Projeto recém-lançado oferece oficinas de geração de renda e reinserção à sociedade, rodas de conversas, reforço escolar, alfabetização e atividades lúdico-pedagógicas
A Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria (ICM), fundada há mais de 170 anos no Rio de Janeiro (RJ) pela Bem-Aventurada Bárbara Maix (1818-1873), iniciou uma frente de missão em favor das pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo.
O projeto “Redesenhando a vida com a população em situação de rua” é um marco congregacional, assumido pelas Irmãs, em 2020, durante o XX Capítulo Geral Ordinário. Após estudos, reflexões e orações, o projeto começou a ser colocado em prática em fevereiro de 2022.
A nova comunidade pastoral está situada na Rua Irmã Carolina, no bairro do Belenzinho, zona Leste da capital. A atuação das consagradas se dará, de modo particular, nos bairros do Belenzinho, Brás, Bresser, Barra Funda e na região da Sé.
Integram a comunidade as Irmãs Beatriz Pagnossim, Dalva Turella, Maria Itikawa, Marie Mirca Cinea e Nelci Ferreira Vieira.
AÇÕES CONCRETAS
O objetivo das religiosas é atuar em comunhão com iniciativas já existentes na Arquidiocese, como as da Pastoral do Povo de Rua, Caritas Arquidiocesana de São Paulo e em parceria com os serviços públicos.
Na capital, além dos trabalhos nas ruas, embaixo dos viadutos, praças e calçadas, as consagradas têm o intuito de sair das ações pontuais (até então realizadas) e destinar atividades diretas para beneficiar crianças, adolescentes e mulheres em situação de rua – com ajudas como doação de cestas básicas, escuta, apoio e oficinas de geração de renda e reinserção à sociedade, conforme a área de interesse de cada pessoa.
Entre as ações estão a realização de rodas de conversas; reforço escolar, alfabetização e atividades lúdico-pedagógicas para as crianças; fornecimento de alimentação e roupas; encaminhamento de demandas aos órgãos públicos e seu acompanhamento; e a participação nos movimentos sociais que chamem a atenção para a causa.
“A concretização desse projeto exige de nós coerência com os princípios do Evangelho, no compromisso com os pobres que estão à margem da sociedade do nosso tempo. Certamente, essa é uma das formas de, como filhas de Bárbara Maix, afirmar ao mundo que seu sonho continua vivo”, apontou Irmã Beatriz Pagnossim.
O DRAMA DAS RUAS
Em entrevista ao O SÃO PAULO, as religiosas Beatriz e Dalva Turella contaram, emocionadas, as realidades enfrentadas por crianças, adolescentes e mulheres em situação de rua na capital.
Irmã Dalva atuou durante 40 anos nas pastorais sociais no Nordeste do País e disse já ter visto muitas realidades de fome, desemprego, violência, preconcei- tos e discriminação.
“Decidi pela vida religiosa para ser um sinal de esperança na vida de tantas pessoas invisíveis à sociedade. A pandemia escancarou ainda mais essa realidade. Como consagrada e como congregação, é nossa missão estender a mão, ter a compaixão com os mais vulneráveis, enfileirados embaixo dos viadutos, nas calçadas, nos barracos”, disse a freira.
Irmã Beatriz recordou histórias de mulheres que clamam por um pedaço de pão, por uma oportunidade de recomeçar: “Nas visitas às periferias da nossa cidade, encontramos histórias de fome, violência doméstica, desemprego e muito sofrimento. São pessoas de bem que, por causa do desemprego, da crise econômico-política, fizeram das ruas sua morada, não por escolha, mas pelas circunstâncias se encontram em situação de rua”.
As freiras reforçaram que a essência do carisma é a “busca contínua da vontade de Deus, caracterizada pelo segui- mento radical a Jesus Cristo, numa disponibilidade aos apelos dos mais pobres em cada momento histórico, olhando de modo preferencial as mulheres em situação de vulnerabilidade, a juventude, as crianças e adolescentes”, afirmaram, recordando a frase da fundadora: “Não esqueçamos os pobres”. Nas ruas da capital paulista vivem, aproximadamente, 32 mil pessoas, conforme dados do Censo da População em Situação de Rua, divulgado pela Prefeitura em janeiro deste ano.
AJUDA MÚTUA
A Paróquia São José do Belém abriu as portas para acolher o projeto e suas atividades. Padre Marcelo Maróstica Quadro, Pároco e Diretor da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, dispon bilizou algumas salas paroquiais para a realização das atividades do projeto.
Na Paróquia, acontecem as oficinas de corte e costura, de artesanato, rodas de conversa e momentos de escuta e oração.
O Educandário São José do Belém, uma obra social do ICM, é parceiro no projeto e contribuirá com a parte do reforço escolar, alfabetização e atividades lúdico-pedagógicas. “Muitas mães estão preocupadas com seus filhos fora da es- cola. A Educação é a base, e nosso intuito com o projeto é agregar conhecimento a essas crianças e adolescentes, despertando o interesse pelos estudos”, destacou Irmã Beatriz.
Cestas básicas são doadas às famílias e mães solo. “É uma ação pontual que sacia a fome, mas, por outro lado, renova a esperança e desperta a atitude de trans- formar a própria realidade”, disse Irmã Dalva.
Outro viés do projeto é garantir a dignidade dessa população por meio de políticas públicas, cobrando o encaminhamento e acompanhamento das demandas dessa população nos órgãos públicos.
“Precisamos mobilizar a sociedade e as autoridades para assegurar os direitos à vida, à saúde, à moradia, à alimentação digna”, expressou Irmã Beatriz, elucidando que as pessoas em situação de rua “podem até ser invisíveis para a sociedade, mas não são invisíveis para Deus”.
SOBRE A CONGREGAÇÃO
A Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria foi fundada em 8 de maio de 1849, no Rio de Janeiro (RJ), pela Bem-Aventurada Bárbara Maix, cuja causa de canonização já está em curso.
É a segunda ordem religiosa mais antiga do Brasil. Está presente em mais de cem comunidades religiosas em solo brasileiro e, também, na Bolívia, Argentina, Haiti, Itália, Angola e Moçambique. As religiosas têm como carisma a “busca contínua da vontade de Deus” e exercem a missão nas áreas da Educação, assistência social, animação missionária, pastorais sociais, catequese, saúde alternativa e formação de lideranças.