Vindas das 42 dioceses/arquidioceses que compõem o Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cerca de 350 pessoas participaram no sábado, 25, do VIII Congresso Estadual da Pastoral da Saúde.
“Sinodalidade na Pastoral da Saúde” foi o tema escolhido para esta edição, com o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8), proporcionando reflexões acerca da atuação desta Pastoral nas dimensões solidária, comunitária e sociotransformadora.
Na missa de abertura, Dom Carlos Silva, OFMCap., Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e Secretário do Regional Sul 1 da CNBB, destacou que a Igreja é por natureza sinodal – constituída por ministros ordenados, religiosos consagrados e leigos – e que a vivência da sinodalidade, mais do que um caminhar conjunto, é “estar juntos nesta diversidade bonita da vida, do compromisso com o Reino, com o povo de Deus e com Jesus Cristo. E nessa convivência, vamos encontrando caminhos de vida, de alegria, de paz, de saúde e de bem”.
FINANCIAMENTO DO SUS E DISPONIBILIDADE DE VAGAS
Na mesa de abertura, o Padre João Inácio Mildner, Assistente Eclesiástico da Pastoral da Saúde no Regional Sul 1, Capelão do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e membro do Conselho Estadual de Saúde, agradeceu o empenho dos agentes da Pastoral – “Vocês são o rosto misericordioso de Jesus para os que sofrem” – e destacou que todos devem estar em alerta para que não haja cortes ou contingenciamentos de verbas destinadas ao Sistema Único de Saúde (SUS): “Temos de lutar para que não nos tirem uma garantia que a Constituição federal nos dá. A saúde pública não é problema de governo, é uma política de Estado”.
Também participante da abertura, a deputada federal Juliana Cardoso disse que o financiamento do SUS está no foco de atenção da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados e do Governo federal, com políticas como o Programa Mais Médicos. Por sua vez, a deputada estadual Ana Perugini externou preocupação com a disponibilização de vagas para as especialidades médicas no estado de São Paulo e defendeu que haja a regionalização dessas vagas, que hoje são determinadas pela Central de Regulação de Ofertas de Serviço de Saúde (Cross), muitas das vezes sem atender as demandas específicas de uma região ou fazendo com que as pessoas realizem grandes deslocamentos para serem atendidas.
AGIR PASTORAL
Padre Leandro Megeto, Secretário-executivo do Regional Sul 1, lembrou que a Pastoral da Saúde se caracteriza como a ação do povo de Deus comprometido em acolher, promover, cuidar, educar, defender e celebrar a vida humana, nas dimensões solidária, comunitária e sociotransformadora; tendo como missão primeira evangelizar.
“Não somos uma ONG, não somos uma estatal, nem apenas um grupo de afins. Somos a Igreja de Cristo, chamada e vocacionada a ser no mundo um sinal de salvação”, enfatizou Padre Leandro, exortando que essa Pastoral jamais deixe de investir na formação e espiritualidade de seus agentes e na atração de novos membros.
José Gimenes, coordenador da Pastoral da Saúde no Regional Sul 1, destacou ao O SÃO PAULO que a Pastoral tem se reestruturado nos sub-regionais para melhor articulação dos trabalhos. “Trata-se de uma nova metodologia para que a Pastoral esteja ainda mais próxima das pessoas, pois o objetivo maior é sempre a atenção a quem está na ponta, ao agente que faz a visita. Mais do que sermos pastoral, temos que ser irmãos, procurar ajudar, procurar enxergar Deus na espiritualidade do nosso irmão”.
Padre João Mildner lembrou que a Pastoral da Saúde sempre age em comunhão com as demais pastorais, com vistas a construir um mundo mais fraterno e de justiça e paz. “Como é gostoso e agradável convivermos como irmãos. Essa experiência de ‘família Pastoral da Saúde’ deve ser levada às bases, para que na comunidade as pessoas também sintam essa fraternidade e a construam, a fim de melhor prestar o serviço à saúde das pessoas, pois quem vive a fraternidade nunca está sozinho”, afirmou à reportagem.
Vocação, vida pastoral, 3ª idade, alimentação saudável e saúde mental são temas de palestras
O VIII Congresso Estadual da Pastoral da Saúde também foi marcado por algumas palestras temáticas. Leia a seguir uma síntese do que disseram os palestrantes.
PASTORAIS SOCIAIS
“Não há como negar o trabalho da Pastoral da Saúde nestes últimos três anos de pandemia. Muitos agentes doaram a própria vida neste período”, enalteceu o Padre José Nelson, Assistente Eclesiástico das Pastorais Sociais do Regional Sul 1. Ele lembrou que o agir das pastorais sociais para ser eficaz deve ter a Palavra de Deus como fundamento, se alicerçar no magistério da Igreja e ocorrer nos diferentes âmbitos da sociedade.
VOCAÇÃO
“O 3o Ano Vocacional do Brasil nos lembrou de que somos todos vocacionados na Igreja. Somos membros desta grande sinfonia vocacional, como nos diz o Papa Francisco. Nesta grande orquestra, Deus é o autor, a música é Jesus Cristo, o regente é o Espírito Santo e nós somos os instrumentos”, ressaltou o Padre João Batista Cesário, da Pastoral Vocacional na Arquidiocese de Campinas. Ele pediu que as comunidades e famílias intensifiquem orações pelas vocações e estimulem os que dizem sim ao chamado de Deus.
ALIMENTAÇÃO, EMOÇÃO E FÉ
“Ao criar o mundo, o Senhor fez como que um enxoval e nos ofereceu frutas, sementes e todo o tipo de alimento que nós precisemos em qualquer situação em nossa vida”, disse Silvia Mattos, nutricionista e psicanalista. Ela explicou a função de cada um dos alimentos, alertou para os riscos do consumo excessivo de açúcar, sal e gorduras; e apontou que ter boa saúde envolve a dimensão física, emocional e espiritual.
A VIDA NA 3ª IDADE
“Aqui na cidade, os idosos, na maioria das vezes, sobrevivem. Percebo a falta de atenção da sociedade para com eles, especialmente quando já não têm mais capacidade produtiva”, comentou Nadir Francisco do Amaral, presidente do Conselho Municipal da Pessoa Idosa, alertando para as dificuldades vivenciadas pela maioria dos 2,2 milhões de idosos da cidade de São Paulo, em especial aqueles que dependem de atendimentos no SUS e de vagas nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI).
CIÊNCIA, SAÚDE E ESPIRITUALIDADE
“Para a ciência, a espiritualidade é entendida como a busca de sentido e de significado para a vida, e auxilia no enfrentamento das adversidades e das doenças”, comentou o psiquiatra Marcos Ribeiro, destacando que a espiritualidade colabora para que as pessoas busquem maior equilíbrio de vida. Neste painel temático, ele teve a companhia da psicanalista Raquel Bacchiega, especialista em Práticas integrativas e Complementares em Saúde (PICS), que são tecnologias em saúde que olham para o indivíduo como um todo – física, mental, emocional e espiritualmente. Raquel e Marcos estão à frente do Projeto Saúde Mental para Todos, já implementado em uma paróquia da Arquidiocese de São Paulo, com a oferta de atendimentos a baixo custo neste ramo de saúde.
(Colaborou: professor Marcos Rubens Ferreira/Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo)