‘A palavra de Jesus não é abstrata, é um ensinamento que toca e molda a vida’

Afirmou o Papa, durante oração do Angelus do domingo, 17

Papa Francisco saúda fiéis da janela do Palácio Apostólico (Foto: Vatican Media)

Na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus do domingo, 17, o Papa Francisco recordou aos fiéis reunidos na praça São Pedro, no Vaticano, que o Evangelho deste domingo apresenta “uma animada situação doméstica com Marta e Maria”, duas irmãs que oferecem hospitalidade a Jesus em sua casa. Marta imediatamente começa a trabalhar para o acolhimento dos hóspedes, enquanto Maria se senta aos pés de Jesus para ouvi-lo.

Vendo aquela situação, “Marta se vira para o Mestre e pede que Ele diga a Maria para ajudá-la. A reclamação de Marta não parece fora de lugar; pelo contrário, sentimos que tem razão. No entanto, Jesus responde: ‘Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém, uma só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada’. É uma resposta surpreendente”, comenta o Pontífice, acrescentando que: “Jesus muitas vezes inverte nossa maneira de pensar. Perguntemo-nos, por que o Senhor, apreciando a generosa diligência de Marta, afirma que a atitude de Maria deve ser preferida?”.

A “filosofia” de Marta parece ser esta: primeiro o dever, depois o prazer. A hospitalidade, na verdade, não é formada de palavras bonitas, mas exige que se coloque a mão no fogão, que se faça tudo o que for preciso para que o hóspede possa se sentir bem acolhido. Jesus sabe disso muito bem. De fato, reconhece o compromisso de Marta. No entanto, ele quer fazê-la entender que há uma nova ordem de prioridade, diferente da que ela tinha seguido até então. Maria sentiu que há uma “melhor parte” que deve ter o primeiro lugar. Todo o resto vem depois, como uma corrente de água que brota da fonte.

Melhor parte

“O que é essa ‘melhor parte’?”, perguntou Francisco. “É escutar as palavras de Jesus. O Evangelho diz: “Maria, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra… Observemos: ela não ouvia de pé, fazendo outra coisa, mas sentou-se aos pés de Jesus. Ela entendeu que Ele não é um hóspede como os outros. À primeira vista, parece que Ele veio para receber, porque precisa de comida e abrigo. Na realidade, o Mestre veio nos dar a si mesmo através de sua palavra”.

A palavra de Jesus não é abstrata, é um ensinamento que toca e molda a vida, a transforma, a liberta da opacidade do mal, satisfaz e infunde uma alegria que não passa: a palavra de Jesus é a melhor parte, a que Maria escolheu. É por isso que Maria lhe dá o primeiro lugar: ela para e escuta. O resto virá depois. Isso não diminui o valor do compromisso prático, mas ele não deve preceder, mas fluir da escuta da palavra de Jesus, deve ser animado pelo seu Espírito. Caso contrário, se reduz a uma correria e agitação pelas muitas coisas, se reduz a um ativismo estéril.

Destacando o período de férias na Europa, o Papa convidou a aproveitar este tempo “parar e escutar Jesus”. “Hoje é cada vez mais difícil encontrar momentos livres para meditar. Para muitas pessoas, o ritmo de trabalho é frenético, exaustivo”, disse ainda Francisco, acrescentando:

O período de verão também pode ser precioso para abrir o Evangelho e lê-lo lentamente, sem pressa, uma passagem a cada dia, uma pequena passagem do Evangelho. Isso nos faz entrar nessa dinâmica de Jesus. Deixemo-nos interpelar por essas páginas, perguntando-nos como vai a nossa vida, a minha vida, se a minha vida está de acordo com o que Jesus diz ou não tanto. Em particular, perguntemo-nos: quando começo o dia, mergulho de cabeça nas coisas para fazer, ou primeiro busco inspiração na Palavra de Deus?

Segundo o Pontífice, “às vezes, começamos o dia automaticamente, fazendo, como as galinhas. Não! Devemos começar o dia, primeiro, olhando para o Senhor, lendo sua palavra breve, mas que esta seja a inspiração do dia. Se pela manhã sairmos de casa com uma palavra de Jesus na mente, certamente o dia ganhará um tom marcado por essa palavra, que tem o poder de orientar nossas ações de acordo com o que o Senhor quer”. “Que a Virgem Maria nos ensine a escolher a melhor parte, que jamais nos será tirada”, concluiu o Papa.

Siri Lanka e Ucrânia

Após a oração, o Santo Padre manifestou sua proximidade aos cingaleses e ucranianos:

Mais uma vez expresso minha proximidade com o povo de Sri Lanka. Queridos irmãos e irmãs, uno-me a vocês em oração e exorto todas as partes a buscarem uma solução pacífica para a atual crise, em favor, em particular, dos mais pobres, respeitando os direitos de todos. Uno-me aos líderes religiosos para implorar a todos que se abstenham de todas as formas de violência e iniciar um processo de diálogo para o bem comum […]. Também estou próximo da martirizada população ucraniana, atingida todos os dias por uma chuva de mísseis. Como não entender que a guerra só cria destruição e morte, distanciando os povos, matando a verdade e o diálogo? Rezo e espero que todos os atores internacionais realmente trabalhem para retomar as negociações, não para alimentar a insensatez da guerra.

Viagem ao Canadá

Francisco recordou que, no próximo domingo, 24, terá início sua 38ª viagem apostólica que o levará ao Canadá, dizendo que estará no país “sobretudo em nome de Jesus para encontrar e abraçar os povos indígenas”.

Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, incluindo alguns membros de institutos religiosos, contribuíram para as políticas de assimilação cultural que, no passado, prejudicaram gravemente, de várias maneiras, as comunidades nativas. Por essa razão, recebi recentemente no Vaticano alguns grupos, representantes dos povos indígenas, aos quais manifestei minha tristeza e minha solidariedade pelo mal que sofreram. Agora estou me preparando para fazer uma peregrinação penitencial, que espero, com a graça de Deus, possa contribuir para o caminho de cura e reconciliação já empreendido. Agradeço-lhes desde agora por todo o trabalho de preparação e pelo acolhimento que me reservarão. Obrigado a todos! E peço-lhes que me acompanhem com oração.

Fonte: Vatican News

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