Papa Francisco: ‘O esporte é um medicamento para o individualismo de nossas sociedades’

O Pontífice recebeu no Vaticano, uma delegação da Federação Italiana de Basquete, na segunda-feira, 31, e no sábado, 29, uma delegação da Athletica Vaticana

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O Papa Francisco recebeu em audiência, na segunda-feira, 31, na Sala Clementina, no Vaticano, uma delegação da Federação Italiana de Basquete, por ocasião de seus cem anos de fundação.

Francisco recordou “um jogo disputado em 1955 na Praça São Pedro, diante do Papa Pio XII”, e sublinhou que nos anos seguintes, “a relação entre a Igreja e o mundo do esporte foi sempre cultivada na consciência de que ambos, de diferentes maneiras, estão ao serviço do crescimento integral da pessoa e podem oferecer uma contribuição preciosa à nossa sociedade”.

Saber jogar em equipe

A seguir, o Papa sublinhou dois aspectos da atividade esportiva. A primeira, ser uma equipe.

Existem alguns esportes que são chamados de “individuais”. No entanto, o esporte sempre ajuda as pessoas a entrarem em contato umas com as outras, a criar amizade entre pessoas diferentes, muitas vezes desconhecidas, que apesar de virem de diferentes contextos se reúnem e lutam por um objetivo comum.

Duas coisas são importantes: “estar unidos e ter um objetivo. Neste sentido, o esporte é um medicamento para o individualismo de nossas sociedades, que muitas vezes gera um eu isolado e triste, tornando-nos incapazes de ‘jogar em equipe’ e cultivar uma paixão por algum bom ideal. Por meio de seu compromisso com o esporte, vocês nos lembram o valor da fraternidade, que também está no coração do Evangelho”.

Disciplina interior

O segundo aspecto, uma atitude do esportista, é a disciplina.

“Muitos jovens e adultos apaixonados por esporte e que os seguem, torcendo por vocês, às vezes não conseguem imaginar quanto trabalho e treinamento há por trás de uma competição. Isto exige muita disciplina, não só física, mas também interior: exercício físico, constância, atenção a uma vida ordenada em termos de horários e alimentação, descanso alternado com a fadiga do treinamento. Esta disciplina é uma escola de formação e educação, especialmente para crianças e jovens. Isso os ajuda a entender como é importante, e desculpem-me se cito Santo Inácio de Loyola, aprender a ‘colocar a vida em ordem’”.

“Esta disciplina – prosseguiu o Pontífice – não pretende nos tornar rígidos, mas nos tornar responsáveis: por nós mesmos, pelas coisas que nos são confiadas, pelos outros e pela vida em geral. Ajuda também a vida espiritual, que não pode ser deixada apenas às emoções, nem pode ser vivida em fases alternadas, ‘somente quando eu quero’. A vida espiritual também precisa de uma disciplina interior composta de fidelidade, constância e um compromisso diário com a oração. Sem treinamento interior constante, a fé corre o risco de se apagar”.

Aceitar as derrotas com maturidade

O Papa disse, ainda, que “o basquete é um esporte que se eleva para o céu porque, como disse um ex-jogador famoso, é um esporte que olha para o alto, para a cesta e, portanto, é um verdadeiro desafio para todos aqueles que estão acostumados a viver com os olhos sempre voltados para o chão”. “Gostaria que esta fosse uma tarefa nobre para vocês: promover o jogo saudável entre crianças e adolescentes, ajudar os jovens a olharem para cima, a nunca desistir”, disse ainda o Pontífice.

Francisco concluiu, enfatizando como deve ser a atitude diante da derrota. O Pontífice disse que contaram para ele, dias atrás, que num certo local, “houve um vencedor e um que ficou em segundo lugar. O que ficou em segundo lugar beijou a medalha. Normalmente, quando ficamos em segundo lugar, ficamos amuados, tristes, e não digo que jogamos a medalha fora, mas gostaríamos de fazê-lo. Mas ele beijou a medalha. Isso nos ensina que mesmo na derrota pode haver vitória. É preciso aceitar as derrotas com maturidade, porque isso faz crescer, faz entender que na vida não é sempre tudo doce, que não se vence sempre. Às vezes, se experimenta a derrota. Quando um esportista, uma esportista, sabe “vencer a derrota” desta forma, com dignidade, com humanidade, com um grande coração, esta é uma verdadeira honra, uma verdadeira vitória humana”.

O esporte que ‘corre junto’

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Já no sábado, 29, o Papa Francisco recebeu em audiência uma delegação da Athletica Vaticana que a partir de 5 de junho vai até a República de San Marino para participar do Campeonato de Atletismo dos Pequenos Estados da Europa.

Os atletas da associação esportiva do Vaticano, acompanhados pelo Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, foram recebidos pelo Papa na biblioteca privada do Palácio Apostólico.

A beleza do esporte

Francisco afirmou ser significativo e importante que haja uma equipe esportiva no Vaticano porque, falando no improviso e num jeito bem familiar com os “seus” atletas, a Igreja tem interesse a tudo o que é humano e que diz respeito ao homem. E o esporte, o jogo, é uma dimensão central na vida diária das pessoas, tanto que pode ser visto como um “sacramental da beleza”.

Precisamente sobre a experiência esportiva como autêntica beleza e como mística de equipe, Francisco recordou novamente a expressão usada na América Latina sobre aqueles que são ‘fominhas de bola’ e jogam por conta própria, não pensando no grupo.

O Papa então sugeriu à Athletica Vaticana para viver sempre um estilo de comunidade, treinando juntos, correndo juntos, sem nunca perder de vista a dimensão amadora da atividade esportiva. Justamente ao insistir com relação ao espírito amador, o Pontífice demonstrou surpresa quando se toma conhecimento que um jogador custou tantos milhões de euros.

A troca de presentes

Francisco entregou a cada representante da Athletica Vaticana o livro “O esporte segundo Papa Francisco  – Carta aberta a um atleta olímpico”, na tradução livre, publicado pela “La Gazzetta dello Sport” e organizado por Pier Bergonzi e Don Marco Pozza, que, em vários idiomas, será distribuído na vila olímpica de Tóquio.

Já o Pontífice foi presenteado simbolicamente com um bastão para a corrida de revezamento, de cor branca, com a escrita em latim Simul Currebant – o “lema” da Athletica Vaticana em referência ao trecho do Evangelho de João (capítulo 20, versículo 4): Pedro e João “corriam juntos” na manhã da Ressurreição. O bastão, que Francisco assinou, como justamente acontece durante uma corrida de revezamento, será entregue ao Estádio San Marino, aos representantes dos Pequenos Estados da Europa (mesmo se, por causa da emergência sanitária e social, nem todos os 18 Estados estarão presentes no campeonato).

O campeonato de atletismo

“A Athletica Vaticana leva para a pista entre os ‘pequenos’ Estados da Europa em uma dimensão, a da ‘pequenez’, que tem, agora mais do que nunca, um grande significado”, disse o Cardeal Ravasi. “Mesmo que hoje não faltem tensões entre alguns ‘pequenos’ Estados, o esporte pode ser, como sempre desde o seu nascimento como experiência humana, um lugar de encontro e de conhecimento mútuo que faz cair preconceitos e hostilidades e, através do diálogo entre diferentes culturas e religiões, cria amizade entre os homens e os povos até que corram juntos – simul current – em direção ao objetivo comum que é a paz”.

Como convidada a San Marino, a Athletica Vaticana participa do primeiro evento internacional junto com os povos que, não apenas esportivamente, irá testemunhar concretamente a “cultura da fraternidade” e construir pontes de amizade e diálogo.

(Com informações de Vatican News)

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