O sacerdote não pode viver sem o confessionário, o “lugar santo” no qual a misericórdia de Deus se encontra com a fragilidade humana, comentava o Cardeal Beniamino Stella, Prefeito da Congregação para o Clero (atual Dicastério para o Clero), ao jornal L`Osservatore Romano, em 2016.
O mês de agosto, dedicado à reflexão e às orações pelas vocações cristãs, nos oferece um momento oportuno para extrairmos propósitos concretos desta bela expressão usada pelo Cardeal Stella para descrever a relação entre o sacerdócio católico e o confessionário: “Lugar santo no qual a misericórdia de Deus se encontra com a fragilidade humana”. Se o sacerdote não pode viver sem o confessionário no seu ministério, o que se dirá dos católicos sem a assistência do sacramento da Penitência?
São João Batista Maria Vianney – o Cura d`Ars –, patrono dos presbíteros e párocos, cuja festa litúrgica celebramos em 4 de agosto, sem dúvida é a expressão concreta do sacerdote que fez do confessionário o “lugar santo” para encontro das almas com a misericórdia divina. Por horas infindáveis, ele ouvia atentamente os fiéis e administrava o sacramento da Penitência.
Trabalhador do campo e com poucas qualidades intelectuais, João Maria Vianney percebeu que Deus o chamava a ser sacerdote. Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Graças à bondade e paciência do Padre Carlo Balley, seu pároco e preceptor, conseguiu penosamente terminar os estudos eclesiásticos e se ordenar em 1815, quando contava com 29 anos de idade.
Segundo critérios humanos, o Cura d`Ars era considerado de pouca valia em função da sua modesta capacidade intelectual e, por essa razão, foi encaminhado para uma paróquia tida na época como quase insignificante da Diocese de Lyon: um povoado de cerca de 230 habitantes chamado Ars. Após anos sem pároco, essa pequena comunidade estava “espiritualmente gelada”. No entanto, a piedade deste humilde sacerdote transformou-a em extraordinário centro de irradiação apostólica por toda a França e conhecida em toda a Europa.
A transformação ocorrida na vida de João Maria Vianney nos ensina que o padre participa das limitações e anseios da humanidade, mas, ao mesmo tempo, é alguém invadido pelo mistério de Deus. O sacerdote, dizia São Josemaría Escrivá, foi consagrado duas vezes para Deus: no Batismo, como todos os cristãos, e no sacramento da Ordem. Os seus tesouros são: a Palavra Divina na pregação; o Corpo e o Sangue de Cristo, que administra na Santa Missa e na Comunhão; e a graça de Deus nos sacramentos.
“O meu segredo é bem simples – dizia o Cura d´Ars –, é dar tudo e nada guardar”. Com uma vida desapegada dos bens materiais, ele amou os desvalidos e os mais simples. Entregou-se com coragem extraordinária ao púlpito e ao confessionário pela conversão dos pecadores. Sua catequese tinha uma constante preocupação de ser acessível até para os mais rudes, porém sempre com uma radical e filial fidelidade à Igreja e profunda sensibilidade pelos mistérios da fé católica.
O Cardeal Eugênio Sales dizia que “a vida cristã de uma sociedade tem íntima relação com os seus padres. A santidade destes promove e preserva a saúde espiritual e moral dos fiéis com enorme e transformadora repercussão nas estruturas sociais e econômicas”. O que o Cura d`Ars fez em sua paroquia é uma prova desta assertiva.
É o que devemos pedir ao Senhor que se possa dizer de cada sacerdote, pela sua santidade de vida, pela sua união com Deus, pela sua preocupação pelas almas. Mas, não somente aos padres, a todos Cristo deixou o mesmo mandamento: “Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito” (Mt 5,48). Ainda que, obviamente, dos sacerdotes se exige mais.
Recorramos a Maria Santíssima, Mãe de Deus, pelo Papa Francisco, por nosso Arcebispo, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, e por todos os sacerdotes. Que Nossa Senhora vele por esse lugar santo – o confessionário –, no qual a misericórdia de Deus se encontra com a fragilidade humana.