Em 7 de junho de 2013, o Papa Francisco recebeu em audiência, na sala Paulo VI, professores e alunos, representantes das escolas jesuítas da Itália e da Albânia. Na introdução de seu discurso aos jovens, o Papa disse: “Gostaria de vos dizer antes de tudo algo que se refere a Santo Inácio de Loyola, nosso fundador. No outono de 1537, vindo para Roma com um grupo dos seus primeiros companheiros, interrogou-se: se nos perguntarem quem somos, o que responderemos? A resposta veio-lhe espontaneamente: Diremos que somos a ‘Companhia de Jesus’!”
Companhia de Jesus, cujos membros passaram para história conhecidos como Jesuítas. “Por que motivo vos narrei este acontecimento?”, questionou aos jovens o Papa Francisco? E sua resposta: “Porque Santo Inácio e os seus companheiros tinham compreendido que Jesus lhes ensinava como viver bem, como realizar uma existência que tenha um sentido profundo, que suscite entusiasmo, alegria e esperança; tinham entendido que Jesus é um grande mestre e modelo de vida, e que não só lhes ensinava, mas também os convidava a segui-Lo por aquele caminho”.
O discurso preparado pelo Papa aos representantes das escolas jesuítas estava centrado em uma virtude muito importante, um ponto-chave que não devemos ignorar: a magnanimidade. Nas palavras do Santo Padre: “Devemos ser magnânimos, com um coração grande, sem medo. Há que apostar sempre em grandes ideais. Mas magnanimidade também nas pequenas coisas, nas coisas de todos os dias. O coração amplo, o coração grande. É importante encontrar esta magnanimidade com Jesus, na contemplação de Jesus”.
Nesse contexto, nasce uma pergunta de um professor espanhol, que assim se dirige ao Papa Francisco: “Interrogo-me sobre o nosso compromisso político, social, na sociedade, como adultos nas escolas jesuítas. Dê-nos alguma ideia: como pode hoje o nosso compromisso, o nosso trabalho na Itália, no mundo, ser jesuíta, como pode ser evangélico?”
O Papa Francisco responde ao professor: “Para o cristão, é uma obrigação envolver-se na política. Nós cristãos, não podemos fazer como Pilatos e lavar as mãos. Não podemos! Devemos envolver-nos na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os leigos cristãos devem trabalhar na política”.
Como se antecipando a uma objeção, o Papa completou: “Dir-me-ás: não é fácil! […] Não é fácil; a política está muito suja; e ponho-me a pergunta: Mas está suja, por quê? Não será porque os cristãos se envolveram na política sem espírito evangélico? Deixo-te esta pergunta: É fácil dizer que ‘a culpa é de fulano’, mas o que eu faço? É um dever! Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão! E, muitas vezes, a opção de trabalho é a política”.
A política está suja, mas está suja por quê? Qual é a sua resposta? O que faz para revestir a política do espírito evangélico? O que faz pelo bem comum? O que responderia ao Papa?
Há diversas maneiras de trabalhar pelo bem comum, e não se resume a vida parlamentar e de governante, ainda que essa seja uma de suas expressões políticas mais nobres. Há diversas instituições e organizações dedicadas para o bem comum da sociedade. Além disso, em âmbito pessoal, “cada um de nós é chamado a ser artífice da paz, unindo e não dividindo, extinguindo o ódio em vez de conservá-lo, abrindo caminhos de diálogo em vez de erguer novos muros” (cf. Fratelli tutti 284). A política exige magnanimidade, um coração grande e sem medo.
A eleição municipal se aproxima e, em breve, os eleitores paulistanos irão decidir em quem votar para os cargos de prefeito e de vereadores da maior cidade da América Latina com cerca de 11,4 milhões de habitantes (conforme dados do Censo do IBGE 2022), orçamento estimado pela prefeitura em R$ 111,8 bilhões para 2024, e na perspectiva católica, uma das três maiores arquidioceses do mundo. Não podemos lavar as mãos. Que em “companhia de Jesus”, sejamos construtores de pontes e não de muros!
Ótimo texto, colocando a importância da magnanimidade, a importância de não perseguir apenas grandes feitos, mas de agir com firmeza e generosidade nas pequenas ações cotidianas, saindo do individualismo para o bem comum. E que tarefa difil esta no mundo atual.
O chamado à construção de pontes, em vez de muros, é um lembrete poderoso sobre ter um papel fundamental na promoção do bem comum, e ter um papel político é com certeza um instrumento para isso.
Parabéns