Paris 2024: Brasil termina entre os 5 melhores no ranking da Paralimpíada

Paralympic Games

Ao chegar aos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, a delegação brasileira tinha uma meta: ultrapassar o desempenho de 72 medalhas alcançado tanto na edição Rio 2016 quanto em Tóquio 2020. E quando a chama paralímpica se apagou na noite do domingo, 8, no Stade de France, foi possível não só celebrar um novo recorde de pódios – 89 ao todo, com 25 ouros – mas também o inédito 5º lugar no quadro geral de medalhas – atrás apenas de China, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Países Baixos – e o incrível fato de, em 12 anos, mais que dobrar o número de 43 medalhas alcançadas nos Jogos de Londres 2012.

“O resultado dos Jogos Paralímpicos foi excepcional, mas não dá para falar sobre esse resultado sem voltar a 2017, quando elaboramos o nosso plano estratégico e que foi uma bússola ao longo dos últimos oito anos que nos guiou até aqui”, declarou, após a cerimônia de encerramento, Mizael Conrado, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

O desempenho histórico rendeu até homenagens em um dos pontos mais icônicos do Brasil: o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, foi iluminado de verde e amarelo na noite de domingo.

GABRIEL ARAÚJO E CAROL SANTIAGO DOMINAM AS PISCINAS

Dos 89 pódios do Brasil em Paris, 26 vieram da natação, sendo sete de ouro: o bicampeonato de Talisson Glock nos 400m livre S6 (limitações físico-motoras); os três títulos de Gabriel Araújo – nos 200m livre, 50m costas e 100m costas S2 (limitações físico-motoras); e as três medalhas douradas de Carol Santiago – nos 50m livre S13, 100m livre S12 e 100m costas S12 (deficiência visual). Ela também faturou pratas nos 100m peito SB12 e no revezamento 4×100 livre 49 pontos, somando agora dez medalhas paralímpicas na carreira.

“Vai ficar toda essa força, toda essa dedicação que a gente tem, esse sonho realizado, para que os novos atletas que estão chegando e as crianças possam ver nisso um caminho”, comentou Carol após a conquista de uma de suas medalhas em Paris.

PETRÚCIO, GERUSA E BETH GOMES SE DESTACAM NO ATLETISMO

O Brasil também teve um resultado histórico no atletismo, com 36 pódios, dos quais 10 de ouro, com Júlio César Agripino (5.000m T11), Ricardo Mendonça (100m T37), Petrúcio Ferreira (100m T47), Yeltsin Jacques (1.500m T11), Claudiney Batista (lançamento de disco F56), Jerusa Geber (100m e 200m T11), Fernanda Yara (400m T47), Beth Gomes (lançamento de disco F53) e Rayane Soares (400m T13).

No enredo de cada uma destas conquistas, muitas são as histórias de superação. Petrúcio Ferreira, por exemplo, chegou ao tricampeonato olímpico nos 100m T47 (deficiência nos membros superiores) após um ciclo paralímpico marcado por lesões: “Agradeço a quem acredita no meu trabalho. Este ano, eu venho sofrendo muito, briga interna com meu corpo, muitas lesões, me machucando muito, muita cobrança, eu me cobro muito”.

Já Jerusa Geber teve de esperar cinco edições paralímpicas para chegar, aos 42 anos, ao lugar mais alto do pódio tanto nos 100m quanto nos 200m T11 (deficientes visuais). “Estou até agora sem acreditar no que aconteceu. Jamais acreditávamos que o ouro viria. A palavra é gratidão. O esporte transforma vidas”, disse Jerusa após vencer os 100m.

Não menos impressionante é a determinação de Beth Gomes, 59 anos, ouro no lançamento de disco F53 (para atletas cadeirantes) e prata no arremesso de peso F54. Beth era jogadora de vôlei até 1993, quando foi diagnosticada com esclerose múltipla. Ingressou no esporte paralímpico pelo basquete em cadeiras de rodas e depois migrou para o atletismo. “Eu só tenho gratidão a cada dia que acordo, que respiro, que enxergo e que consigo tocar um pouco a minha cadeira de rodas”, disse, enrolada à bandeira do Brasil, após a vitória.

4 OUROS DO BRASIL NO JUDÔ

O judô brasileiro volta de Paris com oito medalhas na bagagem, das quais quatro de ouro com Alana Maldonado (até 70kg J2), Rebeca Silva (+70kg J2), Arthur Silva (até 90kg J1) e Willians Araújo (+90kg J1).

Aos 29 anos, Alana chegou ao bicampeonato paralímpico após ter se lesionado e passado por cirurgias em 2023, além de superar um quadro de depressão. “Não sabia se eu ia chegar até aqui, se eu era capaz de conseguir dar a volta por cima de tudo. E Deus me mostrou o tempo inteiro que eu sou capaz, que eu sou forte. E, também, graças às pessoas que sempre estão do meu lado no dia a dia, nos treinos, nas salas de treinamento, me mostrando que eu sou capaz, me motivando”, disse Alana, da classe J2, que engloba atletas que conseguem ver imagens.

Já Arthur Silva, na classe J1 – que congrega cegos totais ou com percepção de luz, mas sem reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância – chegou ao ouro paralímpico após ficar sem medalha nos Jogos Rio 2016 e Tóquio 2020.

Na infância, ele teve retinose pigmentar e começou a perder a visão aos 2 anos, até ficar completamente cego aos 18.

NO ALTO DO PÓDIO EM OUTRAS 3 MODALIDADES

O hino brasileiro também tocou em Paris para o bicampeonato de Mariana D’Andrea, da categoria até 73kg do halterofilismo, modalidade em que o País também foi ouro com Tayana Medeiros (até 86kg) e conquistou ainda dois bronzes.

No taekwondo, Ana Carolina Moura foi a campeã olímpica da categoria até 65kg; e houve mais uma medalha de bronze.

Na canoagem, Fernando Rufino faturou a última medalha brasileira nos Jogos Paralímpicos na prova do VL2 (para atletas que usam o troco e os braços na remada), fazendo “dobradinha” com Igor Tofalini, medalhista de prata. Curiosamente, os dois eram peões de rodeio antes de sofrerem acidentes: Rufino foi atropelado por um ônibus e perdeu parcialmente o movimento das pernas; já Tofalini caiu de um touro, levou um pisão do animal nas costas e ficou paraplégico.

“Quero cumprimentar todos os atletas medalhistas e os que não subiram ao pódio também. O esporte paralímpico do Brasil é referência”, disse Rufino. Ele foi porta-bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento, ao lado de Carol Santiago.

MEDALHAS INÉDITAS

Em Paris 2024, o Brasil ultrapassou a marca de 400 pódios na história das paralimpíadas, totalizando agora 462 medalhas.

Nessa lista estão inéditas medalhas em três esportes em Paris: o badminton, com o bronze de Vitor Tavares, na classe simples SH6 (classes funcionais de baixa estatura); o tiro esportivo, com a prata de Alexandre Galgani, na classe R5 carabina de ar 10m, posição deitado misto SH2 (atletas que não possuem habilidade para suportar o peso da arma com os braços e precisam de um suporte); e o triátlon, com a prata de Ronan Cordeiro na classe PTS5 (para deficiências físico-motoras moderadas).

DE ESPERANÇOSOS A HEROICOS

Mais do que qualquer uma destas conquistas, talvez o que ficará para a história tanto para os 280 atletas brasileiros quanto para todos os 4,4 mil esportistas, de 184 países, que participaram dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024 seja algo externado por Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, na cerimônia de encerramento: “Vocês chegaram aqui tão esperançosos e saem daqui como heróis e heroínas atléticos, modelos para um futuro melhor e mais inclusivo”.

CLIQUE AQUI E VEJA QUAIS FORAM OS MEDALHISTAS DO BRASIL EM PARIS 2024

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