Em uma carta aberta aos párocos de todo o mundo, publicada na conclusão do encontro sinodal organizado em Roma, entre 29 de abril e 2 de maio, o Papa Francisco destaca que a Igreja precisa deles para poder empreender e crescer no caminho sinodal. Sem os párocos, afirma, “não é possível caminhar juntos”.
“Não nos tornaremos jamais uma Igreja sinodal missionária se as comunidades paroquiais não fizerem da participação de todos os batizados na única missão de anunciar o Evangelho o traço característico de suas vidas”, diz a carta. “Se não são sinodais e missionárias as paróquias, tampouco será a Igreja.”
Os pastores são chamados a acompanhar as comunidades em que se encontram por meio da oração, do discernimento e do “zelo apostólico”, declara Francisco. Trata-se de um desafio de todos os sacerdotes, inclusive para “o Papa, os bispos e a Cúria Romana”. O Senhor “não nos fará faltar a sua graça”, continua.
“Não podemos ser autênticos pais, se não formos, antes de tudo, filhos e irmãos. E não seremos capazes de suscitar comunhão e participação nas comunidades que nos são confiadas se, primeiro, não as vivermos entre nós,” acrescenta.
Nesse contexto, o Santo Padre, que teve a chance de se reunir com os párocos participantes à conclusão do encontro, fez três propostas a eles: “Viver o carisma ministerial específico cada vez mais ao serviço dos dons multiformes semeados pelo Espírito no povo de Deus”; “aprender e praticar a arte do discernimento comunitário”; e colocar “à base de tudo” a partilha entre os sacerdotes e o próprio bispo.
‘ESCUTA, ORAÇÃO E DISCERNIMENTO’
Três palavras marcaram o evento “Párocos pelo Sínodo – Um encontro internacional”, organizado em Sacrofano, nos arredores de Roma: escuta, oração e discernimento. A atividade, preparado pela Secretaria Geral do Sínodo, em parceria com o Dicastério para o Clero e o Dicastério para as Igrejas Orientais, reuniu cerca de 300 párocos para refletir sobre a sinodalidade.
Foi uma resposta a demandas ouvidas na primeira assembleia geral do Sínodo sobre a Igreja sinodal, realizada em outubro de 2023, quando os participantes notaram que havia poucos párocos representados e que era preciso dar mais voz a eles. Os participantes do recente encontro foram, em sua maioria, enviados pelas conferências episcopais.
De acordo com a Secretaria Geral do Sínodo, foram três os objetivos da atividade: escutar e valorizar a experiência sinodal que os párocos estão vivendo nas suas respectivas paróquias e dioceses; permitir o diálogo e a troca de experiências e ideias; e fornecer material para utilizar na redação do Instrumentum laboris (Instrumento de trabalho) da segunda sessão do Sínodo que ocorrerá em outubro deste ano.
Essas contribuições formarão uma das diversas fontes que estão produzindo material de reflexão neste período, até outubro de 2024. O Instrumentum é o documento que orienta e estrutura as conversas da assembleia sinodal.
Do ponto de vista prático, o encontro dos párocos teve breves palestras com autoridades do Sínodo – como o Cardeal Mario Grech, Secretário-geral, e a Irmã Nathalie Becquart e Dom Luís Marin, Subsecretários, além de testemunhos do mundo todo e momentos de discussão, em estilo sinodal, estimulados por facilitadores da Secretaria. Nos pequenos grupos, a linguagem sinodal foi adotada para que cada um pudesse falar, com o objetivo de chegar a alguns pontos em comum entre os participantes ao redor da mesa.
Fraternidade e abertura: padres brasileiros comentam o encontro
Representando a Igreja no Brasil, havia quatro sacerdotes: Padre Eliezer Cézar de Paiva, da Diocese de Imperatriz (MA); Padre Ricardo Pinto, da Arquidiocese de São Paulo (SP); Padre Ivanir Antonio Rampon, da Arquidiocese de Passo Fundo (RS); e Padre Vitor Hugo Silva do Espírito Santo, da Arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ).
“Falamos sobre nossas vidas e sobre nossas pastorais. O objetivo central é enriquecer a próxima sessão do Sínodo”, disse o Padre Vitor Hugo ao O SÃO PAULO. “A experiência foi inesquecível: estar com sacerdotes do mundo inteiro, de lugares sobre os quais eu não tinha a menor ideia de como a Igreja funcionava… como do Iraque, das Ilhas do Pacífico, são experiências muito diferentes da minha pastoral”, declarou.
“Mas estávamos ali partilhando, abrindo espaço para a sinodalidade. O clima de todo o encontro foi de fraternidade e de abertura. Vi e ouvi muitos padres disponíveis para entrar nessa nova dinâmica da sinodalidade”, disse o Sacerdote do Rio de Janeiro. O encontro com o Papa, privado, foi um momento de diálogo entre os padres e o Pontífice. “Ele reforçou a necessidade do diálogo, da fraternidade e de não cair nos esquemas mundanos”, comentou Padre Vitor Hugo.
MISSIONÁRIOS DA SINODALIDADE
Padre Ricardo Pinto, da Arquidiocese de São Paulo, destacou o fato de o encontro dos párocos ter sido já uma primeira resposta da assembleia sinodal. “Nós estamos num contexto de base, na relação direta com o povo de Deus”, disse à reportagem.
“Fomos ouvidos pela Igreja naquilo que são os desafios, as esperanças, que como párocos experimentamos todos os dias. E, sobretudo, foi importante entender que todo o trabalho sinodal passa por uma ação do Espírito Santo”, completou, enfatizando a vida de “comunhão” das paróquias. O momento de partilha foi “um laboratório de comunidade paroquial”, refletiu Padre Ricardo.
“O Papa nos pediu que sejamos missionários da sinodalidade”, recordou o Sacerdote da Arquidiocese de São Paulo. “Pediu, também, que sejamos animadores da sinodalidade nas dioceses de toda a Igreja. É uma missão, mas também algo extraordinário, porque depositou em nós a sua confiança. Nós podemos ser os canais por meio dos quais a Providência de Deus quer atualizar a linguagem de diálogo, de comunhão, da misericórdia”, afirmou.
DISPONIBILIDADE E TROCA
Padre Eliezer Cézar de Paiva, da Diocese de Imperatriz, avaliou que o encontro foi de um grande “espírito fraterno”, num ambiente muito alegre e de oração. Do diálogo com o Papa, que ele considerou muito rico, ficou na lembrança, além do pedido para se difundir a sinodalidade, a importância de se colocar a fraternidade sacerdotal em prática também com os bispos.
A reunião internacional dos padres deixou uma impressão forte no Padre Eliezer, que mencionou conversas com sacerdotes da Austrália, de países da África, da Sibéria, da Rússia, algo que, para ele, foi renovador.
Embora alguns temas difíceis tenham saído nas conversas, disse ele, houve grande disponibilidade de partilha, com comentários em plenária, mas sem receios de falar o que se pensava. “A mensagem que chegou até nós era falar sem nenhum receio. Havia sinceridade do Papa de querer nos ouvir totalmente”, disse Padre Eliezer.
“Por parte da Secretaria do Sínodo, havia uma postura muito séria de poder nos ouvir. Foi uma experiência de pro- funda fraternidade presbiteral e fraternidade sinodal”, concluiu.