nós todos, independentemente da cor ou classe so cial, somos filhos de Deus e, portanto, todos irmãos”.
SANTO NEGRO
Benedito nasceu na aldeia de São Fratelo, em Messina, na Sicília, em 1524. Seus pais, Cristóvão Manasseri e Diana de Lanza ou Larcan, eram cristãos e escravos africanos levados da Etiópia para a Itália.
Aos 20 anos de idade, Benedito foi alvo de insultos raciais, mas não reagiu de modo intempestivo. O fato foi testemunhado pelo Frei Jerônimo Lanza, líder dos eremitas da Irmandade de São Francisco de Assis, que convidou o jovem a entrar na congregação.
Aos 21 anos, ingressou entre os eremitas da Irmandade de São Francisco de Assis, em Palermo, na Sicília. Tornou-se um religioso exemplar, pautando sua vida na oração, na simplicidade, na obediência e na alegria de uma vida de extrema penitência.
Na Irmandade, exercia a função de cozinheiro. Era analfabeto, mas a sabedoria e o discernimento que demonstrava fizeram com que seus superiores o nomeassem mestre dos noviços e, depois, superior do convento.
Com a morte do fundador da Irmandade, em 1562, o Papa Paulo IV a extinguiu, ordenando que todos os consagrados se integrassem à Ordem de São Francisco de Assis. Benedito viveu no Convento Santa Maria de Jesus, em Palermo, onde também exerceu atividades mais simples como cozinheiro, ganhando fama de santidade pelos milagres que aconteciam por intercessão de suas orações.
Reis, príncipes, nobres, sacerdotes, teólogos e leigos – ricos e pobres – recorriam a seus conselhos e direção espiritual.
Benedito faleceu na cozinha do convento, em 4 de abril de 1589, aos 63 anos de idade. Ele foi canonizado pelo Papa Pio VII em 24 de maio de 1807. Além de patrono da cidade de Palermo, é invocado como padroeiro dos afro-americanos, dos cozinheiros e nutricionistas. No Brasil, sua memória litúrgica é celebrada em 5 de outubro.
O SURGIMENTO DAS IRMANDADES
Logo após sua morte, a veneração a São Benedito se espalhou pela Itália, Espanha e Portugal. Posteriormente, chegou à América do Sul por meio dos missionários portugueses e espanhóis. Em Portugal, uma de suas primeiras confrarias foi estabelecida na cidade de Lisboa. Os negros já o homenageavam pelas ruas da cidade, carregando sua imagem em estandartes.
No Brasil, a veneração a São Benedito está profundamente ligada às comunidades negras, e se manifesta por meio das congadas, marujadas, moçambiques, catumbis, afoxés, reisados, entre outras expressões culturais. Praticamente todos os conventos dos Frades Menores, no período colonial, possuíam uma Irmandade dedicada a São Benedito.
O Padre Luiz Fernando de Oliveira, Capelão da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo Paissandu, enfatizou que São Benedito é conhecido por suas virtudes e santidade: “Nosso santo negro viveu na simplicidade e na humildade, mas ancorado por uma profunda vida de oração e intimidade com Cristo, sendo fiel aos ensinamentos de São Francisco e ao Evangelho. Sua vida foi pautada pela caridade, pelo amor ao próximo, pela contemplação e pela Eucaristia”.
O Sacerdote lembrou que as Irmandades foram os primeiros locais em que a devoção a São Benedito foi incentivada e “se mantém viva até os dias atuais, por meio de uma devoção popular e cultural que atravessa gerações”.
Também o Frei Alvaci Mendes da Luz, OFM, pesquisador, historiador e autor do livro “Um preto no altar” comenta que as Irmandades no Brasil se caracterizam como “um espaço de possibilidades, de direitos e um lugar significativo para a comunidade negra. Elas desempenham um papel fundamental na preservação e promoção da fé e das tradições associadas ao Santo”.