Quinze anos sem Dom Luciano e seu legado

Na sexta-feira passada, 27, completaram-se 15 anos que Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, então Arcebispo de Mariana (MG), faleceu após permanecer por cerca de um mês hospitalizado em São Paulo. A data é emblemática para o episcopado brasileiro, pois também marca as mortes de Dom Helder Câmara e de Dom José Maria Pires, outros grandes pastores que deixaram legados importantes para Igreja no Brasil.

Dom Luciano foi ordenado bispo na Catedral paulista em 2 de maio de 1976, tendo Dom Paulo Evaristo Arns como ordenante principal, e a Arquidiocese teve o privilégio de contar com ele no cargo de bispo auxiliar por 12 anos. Privilégio porque em vida foi reconhecido como santo, por ocasião de sua morte e sepultamento, a multidão que se juntou para dele se despedir, o aclamava como santo.

Ele percorria toda a Arquidiocese, mas por designação do Arcebispo, se dedicou sobretudo à região leste de São Paulo. Na Região Episcopal Belém, a sua memória ainda é muito viva, de modo que essa lembrança continua a edificar as comunidades e a animar várias entidades ligadas à assistência social ou de defesa dos direitos humanos, muitas dessas, nascidas por sua iniciativa pastoral.

Dom Luciano deixou o testemunho de uma vida dedicada, à exaustão, no empenho em ajudar os outros, sobretudo os pobres. O que tinha ou lhe era ofertado, não era para seu proveito próprio, mas para os necessitados, que assim, passaram a procurá-lo, a ponto de sempre estar rodeado por eles. As tentativas de ‘aliviá-lo’ dessa procura para poder dispor de tempo para si, foram prontamente recusadas por ele.

Por isso, com satisfação, Dom Luciano mesmo tendo as solicitações próprias de Bispo Auxiliar ou de Arcebispo ou de encargos importantes em esferas da Igreja como a CNBB, CELAM ou Santa Sé, gastava parte de seu tempo com os que a ele acorriam. E certamente o procuravam, não somente em busca de algo para suas necessidades materiais, mas pela acolhida carinhosa e alegre que encontravam no “Pai dos Pobres”, o que acontecia muitas vezes nas madrugadas, após dom Luciano cumprir sua agenda. Aliás, entre manter a pontualidade em um compromisso e a escuta ou auxílio a um de seus irmãos pobres, Dom Luciano não titubeava em parar e se entreter com aquele irmão ou irmã.

Com esse proceder, o seu lema episcopal “In nomine Jesu”, com naturalidade ganhou versão mais popular na pergunta, “Em que posso ajudar?”, que traduz muito bem seu modo de viver. Quem conviveu com Dom Luciano associa de imediato essa frase a ele.

Com tamanha sensibilidade e dotado de inteligência rara, Dom Luciano pôde oferecer um contributo que ultrapassou seus atendimentos pessoais às pessoas em situação de vulnerabilidade. Na Igreja, impulsionou o surgimento de pastorais como a do Menor, assim como o nascimento de várias instituições voltadas ao cuidado dos necessitados e dos seus direitos. E ao dialogar com autoridades civis, contribuiu para os poderes públicos assumirem a devida responsabilidade na questão e encontrar caminhos para o desenvolvimento de estruturas de apoio à parcela mais sofrida da população.

Pessoas como Dom Luciano, mesmo tão encarnadas na vida humana, agem imbuídas de uma perspectiva escatológica, pois se são admiráveis pela capacidade de tocar as feridas e misérias resultantes das injustiças e males, são igualmente capazes de tocar e traduzir o que é estritamente divino para esta realidade. Nesse sentido, Dom Luciano via um traço do céu na felicidade das pessoas, e se empenhava em ajudá-las a dissipar toda tristeza para alcançarem tal estado já aqui, nesse tempo fugidio.

Passados 15 anos da morte do Servo de Deus, Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, a Arquidiocese percebendo ainda muito viva a sua memória, elevou louvores e agradecimentos a Deus pelo dom de sua pessoa e pelo seu ministério episcopal, assim como pelo seu inestimável legado de pastoreio corroborado por encantador testemunho de caridade.

Na ocasião, também foram dirigidas súplicas a Deus pela sua beatificação, para que em breve, o “Pai dos Pobres” seja elevado aos altares, e todos possam alegres entoar: Dom Luciano, Rogai por nós!

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