Medalha Milagrosa: quem a usar com devoção receberá muitas graças

Há quase 200 Anos, o uso deste sacramental é uma tradição entre os católicos; sua origem está relacionada às aparições da Virgem Maria a Santa Catarina Labouré

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Na França do começo da década de 1830, a “era da razão” levava ao crescimen­to do ateísmo e à convicção de que todas as respostas às mazelas humanas poderiam vir a partir da ciência. Toda essa certeza, porém, foi colocada em xeque quando uma epidemia de cólera eclodiu no país, em 1832, levando à morte de cerca de 20 mil pessoas. Um clima de temor se espa­lhou, pois, em questão de poucas horas, os infectados pela bactéria, por mais saudá­veis que estivessem, iam a óbito.

Dois anos antes deste cenário de caos, a Virgem Maria apareceu a uma noviça da Companhia das Filhas da Caridade – fundada no século XVII por São Vicente de Paulo para o cuidado pastoral aos mais pobres – enquanto rezava em uma humil­de capela em Paris. Foram três as aparições da Mãe de Deus a Santa Catarina Labouré, e em uma delas, em 27 de novembro de 1830, Nossa Senhora fez-lhe um pedido especial: “Manda cunhar uma medalha de acordo com este modelo. Aqueles que a trouxerem hão de receber muitas graças. Eles devem usá-la em volta do pescoço. Abundarão graças para aqueles que a usa­rem com confiança”.

O modelo da medalha era a própria cena da aparição, assim descrita por Santa Catarina: “Uma Senhora de me­diana estatura, de rosto muito belo e for­moso… Estava de pé, com um vestido de seda, cor de branco-aurora. Cobria­-lhe a cabeça um véu azul, que descia até os pés… As mãos estenderam-se para a terra, enchendo-se de anéis cobertos de pedras preciosas. A Santíssima Virgem disse-me: ‘Eis o símbolo das Graças que derramo sobre todas as pessoas que me pedem …’ Formou-se então, em volta de Nossa Senhora, um quadro oval, em que se liam, em letras de ouro, estas palavras: ‘Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a Vós’. Depois disso, o quadro que eu via virou-se, e eu vi no seu reverso: a letra M, tendo uma cruz na parte de cima, com um traço na base. Por baixo: os Sagrados Corações de Jesus e de Maria. O de Jesus, cerca­do por uma coroa de espinhos e a arder em chamas, e o de Maria também em chamas e atravessado por uma espada, cercados de doze estrelas”.

O CRESCIMENTO DA DEVOÇÃO EM MEIO À PANDEMIA

Diante do cenário de morte em razão da pandemia de cólera, a noviça Catarina Labouré falou ao Monsenhor Quélen, Ar­cebispo de Paris à época, sobre as aparições e as mensagens da Virgem Maria e ele au­torizou que fossem cunhadas as primeiras medalhas, entre 1,5 mil e 2 mil unidades.

Muitos dos doentes que recebiam a “Medalha de Nossa Senhora das Graças”, distribuídas pelas Irmãs das Filhas da Ca­ridade, passaram a relatar curas milagro­sas. Em 1835, já se contabilizavam mais de um milhão de unidades da medalha entregues, a qual já era conhecida como a “Medalha Milagrosa”, por ter ajudado a conter a epidemia em toda a França e por ser a causa de muitas pessoas se converte­rem ao catolicismo.

Com grande empenho de Santa Ca­tarina Labouré, este sacramental passou a ser conhecido em toda a França e em ou­tros países. Quando a religiosa faleceu, em 31 de dezembro de 1876, já haviam sido distribuídas mais de 1 bilhão de medalhas em todo o mundo. Também se tornou crescente a devoção a Nossa Senhora das Graças, cuja memória litúrgica é celebrada em 27 de novembro.

NÃO É UM ADEREÇO

Embora o uso da Medalha Milagrosa não requeira um rito específico de impo­sição, como é feito no caso do escapulário, por exemplo, ela não deve ser utilizada como um adereço corpóreo qualquer, muito menos como um amuleto, mas em seu sentido sacramental.

O Catecismo da Igreja Católica explica que os sacramentais “são sinais sagrados por meio dos quais, imitando de algum modo os sacramentos, se significam e se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos prin­cipalmente de ordem espiritual. Por meio deles, dispõem-se os homens para a recep­ção do principal efeito dos sacramentos e são santificadas as várias circunstâncias da vida (CIC 1667).

Ainda de acordo com o Catecismo, os sacramentais, por meio da oração da Igre­ja, preparam o fiel para receber a graça di­vina e dispõem-no para com ela cooperar (cf. CIC 1670).

OS SINAIS DA MEDALHA MILAGROSA

Este sacramental é composto por mui­tos sinais a respeito da fé cristã e do culto à Virgem Maria:

Na parte da frente da medalha, Nossa Senhora aparece esmagando a cabeça da serpente que está sobre o mundo. Isso denota o poder de Maria, em razão de sua graça, para triunfar sobre Satanás e diante de todo o mal;

Há 12 estrelas sobre a cabeça de Maria e ela está revestida de sol, remetendo à passagem do livro do Apocalipse (cf. Ap 12,1);

Das mãos estendidas de Maria, saem os raios das graças que ela derrama sobre todo o mundo e aqueles que a evocam;

A inscrição que circunda a medalha ‘Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a Vós’ remete – já em 1830 – à Sua Imaculada Conceição, dogma que somente seria proclamado pela Igreja em 1854;

A imagem da Virgem acima do globo terrestre é indicativo da realeza da Mãe Deus, rainha do céu e da terra;

No verso da medalha está cunhada a letra “M”, símbolo de Maria e de sua maternidade, a Mãe do Crucificado. A representação da cruz sustenta a letra “I”, a inicial de “Iesus”, em latim;

Doze estrelas circundam o verso da medalha, simbolizando a Igreja, fundada por Cristo, a partir dos 12 apóstolos;

E na parte inferior do verso há a representação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, sempre unidos e aos quais os cristãos prestam devoção por terem recebido tanto o amor do Salvador quanto de sua Mãe.

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS
Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, do poder ilimitado que vos deu o vosso Divino Filho
sobre o seu coração adorável. 
Cheio de confiança na vossa intercessão, venho implorar o vosso auxílio.
Tendes, em vossas mãos, a fonte de todas as graças que brotam do coração amantíssimo de Jesus Cristo; 
Abre-a em meu favor, concedendo-me a graça que ardentemente vos peço. 
Não quero ser o único por vós rejeitado, sois minha mãe, sois a soberana do coração de vosso Divino Filho.
Sim, ó Virgem Santa, não esqueçais as tristezas desta terra; 
Lançai um olhar de vontade aos que estão no sofrimento, aos que não cessam de provar o cálice das amarguras da vida.
Tende piedade dos que se amam e que estão separados pela discórdia, pela doença, pelo cárcere, exílio ou morte. 
Tende piedade dos que choram, dos que suplicam, e dai a todos o conforto, a esperança e a paz!
Atendei, pois, à minha humilde súplica 
E alcançai-me as graças que agora fervorosamente vos peço por intermédio de vossa santa medalha milagrosa!
Amém!

(Com informações de Canção Nova, Minha Biblioteca Católica, site Convento da Penha e Vatican News)

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