Para muitas pessoas, crer em um Deus que se faz pequeno, humano, e que se aproxima dos seres humanos é muito difícil. Mais do que isso, “a humanidade de Jesus é um escândalo”, afirmou o Papa Francisco durante a missa do domingo, 7, na Praça da Unidade da Itália, em visita pastoral à cidade de Trieste, no Nordeste do país.
Jesus, filho de um carpinteiro, José, proveniente da pequena cidade de Nazaré, não foi reconhecido imediatamente pelo seu próprio povo como o Salvador. Pelo contrário – refletiu o Papa Francisco – sua presença no meio dos descartados da sociedade da época era motivo de surpresa e resistência.
“A palavra escândalo não se refere a algo obsceno ou indecente, segundo o uso que fazemos hoje, mas uma ‘pedra no caminho’, um obstáculo, um impedimento, algo que te bloqueia e te impede de ir além”, disse. O grande obstáculo, para muitas pessoas, é “a humanidade de Jesus”.
Para essas pessoas, era difícil reconhecer a presença de Deus em Jesus – disse o Papa –, porque ele era humano demais. “Como pode Deus, onipotente, revelar-se na fragilidade da carne de um homem? Como pode Deus, onipotente e forte, que criou a terra e liberou seu povo da escravidão, como pode fazer-se fraco a ponto de vir na carne e abaixar-se até lavar os pés dos discípulos? Esse é o escândalo”, comentou.
O objetivo principal da visita do Papa a Trieste foi a conclusão de um festival chamado “50ª Semana Social dos Católicos na Itália”. Trata-se de um evento organizado pela Conferência Episcopal Italiana (CEI), em parceria com outras organizações da sociedade civil, para refletir sobre temas políticos e sociais da conjuntura atual.
O ESCÂNDALO DA FÉ
Hoje precisamos do “escândalo da fé”, acrescentou o Pontífice em sua homilia. “Não precisamos de uma religiosidade fechada em si mesma, que levanta o olhar ao céu sem se preocupar com o que acontece na terra e celebra liturgias no templo, esquecendo-se, porém, do pó que corre sobre as nossas estradas”, disse.
“Precisamos, em vez disso, da fé radicada no Deus que se fez homem e, portanto, uma fé humana, uma fé de carne, que entra na história, que acaricia a vida das pessoas, que cura os corações despedaçados, que se torna fermento de esperança e semente de um mundo novo.”
O Papa criticou, ainda, a mentalidade consumista dos nossos tempos como um problema a ser superado para que a fé possa florescer. Se as pessoas buscam suprir somente as necessidades materiais mais imediatas, com “ânsia de ter as coisas”, o coração “fica doente” e torna-se difícil abrir-se para uma fé que “denuncia o mal, que aponta as injustiças, que incomoda as tramas de quem, nas sombras do poder, joga sobre a pele dos fracos”.
Cristo permaneceu fiel à sua missão, afirmou Francisco, “sem se esconder por trás de ambiguidades, sem se render a pactos com as lógicas do poder político e religioso”. Nesse sentido, fez da sua vida um dom, “uma oferta de amor ao Pai”, ensinou o Papa, dizendo que todo cristão deve também se tornar “profeta, testemunha do Reino de Deus, em todas as situações que vivemos, em todo lugar que habitamos”.