‘E quem é o meu próximo?’ (Lc 10,29)

“Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?” (Lc 10,25). Com essa pergunta levantada por um especialista da lei, Jesus nos ensina quem é o próximo. A parábola contada pelo evangelista Lucas nos faz olhar para o nosso mundo hoje e nos perguntarmos: Quem é o meu próximo?

O próximo é aquele que me interrompe, que me faz parar e repensar minha agenda. O próximo surge como uma interrupção: ele nos faz revisar nossos planos e abrir espaço para o inesperado.                                                                        

Todos os que passaram pelo caminho, na parábola do Bom Samaritano, estavam ocupados, mas ao encontrarem o próximo enfrentaram uma escolha — alguém surgiu, exigindo que alterassem suas prioridades, seus planos. 

Ter um irmão como próximo é, de certa forma, aceitar a interrupção. Uma vida sem essas interrupções é perigosa, porque quem não tem próximo vive em isolamento, na solidão. E esse isolamento pode se transformar em uma prisão. Talvez uma prisão espaçosa, mas, ainda assim, uma prisão.

O próximo é, ao mesmo tempo, uma interrupção e uma salvação. Se por um lado ele nos interrompe, por outro, ele nos resgata de nós mesmos. Enxergar o próximo nos ajuda a descobrir o melhor que temos para dar, a beleza da vida e da solidariedade. É raro alguém que, ocupado em ajudar o próximo, sofra de vazio ou solidão. 

Mas qual é, afinal, o sentido da vida? A resposta está em dar a vida. Como uma faca que encontra seu propósito ao cortar ou um martelo ao pregar, a vida humana também encontra sentido quando está em serviço. Deus colocou dentro de cada um de nós uma fonte de dons — nossos talentos, nossa vida, nosso amor, nosso tempo. Se não encontramos a quem entregar essa fonte, ela se acumula, tornando-se um peso, uma água que, em vez de fluir, acaba por nos afogar.

A verdadeira resposta e a grande salvação estão no ato de dar, no gesto de entrega. Quem se sente útil, quem percebe que está fazendo o bem, que faz a diferença na vida dos outros, encontra sentido para viver. 

No Evangelho do Bom Samaritano, um verbo se destaca:” Ver”. Ao ver o homem ferido, o sacerdote e o levita desviaram o caminho; viram, mas não se permitiram ser tocados. O samaritano, por outro lado, viu e se comoveu, e foi justamente isso que o fez parar. Eis a chave: precisamos ver de verdade aqueles que estão ao nosso redor, porque há muitos que, para nós, continuam invisíveis.

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