3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 23 DE JANEIRO DE 2022
O Evangelho segundo São Lucas, que será lido aos domingos em 2022, tem como característica uma especial ênfase sobre o Espírito Santo. Já nos primeiros capítulos, o Paráclito é quem atua nos principais acontecimentos: vem sobre Maria Santíssima, para realizar a concepção virginal de Jesus (cf. 1,35); santifica São João no ventre materno (cf. 1,15); alegra Santa Isabel (cf. 1,41); inspira a profecia de Zacarias (cf. 1,67); move Simeão ao templo (cf. 2,25); e desce, em forma de pomba, sobre o Senhor no Batismo (cf. 3,22).
Cristo é retratado como Aquele que é “pleno do Espírito Santo”. É inclusive “conduzido ao deserto” por Ele, para ser tentado pelo diabo (cf. 4,1)! Neste domingo, narrando-nos o início da pregação pública do Senhor, São Lucas sublinhará uma vez mais que “Jesus voltou à Galileia com a força do Espírito Santo” (4,14). Toda essa ênfase no Espírito possui duas motivações principais.
A primeira é mostrar que Jesus é Aquele que é “Ungido” pelo Espírito divino, isto é, o Cristo esperado pelos israelitas! No Evangelho deste domingo, na sinagoga, Ele revela publicamente ser o Messias anunciado por Isaías: “‘O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres’. Hoje se cumpriu esta passagem” (cf. 4,18.21). Por isso, “todos tinham os olhos fixos Nele” (4,20).
A segunda motivação é mostrar que as palavras e ações de Jesus continuam a acontecer por meio da Igreja! No livro dos Atos dos Apóstolos, sequência de seu Evangelho, São Lucas mostrará que o mesmo Espírito que agia em Jesus foi derramado também sobre os Apóstolos em Pentecostes. Quando Pedro e os demais pregavam, curavam e viviam a caridade fraterna, faziam- -no com a força do mesmo Espírito. O Paráclito converteu os discípulos de homens retraídos por “medo dos judeus” (Jo 20,19) em verdadeiros apóstolos, em “testemunhas” de Cristo “de Jerusalém até os confins da terra” (At 1,8)
Ou seja, o mesmo Espírito Santo que agia em Jesus é quem move o Corpo de Cristo, que é a Igreja! Assim, compreendemos as palavras de São Paulo: “Todos nós fomos batizados num ú- nico Espírito, para formarmos um único corpo” (1Cor 12,13). Haver recebido o Espírito Santo e cultivar a Sua presença em nós é o que nos faz pertencer verdadeiramente à Igreja e nos permite realizar obras boas. Independentemente de onde estivermos, estamos unidos a Cristo, nos identificamos com Ele e podemos realizar as Suas obras, graças à presença do Espírito Santo.
O “Ano da graça do Senhor” continua por meio dos cristãos: “Para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos” (4,18). Por meio da Igreja, o Espírito de Cristo continua a perdoar os pecados, a doar a graça santificante e trazer a salvação eterna. Esta já se manifesta por meio dos frutos que o Paráclito produz nos fiéis: “Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gl 5,22-23).